terça-feira, 27 de setembro de 2022

ENTREVISTA A RUI MARQUEIRO, EX-PRESIDENTE DA CM DE MEALHADA

 





Passado um ano, depois de ter perdido as eleições para a Câmara Municipal e após ter permanecido dois mandatos consecutivos à frente do executivo concelhio, 2013-2021, e muitos mais no pretérito século, está na altura de, em jeito de balanço, fazer umas perguntas ao actual líder da oposição.

Rui Manuel Leal Marqueiro, natural de Ermesinde, concelho de Valongo e distrito do Porto, de 70 anos, conhece os corredores camarários como poucos. Como independente do Partido Socialista (PS), em 1979 foi eleito presidente da Assembleia Municipal de Mealhada.

Em 1981 aderiu ao PS. Em 1983, concorreu e ganhou novamente a mesa da Assembleia. Em 1985 foi eleito, ex-aequo, para a Assembleia Municipal e membro da freguesia de Antes.

Em 1989 foi eleito presidente da Câmara Municipal; foi reeleito em 1993 e em 1997.

Goste-se ou não de Marqueiro, um valor ninguém lhe pode negar: a sua coragem. Poucos com a sua idade e experiência empírica tomariam a decisão de ocupar o correspondente lugar na oposição – e daí, confesso, a minha profunda admiração.

É no desempenho da função política que podemos avaliar o pior do comportamento humano: se o eleito está em cima, por ter poder de execução, é hipocritamente elogiado e idolatrado; se está em baixo, sem autoridade, é, sem pejo, vaiado e desprezado por muitos que, até aí, lhe beijavam as mãos.

A pensar que me mandava dar uma volta ao bilhar grande, lancei-lhe, mais uma vez, o desafio de me responder a uma série de questões políticas e algumas que até podem tocar a pessoalidade. É a segunda vez que, perante o meu atrevimento, não nega fogo. Começo por lhe agradecer a gentileza.

Sem mais demoras, contraditando perguntas de âmbito geral, vamos ouvir Rui Marqueiro.


Meallhadenses que Amam a sua Terra (MAST): A dez dias das eleições para a Comissão Política Concelhia e do Secretariado Concelhio da Secção da Mealhada do PS temos apenas uma candidatura conhecida, a de José Calhoa.

O seu tardar em pronunciar-se, num aparente recolhimento de guerreiro, velho, cansado e desanimado, que depois de regressado de uma longa batalha esforçada mas perdida, perante a indiferença do povo, significa que, numa espécie de bofetada sem mão, devolvendo o que tem recebido nos últimos tempos, mandando-os bugiar, está a ponderar não se recandidatar?

Ou que está a criar um tabu, uma onda de força impactante, e que no último momento, surgindo de espada em riste, leva todos e tudo à frente?


Rui Marqueiro (RM): Que eu saiba, só haverá a candidatura do meu camarada e Amigo José Calhoa.

Entendi que eu não deveria apresentar uma candidatura.

Não é a primeira vez que o faço.

Nesta última passagem pela Câmara Municipal de Mealhada (CMM), a minha camarada e Amiga Arminda Martins foi Presidente da Concelhia; na primeira passagem pela CMM  foi Presidente da Concelhia o saudoso camarada e Amigo o Prof. António Gonçalves.

Não há tabu, nem desinteresse, nem os meus camaradas estão indiferentes comigo, ou eu com eles.



MAST: No desempenho de líder da oposição, ao longo de um ano, pelas suas manifestações perceptíveis de desânimo e descontentamento nas reuniões camarárias em relação aos seus correlegionários, dá para apreender que é um homem descontente, solitário e desapontado. Sente que está a ser injustiçado pelo aparelho do partido?


RM: Não. Não estou desapontado, ou descontente, bem pelo contrário. Estou a gostar da experiência, que é nova para mim. Já fui oposição na Assembleia Municipal, na Assembleia de Freguesia de Antes. Na CMM é a primeira vez. Há sempre que aproveitar a possibilidade de vivenciarmos novas experiências na Vida.


