sexta-feira, 28 de novembro de 2008

QUEM AJUDA A RUA ADELINO VEIGA?

(ESTA É A TENDA QUE ESTÁ A SER MONTADA NA PRAÇA DO COMÉRCIO)




O Estado numa intencional poupança de meios, tem vindo, nos últimos anos como se sabe, a desencadear instrumentos legais ao seu alcance, como por exemplo os Códigos de Processo e Penal, de modo a diminuir as penas em cativeiro, e sobretudo desvalorizando progressivamente os atentados contra a propriedade. Ainda que faça crer nos propalados princípios subjacentes de recuperação social do delinquente e no acentuar do objecto factual de prova, a verdade é que a comunidade sente que tais medidas visam unicamente o economicismo do Estado.
Pode até ser um argumento facilmente rebatível, mas uma coisa parece real a sociedade portuguesa, em crescendo, tem vindo a tornar-se cada vez mais violenta. Poderíamos falar em vários crimes contra a integridade de pessoas, tais como a violência doméstica, agressões físicas simples, pedofilia, violações sexuais, homicídios, etc. No tocante à propriedade, constatamos facilmente o aumento desmesurado do furto simples, do roubo por esticão, dos assaltos por intrusão, o “carjaking”, assaltos a bancos, a postos de combustível, etc.
Então, e aqui é que reside o paradoxo da questão, por um lado as medidas preventivas, através de mais policiamento nas ruas, quer fardado, quer à civil, de investigação, é cada vez menos visível e menor. No entanto, apesar desta constatação óbvia, os comandantes das forças policiais, como se fossem políticos, tentando tapar o sol com a peneira, estão constantemente a atirar-nos com números estatísticos –que, pela nossa experiência, poderemos facilmente duvidar- e a tentar fazer-nos crer que a delinquência baixou.
Por outro lado, e aqui reside o grave da questão, se todos sentimos o agravar da delinquência e, dia-após-dia, cada vez mais inseguros, como entender as medidas legislativas no sentido da desvalorização das penas a aplicar ao prevaricador?
Escrevi esta longa introdução porque hoje fiquei boquiaberto. Como se sabe está a ser montada uma tenda de gelo na Praça do Comércio. Este projecto é da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, que visa revitalizar o movimento de pessoas nesta zona histórica. Irá funcionar, diariamente, até à meia-noite, entre 01 de Dezembro e 05 de Janeiro próximo.
Porque, e apesar das nossas discordâncias, entendo o esforço que está a ser desenvolvido para trazer pessoas à Baixa e fazer renascer a esperança numa classe que está quase completamente anoréctica na motivação. Na tentativa de sensibilização para que os comerciantes estejam abertos até mais tarde, durante o mês de Dezembro, tenho falado e pedido o apoio dos colegas. Já o escrevi anteriormente, para minha surpresa quase todos estão receptivos e entendem que é preciso mudar e lutar para que a situação mude.
Hoje calhou a vez da Rua Adelino Veiga. Falei com vários lojistas desta artéria e para, meu espanto, fiquei a saber que vários estabelecimentos encerram, diariamente, antes das 19 horas. Transcrevo as declarações de um lojista: “o quê?, você pede-me para eu estar aberto depois das 19 horas? Homem, eu encerro às 18,30, porque depois dessa hora esta rua transforma-se numa via livre de tóxico-dependentes e prostitutas. Eu tenho receio de estar aqui. Sinceramente, até gostava, mas quem garante a minha segurança?”.
Este receio foi-me transmitido por vários comerciantes daquela outrora rua tão movimentada da Baixa de Coimbra.
Deixo uma pergunta no ar: como é possível, nos dias que correm acontecer uma coisa destas numa cidade como Coimbra?

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