UMAS IMAGENS FORA DO CONTEXTO
Hoje as ruas da calçada até à Praça 8 de Maio, em virtude do centenário da abertura dos “Grandes Armazéns do Chiado” em Coimbra, estão em festa. Através dos trajes, das aclamações contra e a favor da Monarquia, podemos “sentir” o fervilhar da vida dessa época remota –não devemos esquecer que estes grandes armazéns, seguidores do congénere parisiense “Le Printemps”, abriram em Coimbra 6 meses antes da Proclamação da República, que viria a ocorrer em 5 de Outubro de 1910.
O que não se entende, com todo o respeito pelos vendedores, é como é que, tendo em atenção toda a recriação teatral na rua, se mudaram duas bancas de produtos orientais para o meio da artéria e junto às Escadas de Santiago.Estas bancas, no dia-a-dia, estão colocadas, mais em baixo, junto à Igreja de S. Tiago. Certamente, hoje, porque é dia de feira de velharias, transferiram-se, como sempre em dia de certame, estes vendedores para as ruas de cima. Acontece que, tendo em atenção à efeméride, deveriam ter feito o contrário. Estas bancas deveriam ter permanecido no mesmo lugar e os vendedores de velharias deveriam ter sido colocados ao longo das Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges. É óbvio que as antiguidades e velharias terão muito mais a ver com o centenário do Chiado do que o “artesanato” indiano.
Até porque, já o escrevi aqui, mais de uma vez –incluindo no Diário de Coimbra- a feira de velharias, que se realiza há cerca de uma vintena de anos sempre na Praça do Comércio, para crescer, e ser inclusivamente motor de desenvolvimento para a Baixa, deve alargar-se para as ruas limítrofes. Deveriam provocar um percurso pedonal a começar na Praça do Comércio, Rua de Sargento-mor, Largo da Portagem, Ruas da Calçada, Praça 8 de Maio, Rua da Louça, Largo do poço, Rua Eduardo Coelho, Largo da Freiria e entroncava novamente na praça velha. Esta belíssima feira, quanto a mim, está demasiada espartilhada naquele espaço. Sei que muitos vendedores, que conheço, não se deslocam para a cidade por causa da dificuldade em conseguir lugar de venda –e também porque os espaços, contrariamente a outros eventos do género, não são devidamente atribuídos com clareza. E fazendo com que muitos, para garantir um espaço, tenham de se colocar ali, nas primeiras horas da manhã, ao romper da aurora. As regras de atribuição de lugares devem ser claras e plasmadas no regulamento camarário já existente da feira. Cito as declarações de um vendedor, presente, a vender hoje neste espaço: “há alguns problemas aqui com alguns colegas. Fulano, sicrano e beltrano, vem para cá há cerca de dois três anos e ainda não têm lugar certo. Em contrapartida o filho de (…), que já vende aqui há vários anos, veio há meia dúzia de meses, e já tem lugar garantido. Isto está profundamente errado. Por acaso, comigo nem me chateiam muito, mas não está correcto! É certo que ninguém fica sem lugar, mas, a verdade é que tem de se andar ao “beija-mão”, enfatiza o vendedor de velharias.
Agora que o pelouro da cultura está atribuído a uma nova condutora, Maria José Azevedo, que sucedeu a Mário Nunes, era altura de pensar em rejuvenescer este importante certame da cidade. Ora, antes de tomar decisões, porque não fazer uma viagem a Aveiro e visitar a feira de velharias da cidade –que é quase sempre ao quarto Domingo e a seguir à de Coimbra, que é ao quarto Sábado. Este evento, de coisas e loisas antigas na cidade dos ovos-moles, é um exemplo de descentralização e crescimento. Localiza-se em toda a zona envolvente do Rossio e antiga praça do peixe. Senhora vereadora dê lá uma “saltadinha” e verifique como uma feira pode concorrer para a dinâmica e desenvolvimento de uma cidade. Verá também que à volta da feira, mesmo sendo Domingo, muito comércio está aberto, mas isso é outro assunto. Se calhar por lá os comerciantes estarão em crise. Não sei, digo eu…
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