sábado, 17 de dezembro de 2011

COIMBRA CIDADE DA HIPOCRISIA

Primeira Página


 O Diário de Coimbra de hoje noticia em primeira página: “Mensagem erótica deixa comandante em apuros – Câmara instaurou processo disciplinar a Euclides Santos por este ter enviado, por engano, e-mail de boas festas que tinha fotografias de mulheres despidas”. Antes de continuar, tenham lá paciência mas tenho de me desmanchar à gargalhada: eheheheheheheheh… eheheheheheheheheh… eheheheheheheheh… eheheheheheheheh!
Acreditem, estou a rir-me não de Euclides Santos, mas deste país, desta Coimbra, que me dá cabo da mioleira. Perante mais este triste caso, só me apetece exclamar: “ai, senhor, que mal fiz eu a Deus para merecer –ou levar nas bentas todos os dias- um país tão atrasado? Atrasado não, bacoco, pacóvio, retardado, frustrado, palerma, parvo, patego!”
Antes de continuar, vou lembrar um caso que se passou comigo. Há cerca de três anos fui contactado pelo administrador de um blogue para escrever na sua página. Não nos conhecíamos pessoalmente. Por certo ele caiu no meu por acaso, gostou e convidou-me a escrever no seu. Teria pesado a particularidade de ser natural da mesma zona, Luso, e escrever muitas “histórias da minha aldeia”. Sem que lhe pedisse, nomeou-me administrador do site. Durante mais de um ano publiquei em simultâneo para o “Questões Nacionais” e para o do requerente.
Tudo esteve bem até que, em Junho de 2009, escrevi um texto irónico e uma foto nua da Ana Malhoa, que, nessa altura, tinha saído numa revista. Postei no blogue de Luso e passado pouco tempo tinha desaparecido. Voltei a inseri-lo e desapareceu outra vez. Enviei um e-mail ao administrador a perguntar o que se passava e recebi a seguinte resposta: “desculpe eu ter apagado o seu texto, mas sabe, é demasiado avançado para os nossos leitores e, como recebi algumas reclamações, fui obrigado a eliminá-lo”. Naturalmente, plasmando uma crónica de despedida, nunca mais escrevi para lá. Agora veja-se o satírico, o homem escreveu, sozinho, mais quatro meses e hoje o blogue jaz abandonado desde Outubro de 2009. Ou seja, eram de tal modo importantes os leitores que os desprezou completamente. Sublinho que estou a referir-me a um homem com menos de 30 anos.
É assim o povo português. Reage hipocritamente, arranjando desculpas esfarrapadas. Temos imensos casos a envolver o sexo –esse gigante adamastor, mal resolvido, que mete medo a meia população portuguesa. Para exemplificar, conto uma história de há cerca de dois anos, em que a ASAE mandou encerrar uma loja erótica em Coimbra, sustentando-se em legislação de 1976. Mais recentemente, basta lembrar a polémica em Aveiro, no mercado do peixe, em que foram expostos dois falos gigantes. Deixo uma pergunta no ar: porque é que o sexo assusta tanto os portugueses? Será porque, até hoje e apesar da grande liberdade conquistada, ainda não se conseguiu ultrapassar os tabus e é assunto –de psiquiatria- que não se discute nas casas portuguesas?
Voltando ao caso em análise, como ressalva, falei duas ou três vezes com Euclides Santos. Pareceu-me um bom profissional, assertivo, que sabia o que queria para a força que comandava, e que conseguiu pacificar a Polícia Municipal. Então mais uma pergunta: faz sentido perder um bom comandante só porque enviou umas fotos de mulheres nuas? Especulando, em tempo de viragem e moda sexual, se calhar deveria ter enviado homens. Será por isso que ninguém lhe perdoa, e o querem crucificar para exemplo de todos os santos?
É ridículo, para não dizer abstruso, perder-se um bom funcionário público por um engano assente numas imagens quixotescas. Entende-se que o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Barbosa de Melo, mande instaurar um inquérito –um timoneiro de munícipes apatetados, para acalmar as hostes, tem de parecer igualmente ingénuo. O que não se compreenderá jamais é se este inquérito, a coberto de uma hipocrisia escandalosa, levar à demissão de Euclides Santos, ou, no limite, obrigar este a demitir-se. Se isso acontecer, em solidariedade, igualmente, deve demitir-se também Barbosa de Melo. Um presidente de uma autarquia, enquanto líder político, tem obrigação de estar muito à frente do pensamento comum –que nada tem a ver com bom senso. Se optar pela exoneração, ou aceitar a renúncia, pelo menos a mim, não serve como líder de todos os conimbricenses.


(TEXTO ENVIADO PARA CONHECIMENTO DA CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA)


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1 comentário:

Anónimo disse...

concordo com tudo o que diz! Abaixo a hipocrisia e o falso moralismo