segunda-feira, 17 de novembro de 2008

RESPOSTA A UM COMENTÁRIO



Daniel deixou um novo comentário na sua mensagem "PIOR CEGO É O QUE NÃO QUER VER":

"Talvez a intenção seja passar ao público uma imagem de segurança de modo a não afastar clientes, tentando depois resolver com as autoridades o problema.. Ou então sou eu que sou optimista..."



Publicada por Daniel em Questões Nacionais a 15 de Novembro de 2008 18:15



DESMASCARAR O REAL

Muito obrigado, Daniel, por ter comentado o “post”.
Numa primeira, fase somos levados a pensar assim. E, em boa verdade, numa lógica formal, assim deveria ser. Confesso que mesmo defendendo uma tese –que mais à frente explicitarei- tenho dificuldade em entender o comportamento das direcções da ACIC (Associação Comercial e Industrial de Coimbra) e da APBC (Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra), respectivamente instituições vocacionadas para a defesa da Baixa e do seu tecido comercial.
No que vou escrever a seguir não gostaria de ser entendido como inflexível-obsessivo-compulsivo na defesa dos meus argumentos. Não acredito em verdades absolutas. Acredito sim em verdades relativas, o que quer dizer que entre o que eu escrevo, e defendo, e o que os meus opositores argumentam, ambos poderemos ter razão. Embora, saliento, que, convictamente, não abdico dos meus pontos de vista.
Vou começar por apresentar o começo dos factos para melhor compreensão:
A partir de Julho do ano passado, a Baixa começou a ser vítima continuada de vários assaltos durante a noite. Foram estabelecimentos comerciais, foram consultórios e casas particulares. Na mesma noite, chegaram a ser “visitadas” várias lojas, com rebentamento de montras e portas. Numa apatia inexplicável, pelo menos para mim, todos encaravam estes factos anómalos como algo inevitável que tínhamos de nos habituar. Perante as constantes notícias nos jornais diários da cidade, os lesados sofriam os danos sem protesto, pelo menos visível socialmente. Em Setembro, quando confrontados com esta anormalidade social pela imprensa, o Governador-Civil aconselhava o presidente da Câmara Municipal a recorrer a guardas-nocturnos, este, negando tal recurso, referia publicamente que a defesa da cidade cabia por inteiro à Polícia de Segurança Pública (PSP) e o comando desta força policial, na imprensa de Setembro de 2007, anunciava que, para além de possuir poucos meios humanos, cabia aos comerciantes dotarem os seus estabelecimentos de meios de defesa, tais como, alarmes e grades de ferro. Apesar de alguns estabelecimentos terem sido assaltados múltiplas vezes (por exemplo a “Tasca da Graça”, só no mesmo mês de Setembro, já tinha sido assaltada três vezes), da ACIC ou APBC nunca se leu nos jornais um sentimento de preocupação com estas pessoas. Muito menos algum director de qualquer uma destas instituições se deu ao incómodo de ter ido manifestar solidariedade a alguns dos assaltados.
Perante esta aparente bonomia das instituições, como eu também já tinha sido “visitado” uma vez, com um prejuízo de cerca de 3.000euros, fui falar pessoalmente com o senhor presidente da APBC e também, à altura, director da ACIC e dei-lhe conta das minhas preocupações, sobretudo que a situação era insustentável. Por outro lado, tentei mostrar-lhe a necessidade de intervenção pública, no pugnar de meios efectivos, na defesa dos comerciantes lesados, por parte das instituições em que era membro da direcção. Adverti-o de que caso não o fizesse eu tomaria providências, e chamaria a mim a defesa do problema. Salientei, sublinhando, o facto de que deveriam ser as instituições (ACIC e APBC) a liderar o processo. Se aparecesse um particular a reivindicar soluções era evidente que tal manifestação iria assombrá-las e mostrar claramente ao público a sua apatia e ineficácia. Respondeu o visado: “faz o que quiseres. Eu não farei nada publicamente para dar a conhecer os assaltos na Baixa”. Mostrou total aversão ao facto de se dar a conhecer ao público em geral e, em particular, na imprensa. Referiu que tais notícias quando “escarrapachadas” nos jornais eram muito prejudiciais à Baixa, “afastava ainda mais as pessoas, pelo sentimento de insegurança que causava nos leitores”. Quando lhe perguntei se, perante os imensos crimes e a instabilidade física e psíquica que causava aos lesados, a seu ver, se deveria estar calado, ou seja, os prejudicados não deveriam noticiar os factos na imprensa, aquele dirigente enumerou as várias reuniões havidas com a administração encarregue da segurança da urbe e ainda outras que estavam programadas proximamente.
