quinta-feira, 19 de abril de 2012

A CRISE REPRESENTATIVA DOS COMERCIANTES NA CIDADE




 Ontem, quarta-feira, pelas 21h00, na Casa da Escrita, perante cerca de três dezenas de pessoas, realizou-se a 5ª Tertúlia “À Conversa com o Centro Histórico”, subordinada ao tema “Património Mundial: Uma mais-valia para a cidade?”.
Na mesa, como convidados, estavam o pró-reitor Raimundo Mendes Silva, responsável por parte da Universidade pela candidatura de Coimbra a Património Mundial, e Clara Almeida Santos, também professora da UC; Isabel Campante, em representação da APBC, Associação para a Promoção da Baixa de Coimbra, e, presumivelmente, para falar sobre o impacto que esta previsível nomeação por parte da UNESCO terá sobre o comércio no Centro Histórico; e Magalhães Cardoso, Director Municipal da Administração do Território, da Câmara Municipal de Coimbra (CMC). Como já é hábito em anteriores sessões a moderação esteve a cargo de Sidónio Simões, Director do Gabinete para o Centro Histórico. Decorreu como as anteriores com perguntas e respostas, com pouco a acrescentar a não ser a pouca frequência de público que se continua a verificar. Sendo um acontecimento ímpar, onde cada um, olhos nos olhos, pode dizer o que sente, continuamos com o costumeiro desinteresse da população, nomeadamente, proprietários, inquilinos, comerciantes e profissionais de hotelaria.
Num olhar superficial sobre a mesa -exceptuando a hotelaria, que deveria estar representada, desconheço se foi ou não convidada-, estavam figuradas, no possível, as instituições que têm a ver com as consequências da promoção da cidade –lembro que já foi publicado em Diário da República o Regulamento Municipal de Edificação, Recuperação e Reconversão Urbanística da Área afecta à candidatura da Universidade de Coimbra a Património Mundial da UNESCO, incluindo a Zona de Protecção.


E COMO É QUE FOI A DEFESA DOS COMERCIANTES?

 E por parte dos comerciantes esteve lá quem deveria? Penso que não. Faltou lá alguém da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra –não sei se teria sido convocada para o efeito. Em representação do comércio esteve a APBC. E, por parte desta agência, esteve um comerciante? Não, não esteve. Penso que, obviamente, esta responsabilidade deveria ter recaído nos ombros de um profissional do comércio -isto sem menorizar a argumentação de Isabel Campante naquele evento. Porém, esta senhora, que está na APBC em representação institucional por parte da CMC, não é profissional do comércio –antes de prosseguir, gostaria de dizer que, sem favor, os eventos da APBC, nomeadamente algumas “Noites Brancas”, sobre o leme de Isabel Campante tomaram uma nova dinâmica e velocidade de cruzeiro. O seu a seu dono. Esta senhora, pela sua grande experiência à frente da companhia de teatro Escola da Noite, com grande facilidade de contactos, foi, sem dúvida, uma mais-valia para associação da Baixa.
Prosseguindo, já sei que a sua presença na tertúlia não foi da sua responsabilidade. Sobre este assunto, hoje de manhã, interpelei Armindo Gaspar, presidente da APBC, que me disse o seguinte: “eu é que fui convidado para estar presente. Acontece que, como se sabe, ontem o meu estabelecimento foi assaltado e não tinha cabeça para estar no evento. Coloquei a questão aos meus colegas comerciantes da direcção da agência e da sua parte ninguém se disponibilizou. Como tal a escolha recaiu sobre Isabel Campante, que aliás até mora na Alta e era mais fácil ser assim.”
Ora, chegados aqui, poderemos fazer duas interrogações. A primeira é: mas Isabel Campante não pode defender bem os comerciantes? Pelo meu ver, não, não pode. Não por falta de empenho –porque esta senhora é empenhada no que faz-, mas por desconhecimento. Uma coisa é ter informação sobre uma determinada actividade, outra é ter conhecimento, isto é, estar lá dentro com as mãos na massa e saber quando esta está levedada ou não, quanto fermento é preciso para um profissional do comércio conseguir dormir uma noite por inteiro. Estas explicações só podem ser dadas por quem está por dentro.
Outra questão pertinente: o que estão a fazer os vários comerciantes na direcção da APBC, para delegarem o seu lugar institucional numa pessoa que, apesar de outros talentos reconhecidos, não é profissional da actividade? O problema é que é normal ver alguns destes membros a lamentarem a actual situação que o comércio de rua atravessa e a clamarem que é preciso apresentar soluções à autarquia. Acontece que quando há oportunidade para o fazer, como ontem, desligam-se da sua responsabilidade e do seu clamor apregoado.
Já nem falo da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, que, pelos vistos, se desonerou completamente de defender e representar os comerciantes.

MAS, O QUE É QUE SE PASSA COM A APBC?

