OLHAR O CÉU E NÃO VER
Olhei para cima não vi Deus,
Depois de me teres mandado olhar,
Vi-me nas nuvens, a cavalo, a andar, andar,
num movimento, de tropel, ouvi sons que eram meus
alguém gritava, alguém chorava; os gritos eram teus e meus;
Olho para trás, revejo o passado, lembro, estou a ver,
Depois de me teres aconselhado,
Vejo um filme, mudo, a correr, sempre a correr,
Rio-me do personagem mostrado,
Do ridículo, do seu contorcionismo, sabendo que vai morrer;
Olho para a frente e vejo pouca vida,
Depois de me teres apontado o horizonte,
Vejo um caminho espinhoso, frio e um árido monte,
Quero caminhar, sem medo, e chamar alguém de “querida”,
Quero atravessar o rio, sem recear os rápidos, por cima da ponte;
Olho para o visor do telefone, leio o que está escrito,
Depois de me teres mandado um toque,
Fico a saber de uma mensagem, escrita, sem muito ardor,
Como fumo sem fogo, é uma mentira, um engano sem amor,
Como o sol a bater no gelo, dá reflexos, mas sem enfoque,
É a recordação dum tempo que passou e sofre agora em estertor,
Como se da memória fosse possível extravasar o atrito,
Provocado pelas fissuras das diferença entre o frio e o calor.
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