(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)
Vítor Ramalho deixou um novo comentário na sua mensagem "DE QUEM TEM MEDO A ACIC?":
Achei o defendido muito interessante até porque é o que o PNR vem defendendo.
Se a ACIC não se apoia e apoia o comércio tradicional então mais uma vez vamos ficar em “águas de bacalhau”.
Mas se a ACIC não é solução cabe aos comerciantes unirem-se e encontrá-la.
Estamos cá como sempre estivemos para ajudar.
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NOTA DO REDACTOR: Começo por lhe agradecer o apoio. Em seguida, respondendo à sua dúvida, devo esclarecer:
1º-Sou um dos quatro comerciantes que propôs à ACIC um debate sobre o momento de extrema aflição que o comércio de rua está a passar;
2º-Entendo que embora a ACIC deva aceitar todos os apoios, venham eles de onde vierem, porém, não deve deixar partidarizar a questão. Enquanto instituição representativa de âmbito distrital do comércio de Coimbra deve liderar sempre tudo o que diga respeito ao comércio de rua;
3º-O problema, e daí ter escrito o texto, é que, quanto a mim, a ACIC –tal como outras associações a nível nacional- é uma estrutura pesada, pouco dinâmica. Os seus órgãos estão sempre muito preocupados pela ética institucional. Nunca querem partir um prato. Querem usar as mesmas armas que o poder político usa –ou seja, a argumentação. Até estaria certo se esse poder político respeitasse instituições com século e meio e com peso dos anos da ACIC. Acontece que não respeita. Ao longo da última década, os órgãos directivos –sobretudo o sector comercial-, num empenho sem precedentes, esforça-se por ser ouvido. Anda de Seca para Meca. Mas ninguém os ouve. Ou melhor, fazem que ouvem mas não ligam. E esta situação é transversal ao país.
Então acontece que, há uma década, os órgãos encarregues de defender o comércio tradicional andam a mendigar medidas ao poder político. E aqui estou a referir-me particularmente à Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, que tendo assento no Conselho de Concertação Social nunca bateu com a mão aberta em cima da mesa e fez voar os papéis em cima dela colocada. E porquê? Porque quem vai para esta posição –incluindo os líderes das associações nacionais-, verdadeiramente o que estão mais interessados é no protagonismo individual e pouco em defender a classe comercial para que foram eleitos. Mais ainda: há muito que todos os líderes associativos deveriam estar salvaguardados pelo princípio da protecção pública, como estão por exemplo, os deputados e todos os edis nacionais;
4º-Hoje as associações debatem-se com graves problemas. Começam logo pela falta de fundos para encetarem acções visíveis que dêem no olho aos associados. Em seguida têm extrema dificuldade em mobilizar um associado amorfo e acomodado que desconfia profundamente da sua acção de defesa e que acha que, contrariamente à sua génese –devendo ser antipoder estabelecido- alinha em conluio com o poder local. Isto é, partidarizando a sua acção, ao mesmo tempo que está sempre a estender a mão. Como quem diz, empregando um velho aforismo: “não é com vinagre que se apanham moscas”. A ACIC, na última década, teve uma experiência neste capítulo que foi desastrosa. A história ainda está para se escrever. Mas foi um anátema que dificilmente desaparecerá nas próximas décadas.
Nos últimos anos, fruto do pouco poder mobilizador, tanto do associado como da associação, o número de sócios têm vindo a decrescer enormemente. O que, na prática, se traduz em menos verbas e menos representatividade;
5º-Voltando ao texto que escrevi sobre o título em epígrafe, é precisamente pelos motivos que invoco no número anterior que esta associação, tal como o poder político, anda a reboque dos acontecimentos. Só acorda tardiamente para os problemas e quando já pouco há a fazer. E mais: se for alertada por “estranhos”, isto é, não associados, está sempre de pé atrás, como se perguntasse: “o que quer este? O que o move? Que interesses procura?”. Aliás, se reparar, são as mesmas interrogações que o poder político institucionalizado faz aos cidadãos. Por um lado, constitucionalmente, apela à sua participação política, mas, por outro, ou não lhe liga ou desconfia dele;
6º-Quanto a mim, e tentando justificar o que me levou a escrever o texto, penso que a ACIC, numa primeira fase, aproveita as ideias dos quatro comerciantes –até porque lhe convém passar a ideia de que é uma estrutura descentralizada. Embora, diga-se que verdadeiramente está pouco interessada em abrir horizontes.
Porque tem de se dizer: uma associação de classe é sempre proporcional ao conhecimento e abertura dos seus associados. Por outras palavras: se o grau de abertura dos associados a novos horários e uma percepção do mundo moderno é nula, como pode uma corporação defender o contrário? Lá poder podia e devia, mas, confesso, é extremamente difícil remar contra a maré. Então o resultado é este.
Numa segunda fase, já depois de ter aproveitado a ideia, chamando-a completamente a si, abandona completamente quem a gerou.
E porque é que acontece isto? Resume-se numa palavra: medo. E medo de quê, Interrogamos? Daquilo que não se conhece. Vai dar à tal interrogação: o que os move? Será que nos querem derrubar? Será que querem passar por cima de nós?
O medo, meu amigo, é verdadeiramente o vírus de destruição da humanidade.
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