quarta-feira, 3 de março de 2010

O EXECRÁVEL ESPECTÁCULO EM NOME DA ÉTICA




 Acabei de ouvir excertos das declarações de Manuela Moura Guedes, no Parlamento, à Comissão de Ética, Cultura e Sociedade.
Podiam chamar-lhe outro nome qualquer, agora apelidarem esta Comissão de Ética Cultura e Sociedade é simplesmente ridículo, para não dizer execrável. E mais: colocarem este espectáculo sob a égide da liberdade de expressão é chamarem a todos os portugueses totós, bacocos e tolinhos.
Embora saibamos que toda esta performance, quer dos parlamentares, quer dos jornalistas é mesmo uma farsa, não deixa de ser anedótico fazer passar as audiências em directo. Que fizessem estas audições em privado, apenas para os deputados, embora soubéssemos que o resultado seria exactamente igual, ainda vá que não vá. Agora mostrarem publicamente em directo um desempenho medíocre, assente em frustrações pessoais, ódios ressabiados e ambições, de todos os actores em presença, é pura e simplesmente vergonhoso.
Tenho muito respeito pela comunicação social – ainda que levando esta actividade a brincar, eu também faço parte desse mundo do poder comunicar e influenciar um público anónimo-, porém, entendo que o seu papel –importantíssimo no actual quadro sistémico onde os privados se lhe agarram como cão ao osso, porque a administração política não responde aos seus anseios e em vez de os resolver simplesmente os agrava-, por conseguinte, entendo que, contrariamente ao poder executivo – que deve ser o primeiro a executar-, a comunicação social, embora necessariamente independente, deve estar sempre atrás deste, resguardando-se e sempre sujeita ao agir destes órgãos. Ora o que está acontecer, ultimamente, é a comunicação social actuar em paridade, lado-a-lado, com o executivo ou uma qualquer comissão -quase que se confunde o político executivo com o quarto poder de informar.
Evidentemente que, num acto que deveria primar pela ética, pela cultura e pela sociedade, o que assistimos é uma espécie de regabofe, onde cada entrevistado jornalista defeca os mais hilariantes desabafos. Isto só pode mesmo ser teatro rasteiro. Mas, a ser assim, que dessem alguma dignidade aos “performers” e os deixassem actuar no Teatro Nacional D. Maria II. Embora pareça que fica bem lá, não creio que o Parlamento se preste muito para estes efeitos cénicos. Não sei…digo eu!
Acho graça, e a talhe de foice, alguns ex-políticos camarários locais –que poderia citar o nome mas não me apetece- virem defender a todo o custo a permanência dos jornalistas nas reuniões do executivo municipal de Coimbra. Carlos Encarnação, presidente da autarquia, ao colocar um costume (mau) de lado, apenas o fez com um imperativo de bom senso. Governar, intrinsecamente, não pode ser apenas dar espectáculo. Sabe-se que todos nós, em determinados momentos, envergando a máscara necessária para o acto que sentimos representar, fazemos teatro. Não haverá ninguém que não o faça. Todo o ser humano é um actor em potência. Quando tomamos noção do exagero, e abreviamos caminho, penso, estamos muito perto de atingir o possível.
Poderia perfeitamente acabar este texto por aqui, mas, dentro da mesma linha de pensamento, há dias, no jornal Público, um articulista do periódico, José Assis, até ia mais longe. Escrevia exactamente isto: “há pouco tempo, falando com um amigo, ex-deputado, ele disse uma coisa acertada. No tempo em que a comunicação social não estava nas Comissões, quando se tratava do orçamento e outros momentos importantes, maxime legislativos, o trabalho ficava melhor e os trabalhos decorriam melhor. Porquê? Como a comunicação social não estava presente os deputados podiam falar mais abertamente, chegar a um entendimento mais facilmente e mais aberto, sem necessidade de “tomar posição” musculada, quase de “moca na mão” sobre um ponto que se está mesmo a ver que, com bom senso, se chega a um acordo. Era um espaço reservado para o trabalho, invisível, mas que preparava as deliberações finais no plenário, em forma de reunião informal, e com um “partir pedra” bem mais voltado para o substantivo do que para o mediático. Com a comunicação social presente é preciso (?) outra atitude porque se está a trabalhar com os holofotes ligados”, extracto de um texto de José Assis, no jornal Público, de 21 de Fevereiro.

1 comentário:

Anónimo disse...

Amigo Luís, cheguei agora doi trabalho e como já é hábito a seguir á consulta do e-mail vou ver o nosso(desculpe a ousadia)questões nacionais.«O execrável...» reflecte exactamente o que penso acerca do assunto.Pela 1ª vez leio uma opinião idêntica á minha em relação ás reuniões camarárias.Sabe´, é que eu acho que nós,portugueses, somos mesmo umpaís de artistas,de actores,portanto estou totalmente de acordo.Quando conheci o seu blog,a impressão não foi a melhor.Actualmente, até me surpreendo com a quantidade de vezes que estou de acordo consigo.Força,continue o bom trabalho.
Abraço,Marco