sexta-feira, 29 de junho de 2007

A DIALÉCTICA DO VAZIO




  Os Jornais nacionais, quer diários, quer semanários, transversalmente, apostam todos na opinião dos políticos partidarizados. Ou seja, a sua opinião é, como diria José Gil, uma não inscrição, sendo mais claro, é uma não opinião do próprio, mas sim a opinião da doutrina do partido, ou nalguns casos, é um discurso de subserviência ao líder nacional ou regional. Assim como, na maioria das vezes, se percebe, é um discurso visando sempre o seu interesse pessoal a médio e a longo prazo. Estes discursos que, estou em crer, a maioria dos leitores não lê, são uma espécie de continuação programática dos partidos políticos. São ricos nas “trincas” e normalmente nunca trazem nada de novo. São uma espécie de chover no molhado, uma projecção da Assembleia da República, uma continuação do discurso balofo e vazio de conteúdo.
Ora, assim sendo, é pertinente a pergunta, porque continua a apostar a imprensa escrita em “opinions makers”, quando essa opinião é condicionada pelo peso partidário?
Não estará a imprensa a ser servil e, com esse servilismo, a prestar um mau serviço aos seus leitores? Pessoalmente, penso que sim. Porque não apostam em comentadores independentes que, certamente dariam uma visão menos redutivista das questões em apreço? É que evitavam, ao leitor, um exercício mental de, à medida que vai avançando no texto, ter que que ir descontando, não levando em conta , certos pontos de vista. Parecendo, por analogia, como se estivéssemos a fazer compras em Marrocos e à medida que o vendedor avança um preço, mentalmente, vamos pensando quanto vale a sua afirmação, para lhe oferecer metade do valor pedido.
Claro que poderá dizer, e bem, o meu leitor, que também é o caso da televisão, sobretudo os canais estatais. Por muito bons que sejam os fazedores de opinião –e aqui estou a lembrar-me de Marcelo Rebelo de Sousa- a sua convicção, sem exclusão do receio de errar, apesar de ser uma argumentação brilhante, tentando a todo o custo mostrar que é independente, a verdade é que é sempre, a meu ver, tendenciosa. É inevitável. Se partirmos do princípio de que nenhum humano será, intrinsecamente, independente, todos dependemos de algo e, sobretudo, das nossas referências anteriores e do meio que nos cerca, como o poderá ser um “animal político”? Sem dúvida que será através da abstracção, quem o conseguir na totalidade, que, nessa imanência, se atingirá esse tão pretendido estado de independência mental. Por tudo isso, pode-se esperar independência de um servidor de um partido político, quando, pelo que se vê, o que todos os correlegionários pretendem é agradar ao chefe para que este, numa próxima eleição, o coloque em lugar elegível?!
Lembrei-me de escrever este texto ao ler uma crónica de hoje, dia 29 de Junho, no Diário as Beiras, de Paulo Penedos, com o Título: “Que Estratégia para Coimbra?”.
É simplesmente deprimente ler este texto “déjà vu”. O facto de não trazer nada de novo, o bater no ceguinho, o mais de mais, do menos menos, a que estas cabeças pensantes nos habituaram. É deplorável, porque falamos de um político jovem, que, em princípio deveria trazer uma frescura nova…se conseguisse ser independente. Isto é, se conseguisse pensar pela sua própria cabeça. Só que não consegue, pelo menos nesta crónica não. E assim, em resumo, perdemos todos; os jornais porque fazem um frete ao político, estes políticos partidários porque fazem um carrego ao político-mor e os leitores fazem um fretamento ao terem de pagar um frete para servir outros fretes.

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