sexta-feira, 21 de novembro de 2008
AS ILUMINAÇÕES DA DISCÓRDIA (1)
Para que conste para história, e servindo de introdução ao que vou contar, até porque, pode não parecer, mas esforço-me tremendamente para ser justo nas minhas apreciações. Sei que por mais que “transpire”, dentro da minha subjectividade, nunca o conseguirei. E porquê? Porque para isso deveria ter sempre acesso “à outra parte”, aquela que é focada, muitas vezes acusada sem possibilidades de defesa. Para esse contraditório, sempre que me é possível, sobretudo quando não se trata de pessoas “enclausuradas” num pedestal –refíro-me aos políticos, obviamente- eu vou lá, ou telefono, para ouvir a sua versão, antes de escrever aqui o que quer que seja. Quando se trata de pessoas a ocuparem cargos políticos, é lógico que não posso fazer isso. Se o fizesse, até se riam da minha ingenuidade. Não me é difícil adivinhar o seu ar de gozo: “ o senhor é de onde, de quê? Questões Nacionais…quê? Um blogue?...Não, não sei o que isso é! Além disso, não leio blogues, exceptuando o dos meu filhos!”.
Continuando a minha explanação, dizia eu cima, para que conste para a história, até 2002, no consulado do anterior presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, as iluminações natalícias, de rua a rua, eram da inteira responsabilidade dos comerciantes dessas artérias. Posso afirmá-lo, era extremamente complicado. Ou melhor, era penoso. Normalmente, havia sempre dois ou três “carolas” –todos os anos sempre os mesmos- que, com prejuízo das suas vidas, se disponibilizavam a contribuir para enfeitar as suas ruas no período de Natal. Tinha de se andar de loja em loja a “pedinchar” para se arranjar uma verba que servisse minimamente para fazer uma decoração razoável. Uns davam uma verba, outros prometiam dar e depois dos arcos colocados não davam…porque não gostavam. Outros, duma forma descarada, diziam que as ornamentações natalícias não faziam falta nenhuma, embora, como se sabe, no fim usufruíam todos da alegoria. Depois, acontecia uma coisa engraçada, como as verbas doadas eram díspares, dentro das possibilidades de cada um, quase sempre, os que davam menos eram os primeiros a apontar o dedo à “comissão de festas”. “Que estava uma porcaria, que não estava nada de jeito, etc”. Ou seja, os “desgraçados” que tomavam a seu cargo os enfeites da rua estavam sempre tramados. Como se deve calcular havia ruas que não eram iluminadas.
A partir de 2002, com a subida deste executivo de coligação PSD, e, honra lhe seja feita, foi o então vice-presidente da autarquia, Pina Prata, e, à mesma altura, presidente da ACIC, quem conhecendo, melhor do que ninguém, as dificuldades destes D. Quixotes, chamou a si, como quem diz à câmara, o planeamento e o custo das ornamentações de Natal. Saliento que noutras cidades do país tal prática era corrente há muitos anos.
Com esta centralização, se por um lado se acabaram as dificuldades de verbas, por outro, como é hábito, criaram-se outros problemas.
A Baixa, para quem não sabe, é como uma grande família com dois filhos. Um, o varão, o mais velho, interessado, polido, lustroso, bem sucedido, e muito bem relacionado. É o “espelho” das esperanças do pai. O filho mais novo, inseguro, franzino, desinteressado, enfezado, e, ainda por cima, faz-se acompanhar de más-companhias.
Explicando a metáfora, na Baixa, o “filho-varão” é o Largo da Portagem, Ruas Ferreira Borges, Visconde da luz, Praça 8 de Maio e Rua da Sofia.
Continuando a representação simbólica, o “filho enfezado” é toda a zona limítrofe, constituída pelos largos, becos, ruelas, ruas estreitas e até a Avenida Fernão de Magalhães. Se perguntarem a qualquer um comerciante desta zona verão que assim é. Devo esclarecer que este “complexo de Édipo” –considerando a autarquia o pai e a justiça a mãe- já vem de longe, não é de agora, embora nos últimos anos aumentasse este sentimento de discriminação.
Claro que a partir de 2002, este complexo Freudiano acentuou-se em relação às iluminações de Natal. Por mais que o pai (autarquia) tente mostrar que, em relação aos dois filhos (Baixa e baixinha), é justo e equitativo na distribuição, a baixinha não acredita na isenção do progenitor e considera-o um obstáculo para chegar à mãe justiça.
E porquê? Porque nestas artérias principais assiste-se a uma iluminação de luxo e nas outras artérias estreitas é assim um enfeitar por enfeitar. Para quem cá vive e convive é um contentamento descontente. Como se isso não chegasse, há Largos, com várias lojas, que nem um simples arco de luzes merecem. Pode até concluir-se que os critérios por mais justos que tentem ser serão sempre injustos para alguém. Nunca se pode agradar a gregos e a troianos. É verdade, mas…não há fumo sem fogo.
O que quero dizer é que os juízos de valor ficarão sempre no livre arbítrio de quem se julgar lesado.
Digo também que é obrigação institucional da autarquia ouvir qualquer um munícipe que se sinta lesado, quer nestas questões natalícias, quer noutras quaisquer. E na apreciação do problema, ao escutar os queixumes não deve partir de conceitos apriorísticos, se assim fizer, corre o risco de, para além de não corresponder ao apelo, ser injusto. E mais: para além da frustração de não ver os seus anseios resolvidos, cria no requerente um sentimento de antipatia.
Veja bem o que escrevi para contar a história que virá a seguir. Você, leitor, tem mesmo de ter pachorra…
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