 Nos últimos tempos, sabe-se, Armindo Gaspar sofreu uma série de contratempos impossíveis de serem sentidos por qualquer de nós, que não vou elencar aqui. Sou amigo dele, encabecei pelo menos uma iniciativa que achei que deveria fazer. Fi-lo com a certeza de que estava a fazer o que gostaria que fizessem por mim. Sem entrar em grandes detalhes, a sorte do Armindo, e sobretudo a minha acção, não foi entendida por todos e, mais propriamente dentro da direcção da APBC, originou uma demissão –embora mais tarde retirada, mas deixando algum marcado verdete ressabiado, inevitavelmente.
O que noto é que a “fragilidade” do Armindo Gaspar está-se a repercutir na direcção da APBC, parecendo –na minha subjectividade e com alguma especulação- algumas vezes ultrapassado na sua posição de presidente.
Para além disso, e esta questão já vem de longe e muito antes da vulnerabilidade do Gaspar, a APBC é uma entidade que mareia sem passar cartão aos associados. É um navio representativo de uma classe –será mesmo? Mais à frente tentarei dar resposta a este cepticismo. Vou exemplificar, no dia 27 de Março, último, escrevia o Diário de Coimbra: “Advogados e médicos desafiados a aderir à Agência para a promoção da Baixa”. Tratou-se de uma conferência de imprensa sobre a animação para as festas da Páscoa, no Café Santa Cruz.
Antes de continuar, vou escrever que se passa uma coisa algo curiosa: por parte dos comerciantes associados da APBC, poucos, senão nenhuns, conhecem ou conseguem decifrar os Estatutos desta agremiação; por parte dos elementos que fazem parte dos órgãos sociais a mesma coisa: poucos conseguem interpretar os ditos –saliento que não será por ignorância. Será porque aquele arrazoado é incompreensível.
Vou prosseguir, quando aquela comunicação foi feita, se os membros tomassem atenção ao regulamento da APBC, deveriam saber que, em princípio, tal só é possível com uma comunicação prévia aos associados e decidida em assembleia-geral.
Vou elencar o “Artigo Terceiro” –“Objecto”- que diz o seguinte:

1-      A Agência tem como objecto social a promoção e modernização da zona da baixa de Coimbra, visando a requalificação daquela zona e o desenvolvimento da gestão unitária e integrada de serviços de interesse comum;
2-      Para a prossecução do seu objecto social a Agência propõe-se realizar, entre outras, as seguintes actividades:

a)      Realizar e gerir um plano de marketing e comunicação;
b)      Promover e publicitar o conjunto comercial;
c)       Definição dos horários dos estabelecimentos;
d)      Promover a uniformização da época de campanha comerciais;
e)      Garantir a animação da baixa;
f)       Fazer estudos de mercado e estudar os hábitos de compra;
g)      Editar um boletim informativo;
h)      Instalar postos de informação aos consumidores.

Depois de ler o que inferimos? No meu entender e salvo melhor opinião, dá para ver que, em face das 8 alíneas do articulado –ainda que seja pouco claro e dúbio- e pelo costume, visando o labor comercial, tal alargamento não deveria ser possível sem uma assembleia de associados. E porquê? Porque surge uma interrogação: afinal o que é a APBC? É uma agência de desenvolvimento que visa promover e modernizar a zona baixa de Coimbra –que é o ratificado no “Objecto” do “Artigo primeiro”- ou é uma agência que visa acompanhar o desenvolvimento da actividade comercial?
A resposta não será tão óbvia quanto parece. Perante o “Artigo primeiro” é conclusiva. Mas acontece que pelas actividades descritas, e pelo que tem sido desenvolvido nos últimos anos, o seu campo de acção é inconclusiva e visará o segundo, o comércio. Então, chegados aqui, somos obrigados a perguntar e o que é que vale mais, a primeira ou a segunda questão? Do meu ponto de vista, de ignorante, inclino-me para as duas, mas, agora, passados seis anos, se se esquecer o que foi feito, alterando a sua identidade, e se mudar de rumo pode acontecer um naufrágio. Isto é, perante a inclusão de outras classes profissionais nos associados poderá concorrer para a transformar em algo híbrido que nem é carne nem é peixe –é evidente que conseguimos alcançar a intenção deste alargamento, que é conseguir novos associados que permitam uma maior entrada de receita.
Mais ainda, continuando a ler os Estatutos, nos artigos seguintes, verificamos que a sua redacção se destina estritamente ao comércio. Ou seja, este regulamento foi feito com um intento, mas quem o criou estendeu-se ao comprido no que queria transmitir –até porque, posso afirmá-lo, aquando da concepção da agência eu estava nesta altura na ACIC, a APBC nasceu para ser uma extensão daquela associação, mas mais localizada. Porém há uma questão importante: como pode sobreviver futuramente a APBC com menos de duas centenas de associados?
Na minha forma de ver, é urgente alterar os estatutos. Primeiro, para tornar claro o seu objectivo, segundo, para saber o que se quer fazer mesmo no futuro. É que das duas uma, ou se continua como até aqui, em que este agregado resiste graças à boa vontade da autarquia –mas, por outro lado, em complemento, obriga a uma nomeação na direcção e uma independência coartada- ou os associados, através de eleições, correndo o risco de criar uma associação falhada, chamam a si a plena condução da agência.
Mas –e aqui é que reside o busílis- se nenhum associado se importa com o que está a ser feito -ou melhor, importa mas é para criticar e sem se querer envolver para fazer melhor- como é que se sai deste labirinto?  Por outro lado, e sendo assim, como é que se podem pedir explicações à direcção da APBC pelo facto de os associados nunca terem sido chamados para uma assembleia geral e para se pronunciarem sobre os vários aspectos da vida associativa? É que para se receber terá de se dar algo em troca. E perante a apatia da maioria o que esperar do futuro da APBC? Não sei, mas este desinteresse patológico de todos leva-me a um diagnóstico negro.
Haveria muito mais, mas já me alonguei demasiado. O resto ficará para uma próxima. Obrigado, leitor, se chegou até aqui. Bem sei que isto, para alguns, é conversa para “boi dormir”.



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