quarta-feira, 7 de abril de 2010

ESTE É O MUNDO DA BAIXA






 Em 18 de Fevereiro escrevi, leia aqui, que um homem, a viver sozinho numa casa da Rua Paço do Conde, sofrendo de anomalia psíquica, arrastava-se pelos becos e vielas da Baixa com uma perna gangrenada e a exalar um odor pútrido por onde passava. Também em 19 de Fevereiro a carta em que chamava a atenção para este problema de saúde pública foi publicada no Diário de Coimbra.
A questão emergente é que o Jorge Álvaro, assim se chamava, não permitia qualquer intervenção mais aproximada pelo pessoal especializado da Cozinha Económica –entidade que muito valoriza o Centro Histórico, no esforço que desenvolve em prol dos mais carenciados.
Sei que na segunda semana de Março, leia aqui, os bombeiros, acompanhados da PSP, tentaram por todos os meios levá-lo para internamento. Porém, o Jorge Álvaro recusou-se a ir e nada puderam fazer.
Hoje, pelas 15 horas, uma vizinha, que me tinha pedido ajuda anteriormente, veio ter comigo a chorar: “está ver senhor Luís, não fizeram nada pelo pobre homem e, agora está lá a PSP para entrar em casa. Está lá morto desde Domingo. Que lei de saúde mental é esta, senhor Luís?”, e as lágrimas, em turbilhão, correm-lhe pela face enrugada pela tristeza.


NOTA DE RODAPÉ: Os dois agentes da PSP, presentes no local, fizeram tudo para impedir as fotografias. Um deles, exageradamente, até foi mais longe: de tom agressivo –só lhe faltou levantar a mão e agredir-me- sentenciou: “olhe que eu não quero a minha fotografia no jornal, está ouvir? Se amanhã sair a minha foto nós vamos ajustar contas! Está a ouvir?”, sempre em crescendo, como me quisesse bater.
Acontece que o agente que me ameaçou costuma fazer serviço aqui nas ruas estreitas e conhece-me muito bem. Tenho a certeza absoluta que ele sabe que escrevo, de vez em quando, para o Diário de Coimbra. Caso contrário não referia a possibilidade de vir no jornal.
Como salvaguarda, respondi -aos dois agentes- que este caso era de interesse público e, poderiam estar descansados que o seu rosto seria ocultado e não apareceria. O que me interessava era a notícia somente. Então interrogo: porquê aquela incomensurável agressividade toda? Talvez só ele saiba responder, e, naturalmente, responde individualmente, mas acontece que, vestindo a farda, representa uma instituição pública que ali, naquela rua, ficou muito mal na fotografia.
Foi muito desagradável e mau este acto comportamental deste agente policial. Uma testemunha que presenciou esta incompreensível atitude veio ter comigo e disse: “Ó senhor Luís porque é que o guarda estava tão irritado e a tratá-lo mal? Agora está lá a televisão e todos os jornais e ele já não se importa de aparecer? Que critérios moverão este agente da PSP?
Naquela agressividade mal contida, naquele excesso de zelo, eu senti como muitas vezes se dão conflitos entre agentes e cidadãos. É evidente que estamos perante um acto isolado e, apenas neste contexto, assim o devemos apreciar, mas confesso que fiquei deveras incomodado.
Não sei se o senhor Comandante da PSP lê ou não este blogue. Gostava muito que lesse este artigo. Se permite, talvez devesse dizer a este cívico que deve canalizar a sua agressividade no combate ao crime. Talvez devesse dizer a este senhor que o “trabalho” (entre aspas) que desempenho nas horas vagas e não só, é "pro bono" e reconhecido por muita gente como um serviço à comunidade. Deve ser encarado como participação cívica. Acredito que ele não goste e muitos mais não delirem com o que faço. Mas, embora não sendo jornalista, tenho a certeza absoluta que desempenho o meu papel com muita seriedade e responsabilidade. E mais ainda: não é pelas ameaças impróprias e fora de contexto deste homem, não é por uma acção de difamação agravada que tenho a correr no DIAP, que fará com que arrede caminho. Tenho muito cuidado com o que escrevo. Obviamente que posso falhar como qualquer um. Não persigo interesses pessoais, nem partidários, religiosos, ou outra coisa qualquer fulanizada. O que me move é a defesa de um centro histórico que está doente e, como o extinto retirado hoje, se nada se fizer individual e colectivamente, morrerá abandonado. O mais grave -e verdadeiramente é isso que me preocupa- é que nós, comerciantes e residentes, iremos atrás.
Continuarei, podem crer.

1 comentário:

Anónimo disse...

Como costumo dizer, até há hora da bucha, a coisa ainda vai, depois daí...
As atitudes ficam com quem as toma.