sexta-feira, 27 de abril de 2012

O "ARTISTA"

(ALVES DOS REIS -IMAGEM DA WEB)

 Ao longo da nossa história, ele sempre esteve entre nós. Passa ao nosso lado na rua e nada o distingue do comum. Pode ser alto, baixote, gordo, magro, ou até assim assim. Mas se nos dirigir a palavra, então sim, vemos a diferença que o distingue dos demais. Escrevo sobre o “artista”, o verdadeiro “artista” nacional.
Fala connosco com sedução e numa voz pausada e estudada, como se pensasse bem no que está a dizer, mostra ideias de grande simplicidade criativa. O que nos transmite, em pacotes de ilusão, é exactamente o que queremos ouvir. O “artista” é um sociólogo/psicólogo nato. O seu talento para conhecer o âmago de cada um é inato. Basta-lhe olhar um rosto para saber todo o historial da pessoa. Lê nos olhos como num livro aberto. Nunca entra em contraposição de ideias. Nunca alimenta uma discussão contrária aos seus interesses. É um guerreiro na selva urbana. Ele sabe que basta estar à espreita e aguardar o momento certo. Paciência é o que mais tem. É um camaleão. Veste as cores ideológicas do opositor. Consoante o momento e a necessidade, é comunista, socialista, social-democrata ou até um democrata-cristão convicto do CDS. Nunca profere uma palavra escrita ou falada contra o sistema. Nunca lhe ouvem um queixume. No fundo não quer mudanças porque se alimenta do subsistema sistémico. É uma cobra saracoteante que se mexe nos interstícios sociais. É democrata. Tanto dá a palmada ao pobre como ao rico. Engana todos por igual. É normal ter vários processos a correr em tribunal por incumprimento, mas aproveita-se da lentidão da justiça e, na maioria dos casos, pelo esgotamento da sua vítima que acaba por lhe perdoar, enrolado em mais uma promessa que nunca será  adjudicada.
Movimenta-se no corredor do poder, governamental ou autárquico, como peixe na água. É um construtor de nuvens. Lisonjeia o presidente, os ministros, os vereadores, mas mais propriamente o responsável pela tutela que lhe interessa para os seus planos. Relaciona-se bem com a maioria das instituições. Ele sabe corromper o decisor. Engana tudo e todos com a sua falinha mansa. É um estratega de actuação rápida no momento exacto. É um personagem fictício, amoral, e icónico dos bons ventos lusitanos. Sabe rodear-se de outros “artistas” iguais e sem escrúpulos. Mas, muitas vezes, pelo seu poder de persuasão e assédio, pode mesmo fazer-se envolver com os autênticos, de corpo e alma –porque o artista, o criador, o sonhador, sempre foi um inocente e cai facilmente como um patinho nas garras deste predador.
O “artista” é um vigarista na verdadeira acepção da palavra. Tem uma visão global, mas, ao mesmo tempo, incisiva nos ínfimos pormenores que escapam à maioria. É um ser frio, calculista e metódico. Perfeccionista até ao infinito.
Usa o ter para ser. Sabe que quanto mais passar a mensagem de importância do ter, mais facilmente chega ao ser. É um actor de um teatro cénico que só ele sabe como funciona em toda a sua plenitude. Os seus espectadores-actores não são mais do que marionetas da sua vontade. À sua mão vão comer todos os que ele quiser. Ele sabe transmitir, através do falar redondo, paulatino, o que os interlocutores querem ouvir. Difunde uma aura de inocente e de pureza imaculada, chegando algumas vezes a desencadear por parte do poder decisório alguma comiseração, mas tudo isso é estudado ao pormenor em longas noites de cábula. Enrola toda a gente. Os seus projectos são práticos e eficientes no lucro fácil. Todos se perguntam como, até aí, nunca ninguém se lembrara de tal ideia, e embarcam nela em magotes. Quando se dão conta estão embrulhados até à alma e redunda em falências, muitas falências, particulares dos apoiantes.
O poder que sempre o patrocinou desde o primeiro momento, perante o descalabro do castelo de areia dissolvido pela onda, lava as mãos como Pilatos e passa o ónus para quem se deixou levar na treta.
Este é o tempo de actuação deste verdadeiro “artista” português. Tomemos atenção. Ele está em todas as esquinas, em todas as praças, em todas as ruas, na Internet. Este “artista” não dorme. Cuidado! Muito Cuidado!


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