MAST: Reunião após reunião, e já foram muitas durante o ano que passou, tenho notado que o espírito hilariante, mordaz e maledicente do Marqueiro dos primeiros tempos está a dar lugar a um novo actor político mais dramático, mais cordato e menos hostil. É o cansaço inerente à função a manifestar-se, ou um comportamento estudado e deliberado para não cansar os eleitores?


RM: Nunca fui maledicente. Procuro nunca me trair. Aprovo o que achar bem, reprovo o que achar mal. Sou sarcástico com a falta de verdade, e implacável com manobras de proteção de interesses de duvidosa legalidade administrativa ou penal e aí recorrerei às autoridades competentes em razão da matéria em causa; nunca com o manto cobarde do anonimato como no ultimo mandato fizeram comigo, com os meus colegas, e alguns funcionários da CMM.

Tudo aquilo que, no meu entender, tiver de ser comunicado a qualquer autoridade leva o meu nome e cargo.

Quanto aos eleitores, cada qual que pense pela sua cabeça e oxalá não se deixem intoxicar pela muita propaganda viperina e paga que por aí anda.



MAST: Naturalmente, pretendendo atingir a sua imagem pública, corre no interstício da má-língua que o político Rui Marqueiro está riquíssimo, com depósitos em contas “offshore”.

Há uns meses, mais concretamente em Julho, em articulação com outras matérias em discussão com outro vereador no executivo, o senhor afirmou: Eu tenho uma mágoa na vida: fui acusado de ser desonesto. (…) Eu tenho uma vida de impoluto; a minha fortuna resume-se a cento e tal mil euros. Pode ver a declaração no tribunal.”

Afinal, em que ficamos? É rico, remediado, ou pobre?


RM: O Rui Marqueiro nunca teve, não tem, nem nunca terá qualquer património fora do seu País. Desafio quem quer que seja a provar o contrário.

Ser pobre, remediado ou rico depende do patamar que se considerar.

Ter património de 1000000, um milhão de euros é ser rico? Então não sou rico.

Ter património de 500000, quinhentos mil euros, meio-milhão  de euros é ser rico? Então não sou rico.

Vivo com dignidade, após 44 anos de trabalho. Agora estou aposentado com uma pensão resultante destes anos de trabalho, sem beneficio de nenhuma espécie.

Para todos aqueles que andaram, andam e, pelos vistos, continuarão a andar a difamar, mentir, e invejar a minha pessoa dedico-lhes uma quadra do grande poeta Aleixo para perceberem o quanto os desprezo


Sei que pareço um ladrão

Mas há outros que eu conheço

Que sem parecerem o que são

São aquilo que eu pareço



MAST: O Mercado Municipal, uma obra emblemática de quase três milhões, adjudicada no seu mandato, e que presumivelmente pretendia ser o ícone, a obra de regime em que deveria ser lembrado para a posteridade o político Rui Marqueiro, está a dar “água pela barba” aos novos ocupantes da cadeira presidencial. Se fosse hoje, tendo em conta a crise dos mercados tradicionais e a “invasão” de novas médias-superfícies comerciais na cidade, faria uma obra de tamanha volumetria e considerada por muitos como megalómana?


RM: A verdadeira história do mercado municipal de Mealhada será em breve contada por mim numa reunião da CMM.

Hoje faria exactamente o mesmo. E não vou ser complacente com tanta falta de verdade e incompetência.



MAST: Imagine que está prestes a exalar o último suspiro – longe vá o agoiro que, juro, não lhe desejo mal algum -, vai mandar chamar Hugo Alves Silva, o vereador da “catalinária”, como o classifica amiúde, e aparentemente “inimigos de estimação, e rogar-lhe um pedido de perdão recíproco pelas demandas em tribunal por difamação? (bem sei que não é religioso, mas, pelo sim, pelo não, convém levar a consciência em paz para a última viagem)


RM: Não falo sobre o sr. Hugo Silva. A justiça dos seres humanos que se ocupe dele. Não tenho medo da Morte, porque acredito que é o fim de todos os sofrimentos e nada mais há para além dela.


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