No dia 1 de Outubro de 2007, perante a Assembleia Municipal, denunciei o que considerei uma descarada omissão das instituições responsáveis pela segurança dos munícipes, na prevenção e no combate ao crime contra o património. Exceptuando o presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu, este hemiciclo não reagiu.
Como perto de mim, durante várias noites, dois comerciantes dormiram dentro dos estabelecimentos acompanhados de caçadeiras, na assembleia, aflui este facto. A imprensa imediatamente pegou no título: “comerciantes da Baixa dormem armados nos estabelecimentos”. Estava lançado o rastilho para que a insegurança passasse a ser o tema da semana. Porque quer queiramos quer não, infelizmente, os políticos andam a “toque de caixa”, na batida rítmica, do “quarto poder” que é a imprensa. Repito, mais uma vez, infelizmente, esta é a realidade e não vale a pena escamoteá-la.
No dia 5 de Outubro, feriado Nacional, do mesmo ano de 2007, a Dona Graça, contabilizava já o quinto assalto, e, naturalmente, a ficar com os cabelos em pé e, psiquicamente, a entrar em descompensação. Nesse dia, o empreiteiro responsável pela obra ao lado, juntamente com mais pessoal, ao que parece, unilateralmente, decidiu deslocar um entaipado e estreitar-lhe a passagem para a sua pequena taberna. Ou seja, “a Tasca”, ao ficar mais escondida, ficava ainda mais à mercê de futuros assaltos. Vai daí, quando a senhora, profissional de hotelaria, que é uma pessoa cordata e calma, se apercebeu do “lance”, pediu ao pedreiro-responsável que parasse com aquela intenção. O homem, certamente habituado a fazer “ouvidos de mercador”, com a rebarbadora ligada na mão, continuou como se nada fosse com ele. A dona Graça, naquelas transformações que só a Psico-sociologia explica, como “padeira de Aljubarrota” a defender o que é seu, não foi de meias medidas, num relance, retira a rebarbadora das mãos do homem e, num daqueles gritos desesperados de tudo ou nada, ordena: “ou vocês param ou morrem!”.
Como sou amigo e cliente, e estava próximo, ao ver o desvario da esposa, o marido ligou-me em aflição: “senhor Luís, por favor ajude-me que a minha Graça está prestes a cometer uma desgraça”. Quando cheguei, já os pedreiros tinham abandonado a obra e a Dona Graça chorava copiosamente abraçada ao marido.
Pode até parecer que eu, propositadamente, nesta descrição, estou armado em herói. Mas, uma coisa posso afirmar, perante aquele quadro triste, eu tomei ali mesmo uma decisão: tinha que fazer alguma coisa. Era minha obrigação, perante a injustiça que aquela senhora estava a ser vítima e levar aquele caso ao conhecimento público. A meu ver, antes que desse em mortes.
No dia seguinte inscrevi-me para a sessão pública do executivo e, passada uma semana, perante o presidente da Câmara e os vereadores da oposição, de uma forma emotiva, contei o que se tinha passado. Tal como na Assembleia Municipal, reiterei esta omissa forma local de lidar com os problemas de cada um e considerei uma vergonha. No dia seguinte “a rebarbadora nas mãos da “padeira de Aljubarrota”, para defender o que era seu, foi notícia em tudo quanto foi jornal e televisão.
Acredite-se ou não, em escassas quatro semanas o problema foi resolvido pela PSP. Esta polícia intensificou a vigilância, através de policiamento nocturno e de brigadas à civil e foram constituídos vários arguidos, entre eles uma receptadora.
Foi coincidência, pela intensificação dos “média”? Não sei! Deixo esse juízo de valor ao critério de cada um. Uma coisa posso garantir: estou a contar tudo como se passou.
No tocante aos assaltos, a coisa serenou, mas não se apagou a chama completamente. Foram acontecendo, infelizmente, com a “normalidade” que se conhece em toda a cidade e no restante país. Ou seja, gradualmente, a criminalidade recomeçou em crescendo.
A partir de Janeiro deste ano de 2008, praticamente a PSP desapareceu da Baixa da cidade. Paulatinamente os assaltos foram acontecendo. Embora menos acutilantes que em 2007, mas sempre em crescendo. Um assalto aqui, outro ali, mais uma montra partida acolá.
