sábado, 2 de junho de 2007

A CULTURA DA INCULTURA

A CULTURA DA INCULTURA
Quem esteve presente na Casa municipal da Cultura, no dia 16 de Abril, no debate sobre política cultural autárquica, promovido pelo Conselho da Cidade e, estava como observador, se fez uma introspecção e um balanço final equitativo do que se passou naquela sala, certamente não deixará de concluir que os agentes culturais da cidade, pretendendo ser os legítimos porta-estandarte da cultura em Coimbra, não mostraram mais que (a meu ver) a arruaça, o desrespeito e a incultura pelo Presidente da Câmara , Carlos Encarnação.
À partida, na obsessão pela representatividade e igualdade das forças partidárias eleitas na autarquia, o Conselho da Cidade, sem o pretender intrinsecamente, contribuiu para uma iniquidade formal. Isto é, o painel era composto por um representante da Coligação por Coimbra, Barbosa de Melo, pelo Presidente da Câmara Municipal, Carlos Encarnação, pela representante do Conselho da Cidade, pelo moderador, Paulo Peixoto, pela representante do Bloco de Esquerda, Catarina Martins e pelo representante da CDU, Pinto Ângelo. A abertura do debate, como não podia deixar de ser, coube a Carlos Encarnação seguindo-se todos os representantes partidários. A todos foi atribuído o mesmo tempo para explanação dos seus argumentos. E foi, exactamente, aqui que foi cometida, ainda que por omissão, a injustiça; porque ali o visado era o presidente da autarquia e todas as outras forças políticas representadas na mesa, tinham, entre a assistência vários apoiantes –como foi o caso do Bloco, com Serafim Duarte- o que quer dizer que, na prática, os pequenos partidos tiveram tempos de intervenção dobrados.
Passando à descrição do debate: não fosse a grande categoria, força argumenta-
tiva e a reconhecida capacidade de político profissional de grande estofo de Carlos Encarnação e, este, seria cilindrado como milho numa mó dum velho moinho. Carlos Encarnação mostrou que é um grande tribuno. Goste-se ou não do seu estilo, concorde-se ou não com a sua estratégia política. Com o seu ar dolente –a fazer lembrar Cruz Abecassis, na Câmara de Lisboa- as suas palavras são precisas e demolidoras.
O que se assistiu, na Casa da cultura (a meu ver) foi um circo romano, onde o Conselho da cidade representava o imperador, o público o “populis” e Carlos Encarnação o prisioneiro a ser lançado às feras. Houve um pouco de tudo, onde foi sobressaliente o desrespeito manifestado ao “prisioneiro” pelo “populis”. Desde permanentes interrupções, acusações de falso e até de mentiroso. Só faltou o grito: MORTE AO PRISIONEIRO. Para mim, que estava ali como observador, dei por muito bem empregue o tempo disponibilizado. Não é a primeira vez que assisto a debates, onde se discute cultura, e os intervenientes, que se julgam uma elite, mais não parecem do que arruaceiros. Foi para mim um bom exercício ver a forma como Carlos Encarnação, em minoria, dominou o debate. Não está aqui em causa quem tem razão: se ambas as partes em conflito, no caso a autarquia e as forças ditas culturais, ou nenhumas, para esta minha apreciação tal resultado é irrelevante.


LUIS FERNANDES
(COIMBRA)

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