sábado, 22 de novembro de 2008

UM SÉCULO POR UMA VIDA





Corria o ano de mil novecentos e oito,
na aldeia de Barrô,
um casal, alto, gritou,
o homem estava afoito;
Em Novembro a mulher gemia,
o homem não parava,
a parteira conciliava,
uma criança nascia;
Depois foi o baptizado,
crescer na indiferença,
onde a fome sem licença
entrava em qualquer lado;
De criança até mulher,
foi como um raio solar,
uma aragem a soprar,
a guerra que se não quer;
Era o orgulho da família,
uma rosa perfumada,
seguida por tudo e nada,
assim era a Lucília;
Chamavam-lhe “malhadiça”,
por saber o que queria,
em conversa ela não ia,
foi escolher à Vacariça;
Tinha então vinte e tal mais,
era recto como um fuso,
casou então no Luso,
nos braços de José Morais;
Amava-o perdidamente,
três filhos pariu na vida,
um deles foi de partida,
dois ficaram para semente;
Veio uma outra guerra do mar,
notícias para esquecer,
quase dava para morrer,
mas era preciso lutar;
Sem medo foi à aventura,
na procura timoneira,
foi mãe, foi cozinheira,
na miséria e na fartura;
Conheceu a democracia,
a empalhar um garrafão,
ainda tem na mesma mão,
os calos da utopia;
No século que ainda a choca,
olha todos a troçar,
até parece adivinhar,
a inveja que provoca.
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