Na parte que me toca, em Maio, fui assaltado, durante a noite, violentamente, com quebra de vidros e rebentamento de grades de protecção. Em meados do mês de Outubro voltei a ser invadido por alguém que desconheço. Novamente, para além do forçar da grade de ferro, foi quebrada a porta em vidro, e, novamente, levados mais uns trocos da caixa e umas peças que estavam mais à mão.
Num filme que já conhecia, e que acabei de contar o enredo, durante este ano de 2008, para além dos imensos assaltos, inúmeras casas “históricas” encerraram na Baixa. Posso garantir que foram mais de cinquenta. Ora, num “dejá vù” conhecido, continuei a assistir à total passividade da ACIC e APBC.
Depois deste longo explanar, em jeito de balanço, pensará o amigo Daniel: “pois é isso mesmo, eu estava mesmo certo, estas instituições (ACIC e APBC) preferem agir nos gabinetes a reivindicar medidas”.
A esta conclusão, replico eu: E nós, os lesados, como ficamos? Continuamos a ser assaltados alegremente e, numa espécie de “espera de quem nunca prometeu aparecer”, devemos continuar a aguardar “ad eternum” que se faça alguma coisa?
Claro que aqui, tenho de confessar um pré-conceito: eu não acredito nestas pessoas. Nem nos directores da ACIC nem da APBC, nem nos políticos que nos regem localmente, nem no Comandante da PSP. É duro de ouvir? É a verdade, e, como tal, não tenho outra. Acho que, a seu modo, todos “sacodem a água do capote”.
Os dirigentes associativos, numa perversão moral, numa promiscuidade crescente, divididos entre o interesse pessoal imediato e futuro, em que o partidarismo tomou conta dos seus actos, perante os seus associados, fazem “de conta que fazem”; os políticos locais, num completo desinteresse pelo centro histórico, vão passando a bola entre o governo e a oposição entre si; e o Comandante da Polícia, cerceado, entre a limitação dos Códigos de Processo e Penal e a falta de meios humanos, numa espécie de gravitação no vazio, dizendo que está tudo bem, que a delinquência até baixou em relação ao ano anterior, vai parecendo que ri, quando lhe apetece chorar. Um dia destes escreverei, o que considero, a má gestão de recursos existentes nas esquadras, onde os cívicos deveriam ser substituídos por pessoal civil, onde existem numa messe quatro polícias-cozinheiros, meia dúzia de polícias-mecânicos nas oficinas, etc., mas isso é outro assunto.
Eu sei que estou a abusar, mas ainda lhe digo mais: no tocante aos dirigentes associativos, é minha convicção de que estes tentam abafar os assaltos directamente por dois motivos: o medo e o interesse.
O primeiro motivo, o “medo”, considero –admito estar completamente enganado- que, contrariamente ao que apregoam –de que se as pessoas souberem que há insegurança na Baixa não virão cá-, não será verdadeiramente esse o seu “medo”. Numa completa especulação, estou em crer que o seu “medo” reside no facto de pensarem que, a saber-se da insegurança, os seus estabelecimentos desvalorizam completamente e, neste clima, não conseguirão aliená-los. Porque, acredite-se ou não, a Baixa está toda à venda.
No tocante ao interesse, já o disse em cima, receiam que, como uma praga de Nemátodo pode desvalorizar completamente toda a floresta da família das Pináceas, também aqui a verdade pode ser catastrófica. Então, por analogia metafórica, ao invés de combater a praga, reivindicando meios eficazes, para salvar os comerciantes que ainda vão conseguindo resistir, num conluio, para mim inexplicável, parecem preferir a ocultação e o abandono dos “entes” contagiados pela infelicidade da “doença”.
Sou louco ao pensar assim? Ou estou armado em psicanalista? Sinceramente, nem eu sei. Mas uma destas deve ser.
Utilizando expressões da Psicanálise, e armado em douto do saber da mente, lembro que o trabalho do psicanalista é, como num jogo de espelhos de várias verdades, numa luta sem tréguas, num desbravar de aparentes argumentos lógicos, conseguir desmascarar o real.
Se pensam que isso é fácil, desenganem-se. Desmascarar o real cria uma extrema angústia.
No tocante à loucura, porque não será despicienda, tenham em conta que o “médico” facilmente pode virar paciente. Com a maior das possibilidades, nesta procura da verdade, pode ser acometido de uma neurose obsessiva.

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