terça-feira, 10 de abril de 2012

UMA CRÓNICA DO SEMANÁRIO SOL

(IMAGEM DA WEB)


 A propósito de uma crónica escrita no semanário Sol pelo seu director, José António Saraiva, com o título “Homossexuais contestatários” e que, pelos vistos, muita tinta está a fazer correr nas colunas sociais, sobretudo por parte de Ricardo Araújo Pereira, que sobre esta narração, entre outros elogios, lhe endereça “espertalhão”, “espertinho”, “vivaço” e “estúpido”, gostava de tecer alguns considerandos –obviamente que não preciso de dizer que não conheço os interlocutores, ninguém me conhece e que também ninguém irá comentar este meu texto de contra-análise.
Começo por dizer que a apreciação de um texto escrito por outro obedece a vários critérios de análise. Esta divide-se em privada e pública. Na privada, no confronto de ideias, enquanto leitor, ao tomar contacto com o pensamento traduzido em palavras do outro, o texto, normalmente, divide-se em bom ou mau. Não haverá meios-termos para a classificação maniqueísta. É bom se o que se expressa se identifica com o nosso pensamento, e, em complemento nos amplia um conhecimento maior sobre esse assunto e nos deixa a pensar. Isto é, nos enriquece o intelecto. A dissertação é muito má se o que se expressa no comentário vai contra a nossa forma de pensar. Isto é, anteriormente, e aprioristicamente, já tínhamos uma percepção formada em axioma, que não admite contestação. Isto porque o nosso espírito de pesquisa está bloqueado e fechado a outra qualquer forma de ver o mesmo problema de ângulo diferente. Ou seja, uma exposição de um emissor, escrita ou falada, apenas será recebida pelo receptor se este estiver aberto ao conflito de ideias. Se não estiver, por mais brilhante que seja o estudo ou crítica, nunca trespassará os muros graníticos e intransponíveis do leitor ou ouvinte e jamais o influenciará. O tema será repelido, da mesma forma, como se evita uma onda de mosquitos.
Passando ao critério de análise pública, tal como aqui, acontece que o grau de apreciação chega ao grande público consoante o púlpito do emissor. Pouco importa se o seu exame é justo ou iníquo. Para as pessoas em geral, que pouco estão interessadas em formar opinião indo ao fundo da questão, lendo, e pensando pela sua própria cabeça, dão como certo e abalizado o parecer “mainstream”, tomando-o como corrente de opinião geral. Pouco importa se o seu conteúdo é ofensivo para quem, livremente, sem peias e com a coragem de expressar o que lhe vai na alma. Para o grande público, o que importa mesmo é a observação deste último examinador, que a vai tomar como tese de investigação e de verdade –naturalmente invertendo os fundamentos e desrespeitando a liberdade de expressão.
Depois, curiosamente, este fenómeno vai-se multiplicando “ad finitum”, novamente conforme o grau de importância do multiplicador. Ninguém se questiona se o que se defende enferma do vício de análise crítica subjectiva, assente no seu próprio pensamento, e se não estará a colocar em causa a liberdade de criação e expressão de quem escreveu a obra.
Termino voltando ao princípio: quem é aqui o “espertalhão”, o “espertinho”, o “vivaço” e o “estúpido”?


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