(ALVES DOS REIS -IMAGEM DA WEB)
Ao longo da nossa história, ele
sempre esteve entre nós. Passa ao nosso lado na rua e nada o distingue do comum. Pode
ser alto, baixote, gordo, magro, ou até assim assim. Mas se nos dirigir a
palavra, então sim, vemos a diferença que o distingue dos demais. Escrevo sobre o “artista”,
o verdadeiro “artista” nacional.
Fala connosco com sedução e numa
voz pausada e estudada, como se pensasse bem no que está a dizer, mostra ideias
de grande simplicidade criativa. O que nos transmite, em pacotes de ilusão, é
exactamente o que queremos ouvir. O “artista” é um sociólogo/psicólogo nato. O seu
talento para conhecer o âmago de cada um é inato. Basta-lhe olhar um rosto para
saber todo o historial da pessoa. Lê nos olhos como num livro aberto. Nunca
entra em contraposição de ideias. Nunca alimenta uma discussão contrária aos
seus interesses. É um guerreiro na selva urbana. Ele sabe que basta estar à
espreita e aguardar o momento certo. Paciência é o que mais tem. É um camaleão.
Veste as cores ideológicas do opositor. Consoante o momento e a necessidade, é
comunista, socialista, social-democrata ou até um democrata-cristão convicto do
CDS. Nunca profere uma palavra escrita ou falada contra o sistema. Nunca lhe
ouvem um queixume. No fundo não quer mudanças porque se alimenta do subsistema
sistémico. É uma cobra saracoteante que se mexe nos interstícios sociais. É
democrata. Tanto dá a palmada ao pobre como ao rico. Engana todos por igual. É
normal ter vários processos a correr em tribunal por incumprimento, mas
aproveita-se da lentidão da justiça e, na maioria dos casos, pelo esgotamento
da sua vítima que acaba por lhe perdoar, enrolado em mais uma promessa que
nunca será adjudicada.
Movimenta-se no corredor do poder,
governamental ou autárquico, como peixe na água. É um construtor de nuvens. Lisonjeia
o presidente, os ministros, os vereadores, mas mais propriamente o responsável
pela tutela que lhe interessa para os seus planos. Relaciona-se bem com a
maioria das instituições. Ele sabe corromper o decisor. Engana tudo e todos com
a sua falinha mansa. É um estratega de actuação rápida no momento exacto. É um
personagem fictício, amoral, e icónico dos bons ventos lusitanos. Sabe
rodear-se de outros “artistas” iguais e sem escrúpulos. Mas, muitas vezes, pelo
seu poder de persuasão e assédio, pode mesmo fazer-se envolver com os autênticos,
de corpo e alma –porque o artista, o criador, o sonhador, sempre foi um
inocente e cai facilmente como um patinho nas garras deste predador.
O “artista” é um vigarista na
verdadeira acepção da palavra. Tem uma visão global, mas, ao mesmo tempo, incisiva
nos ínfimos pormenores que escapam à maioria. É um ser frio, calculista e
metódico. Perfeccionista até ao infinito.
Usa o ter para ser. Sabe que
quanto mais passar a mensagem de importância do ter, mais facilmente chega ao
ser. É um actor de um teatro cénico que só ele sabe como funciona em toda a sua
plenitude. Os seus espectadores-actores não são mais do que marionetas da sua
vontade. À sua mão vão comer todos os que ele quiser. Ele sabe transmitir,
através do falar redondo, paulatino, o que os interlocutores querem ouvir. Difunde
uma aura de inocente e de pureza imaculada, chegando algumas vezes a
desencadear por parte do poder decisório alguma comiseração, mas tudo isso é
estudado ao pormenor em longas noites de cábula. Enrola toda a gente. Os seus
projectos são práticos e eficientes no lucro fácil. Todos se perguntam como,
até aí, nunca ninguém se lembrara de tal ideia, e embarcam nela em magotes.
Quando se dão conta estão embrulhados até à alma e redunda em falências, muitas
falências, particulares dos apoiantes.
O poder que sempre o patrocinou desde
o primeiro momento, perante o descalabro do castelo de areia dissolvido pela
onda, lava as mãos como Pilatos e passa o ónus para quem se deixou levar na
treta.
Este é o tempo de actuação deste
verdadeiro “artista” português. Tomemos atenção. Ele está em todas as esquinas,
em todas as praças, em todas as ruas, na Internet. Este “artista” não dorme. Cuidado! Muito
Cuidado!
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