segunda-feira, 5 de setembro de 2022

MEALHADA: RETALHOS DE UM REUNIÃO MUNICIPAL CURTA

  

(imagem de arquivo do jornal online Bairrada Informação)




Quando se esperava ver um Marqueiro, furibundo e vingador,

a expelir fumo pelas narinas, entrusivo e incómodo, (…) eis

que nos aparece um “Ruizinho de Antes”, sem acordeão, sem

bigode e sem chapéu, titubeante e colaborativo...”



O dia apresentava-se entre o “nem lá vou nem faço nada”, como quem diz, nem parecia Verão, nem Outono, nem Inverno, assim para o desenxabido, mais ou menos, como a cara de Marcelo retratada em pose institucional na parede do Salão Nobre.

A Ordem de Trabalhos era pequenina, com nove pontos, apenas. Presumidamente, exceptuando um, o número 2, sobre o Mercado Municipal, que tinha sido agendado pela bancada socialista, nada fazia abrir a pestana de curiosidade.

E ainda estava nos ouvidos o som martelado do relógio da Igreja Matriz, a bater as 9 horas, e o chefe da missão, António Jorge Franco, com um caloroso cumprimento deu início aos trabalhos, ao Período de Antes da Ordem do Dia.

Mas se tudo indicava que não ia haver assunto interessante que saltasse daquelas quatro paredes, isso é que se veria. Ou não fosse a criatividade e o aproveitamento um dos maiores talentos dos políticos. E foi o que aconteceu.

Sónia Leite, vereadora do PS, logo a abrir, propôs um voto de louvor a Leonor Quinteiro, de 11 anos, e a Pedro Pimenta, de 14 anos, ambos finalistas do concurso “Uma Canção para ti”, da TVI, e com a primeira, a Leonor, a vencer a gala.

Parecendo aproveitar a boleia da sua colega de bancada, Rui Marqueiro, corroborando, propôs que os dois alunos no concelho e a sua professora de música, Maria Antónia Mota, fossem recebidos na Câmara Municipal.

António Jorge Franco, sem enfado, concordou – oxalá, esperemos que o executivo, pelo manifesto exagero em auto-benefício, não venha a ser acusado por exploração de trabalho infantil.

Embalada pelo sucesso de ter largado uma “lança em África”, Sónia Leite voltou ao ataque e interpelou o presidente da mesa sobre se a ida de Mário Gaspar, presidente da Junta de Freguesia da Pampilhosa, na última reunião, significava não se estar a verificar um tão apregoado entendimento entre a edilidade e as freguesias.

Respondeu Franco: “eu não vou evitar que ninguém possa vir à reunião. Isso era o que mais faltava. As pessoas são livres. Tenho reunido com todos os presidentes de junta. Não direi todos os dias, mas quase. Temos falado sobre todos os assuntos.


E ENTRAMOS NO PERÍODO DA ORDEM DO DIA


E como gaivota que esvoaça no mar, caímos no então anunciado ponto número 2, o tal que foi agendado pela bancada socialista: Análise da situação da obra do Mercado Municipal.

Quando se esperava ver um Marqueiro, furibundo e vingador, a expelir fumo pelas narinas, entrusivo e incómodo, e, verbalmente, com voz grossa e intimidatória a exigir a Franco uma data precisa de compromisso para a abertura do (novo) Mercado Municipal, eis que nos aparece um “Ruizinho de Antes”, sem acordeão, sem bigode e sem chapéu, titubeante e colaborativo, a propor em votação à mesa que “os serviços informem o executivo sobre o andamento dos trabalhos no prazo de dez dias afim de ser considerada aplicação de multas ao empreiteiro”. Como era de prever, mesmo com a cadeira vazia de Filomena Pinheiro, a proposta foi chumbada com o voto de qualidade do chefe – na mesa, pressentiu-se o prefeito a levar a mão à barriga e a esfregá-la de contentamento e a pensar: quem te viu e quem te vê agora, Marqueiro. Estás no papo!

E, para terminar no que detinha algum interesse, passou-se ao ponto 6, onde foi proposto por Franco, substituir a obrigatória escolaridade mínima por comprovada experiência para contratação de "assistentes operacionais".

Conforme já o afirmara anteriormente em encontros similares, a autarquia pode entrar em rotura por falta de mão-de-obra. Poder ultrapassar esta obrigação legal pode ser a solução para um problema que se torna cada vez mais insolúvel.

Marqueiro votou contra a proposta e, acoplando ao seu sentido de voto, deixou uma mensagem: “por não o ter agora aqui, desconheço o que diz o Código dos Contratos Públicos. E é por não saber que voto contra.

E pronto, tinha passado uma hora. Uma reunião breve, talvez a mais curta de sempre da vida autárquica mealhadense.

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