Olá meus amigos! Como é que estão? Estão bem? Ainda bem. Acho que o mínimo que podemos fazer por nós mesmos é esforçarmo-nos ao máximo para sermos felizes.
A primeira vez que vi no cinema a apresentação do filme português “Contraluz”, de Fernando Fragata, gravei bem na memória o depoimento de António Feio –recentemente falecido. A obra cinematográfica estreou a 22 do mês passado. Dizia ele na introdução ao “trailer” da fita: “aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento. Agradeçam e não deixem nada por dizer…nada por fazer!”. Em fundo aparece a seguinte mensagem: “daqui a cem anos a população actual do mundo estará morta. Os nossos familiares… Os nossos amigos…Os nossos filhos…Tu e eu…Sete mil milhões de seres humanos desaparecerão para sempre. Todos caminhamos em direcção à luz. Até lá…vive em contraluz!”.
É interessante, mas, desde esse dia, nunca mais esqueci essa mensagem. “Afinal o que nos impede de sermos felizes?”. Esta poderia ser a pergunta espalhada por aí, nas ruas, nos jardins da cidade, em vários “outdoores” de publicidade. Poderia ou não? E, de repente, numa espécie de catarse interrogativa, vamos lá tentar responder a esta questão tão simples? O que nos impede de sermos mesmo felizes?
Repare, é engraçado como uma pergunta aparentemente simplista nos deixa num labirinto de interrogações…”porquê?”…”porquê?”. Se, eventualmente, todos temos a resposta, por qual a razão de não a conseguirmos desenvolver por palavras? Se nós conhecemos o motivo -os motivos- tão bem, porque ficamos sem resposta imediata? É como, em metáfora, se repentinamente perguntassem a um peixe que descrevesse o mar. Ele ficaria na mesma apreensão. Pensaria, “como é que conhecendo eu tão bem as águas do oceano, não o consigo descrever? Se é aqui que vivo, se é aqui que sou feliz, por que raio não consigo definir o mar?”.
Sem entrar em grandes análises filosóficas, todos sabemos que a felicidade é uma plêiade de emoções ou sentimentos, provocados por um estado curto ou continuado de algo que desencadeou um contentamento ou satisfação. Ao que se julga saber, desde os primórdios da existência, o homem sempre correu atrás deste estado de alma. Talvez por isso um sinónimo de felicidade possa ser: sorte, ventura, fortuna, dita, êxito, contentamento, satisfação, júbilo, alegria, reconhecimento, partilha, fazer bem, etc.
Pegando nestes significados, em silogismo, já dá para ver que os opostos conduzem à infelicidade. Ou seja, por exemplo, a falta de sorte conduzirá, a médio ou longo prazo, a um estádio de apatia e tristeza.
No entanto, curiosamente, uma pessoa não bafejada pela fortuna não será necessariamente infeliz. O que se sabe é que há um conjunto mínimo de condições para uma pessoa ser feliz. De tal modo que a Universidade de Oxford criou o Inventário da Felicidade, que, em princípio, aferindo determinados dados de um individuo pode saber-se o seu grau de contentamento.
Sabe-se também que a religião, tal como a filosofia, sempre procurou, através da doutrina, complementar e responder às várias causas de ensimesmamento.
Outra questão, embora sem causa/efeito, é o estilo de vida. Será que o aumento do PIB, o Produto Interno Bruto, a riqueza das Nações, o desenvolvimento económico, na medida em que conforta materialmente o indivíduo, concedendo-lhe maior bem-estar, dar-lhe-á maior paz interior? E aqui até poderemos colocar uma questão: será que, tendo em conta que somos muito mais abastados, comparativamente, seremos mais felizes que os nossos antepassados? E as respostas, até adivinho, não serão mesmo nada unânimes. Uns dirão que sim, outros que nem pensar.
Poderemos começar por avaliar o grau de felicidade dos nossos pais e avós. Aqui teremos de ver o ano de nascimento. Há um método, ainda que falível, que costumo recorrer para estimar o contentamento interior das diferentes épocas: é a fotografia. E pegando numa foto dos anos de 1940, vindo por aí acima, e comparando com as décadas subsequentes, tenho para mim que à medida que os nossos ascendentes se aproximam de nós -noto mais alegria nos rostos sorridentes- é possível aferir que estas gerações contemporâneas serão mais felizes que as anteriores. Ora, se assim for, quer dizer que o conforto económico, as melhores condições de trabalho, quer na segurança contratual, quer na redução de horários, contribuíram decisivamente para o bem-estar interior. Ou seja, O PIB conduziu a uma maior felicidade interna bruta.
Mas, então, a ser assim, agora, se nós atingimos o pico máximo do desenvolvimento, porque razão, na última década sobretudo, regredimos na forma feliz de estar na vida? De repente, parece que toda a força anímica conquistada nos últimos 40 anos se foi. O que aconteceu? Que factor foi introduzido para criar toda esta instabilidade? Quanto a mim, e começou no 11 de Setembro de 2001, no derrube das torres Gémeas em Nova Iorque , foi o medo. A partir daí o temor tomou conta de toda a população ocidental. Numa hora destruíram-se os nossos sonhos de omnipotência de quase quatro décadas de desenvolvimento. Num impulso, constatámos que afinal somos finitos, não temos poder nenhum. Todos os bens que conquistámos ao longo do tempo, como um castelo de areia levado pela maré, esvaem-se por entre os nossos dedos. Para que andámos nós a coleccionar carros, prédios, relógios e caixas-de-fósforos, se, afinal, a única coisa que temos mão e podemos dispor inteiramente é a nossa vida?
Se até há pouco abandonávamos os nossos pais num qualquer lar de terceira idade mal cheiroso sem rebates de consciência, para que eles lá morressem, com toda esta onda de violência que anda no ar, ganhámos medo de acabar como eles, num qualquer recanto fétido e ordenado pelos nossos filhos.
É o pavor do que nos poderá vir a acontecer que nos impede de tomarmos posições rumo à felicidade.
Passámos a ter receio de perder o trabalho, perder tudo, e cair na miséria. Olhamos o próximo como alguém que está prestes a assaltar-nos. É o medo, o terror enquanto fobia, a tomar conta de todos os nossos actos diários.
Como diria António Feio: “Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros”.
“Daqui a cem anos a população actual do mundo estará morta”. Para quê esta lufa-lufa?
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