À PROCURA DA FELICIDADE
Quando, como tonto, passeio por aí,
Olho as árvores, prenhas do chilrear das aves,
é uma banda desafinada, uns tocam em Dó, outros em Si,
deste caos ruidoso, sai uma ordem, uma harmonia,
como se não fizesse sentido a escala de sons, a clave;
será que a natureza, bucólica ou intempestiva, é sintonia?
O que fará tão felizes os passarinhos? Darão graças por viver?
Pergunto, a mim próprio, em surdina, será isto a felicidade?
O rico, o remediado, o pobre, por ela vivem, sofrem, será uma utupia,
felicidade para aqui, felicidade para ali, é um verbo de encher;
É um vernáculo, uma frase meia feita, à medida, um rifão,
que se fala, por falar, como dizer:”até amanhã se Deus quiser”,
“eu só preciso ser feliz”, diz o rico, de barriga avantajada,
“felicidade era eu ser milionário”, diz o pobre, rebuscando um tostão,
“se mantiver o que tenho, sou feliz”, pensa o remediado, de cara preocupada;
“Eu para ser mesmo, mesmo feliz, diz a idosa, só preciso de uma televisão”,
“Ká p’ra moi, um popó, boa mesada, um telemóvel e tenho tudo”, pensa o adolescente,
“o que preciso, diz o pai, é duma casa na praia, um barquito e um bom carrão”,
“filhos da abastança, basta-me uma novela”, retorqui a dona de casa desesperadamente;
“Materialistas, infelizes, ó corruptos nascidos dos anseios económicos”- grita a beata:
“Senhor tende piedade destas almas tresmalhadas, que só reivindicam, nada dão”,
“só queria ver, diz o cego, pouco importa o dinheiro; a felicidade, o raio que a parta”,
Pensa o pássaro: “tomem Prozac, embriaguem-se e embrulhem-se na globalização.
LUIS FERNANDES
(COIMBRA)
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