sexta-feira, 20 de agosto de 2010

OS PARQUES DE ESTACIONAMENTO PERIFÉRICOS, VISTOS PELO "OLHO DE LINCE"




 Estava eu a deglutir um bom almoço no pequeno restaurante do Daniel, ali na Rua da Louça. Como sempre a comida estava espectacular. Volta e meia, também, como é habitual, lá vinha o Daniel: “ó “Olho de Lince vai mais um bocadinho de carne? E um bocadinho de batatas…mas arroz queres?”. E eu, mentalmente, num conflito aguerrido entre a gula e o cérebro, tentava o equilíbrio possível entre o aceitar mais, para ficar mais gordo, e o ficar assim assim. Fosca-se, o que uma pessoa sofre para não ficar grávido de fim-de-tempo. E para enterrar as minhas mágoas, o meu desgosto de não ser ao menos uma amostra de George Clooney –só somos parecidos é nos cabelos esbranquiçados-, eu bebia mais uma “copada” daquele sangue de Cristo, daquela vinhaça que até me fazia estalar a língua. Estava eu já no quinto copo de três, quando toca o “bip”, que tenho directo à redacção do “Questões Nacionais”-como as finanças do blogue estão como as minhas algibeiras, ou seja todas rotas de tanto catar, não uso o telemóvel. Ai, meu senhor criador! Estremeci todo de alto a baixo. O copo, que segurava na mão e estava a meio caminho entre o peito e a boca, tremeu mais que uma vara verde no canavial, e –porra!, exclamei- então não é que derramei aquela pomada sobre a camiseta? Fogo, não foi a mancha do bruto emblema na roupa, que me toma mais parecido com o Adelino Paixão, que me deixou desgostoso, foi o ter-se derramado aquele néctar do céu.
E agora? Pensava com a cabeça a deitar fumo. É que eu, para vir almoçar descansadinho ao Daniel, como não tinha compromissos, deixei o meu Silvano –é o meu jerico- ali na Portagem. É o único sítio com verde que a Baixa tem. Falei lá com o jardineiro, que toma conta daquilo, o António Aguiar, aquele gajo que tem a mania de controlar tudo, e está sempre de pena na mão, porque, nestas coisas, vale mais estarmos bem com todos, é ou não é? Pois é! Então lá lhe disse: “ó Aguiar, dá aí uma olhadela ao meu Silvano não vá ele descarrilar como o Metro de superfície, enquanto vou almoçar!”.
Agora estou num grande problema, estou mesmo a ver. Se o director me manda em serviço de reportagem, estou fundido, não sei se estão a ver…é que eu entrei a matar naquela pomada, naquele vinhaço, que até me dá música na cabeça. Agora estou mesmo tramado. Se sou apanhado a conduzir o meu Silvano alcoolizado, acontece-me pior que àquele agricultor de Celorico da Beira –que foi ontem condenado em processo sumário, a pagar 450 euros de multa. Mas, que diabo, quem o mandou continuar na profissão de agricultor? Porque é não foi incendiar mato, que assim nunca seria julgado e condenado? É lógico que a culpa é dele. É ou não é? Se fosse apanhado bêbado, como incendiário, o que é que acontecia? Claro, não acontecia nada, era dado como maluquinho. Assim, como agricultor, não tem hipóteses nenhumas: sem delongas é condenado. É doidinho mas é por continuar a cuidar dos campos e a lavrar as mágoas na vinhaça. Toma lá! Paga e não bufes!
Mesmo assim, um bocado zonzo, lá me apresentei na redacção do “Questões nacionais”, ao director Luís Fernandes. Não é por nada, mas nos últimos tempos, este gajo anda a irritar-me profundamente. Basta só lembrar-me que anda enroscado com a “minha” Rosete –é uma jornalista estagiária, boa, boa, tão boa, ai, que até fico com a boca seca-, para ficar logo maldisposto. Pronto, mas, apesar de não receber ordenado há mais de um ano, tenho de pôr a “passione” de lado, devo cumprir com a minha obrigação profissional. Vamos lá ver o que quer o “Meco”.
-Bom dia, “Olho de Lince” –diz-me o gajo, naquele tom que parece que eu é que lhe devo dinheiro, e sem me estender a mão em cumprimento.
-Bom dia chefe…como está? –disse isto assim, de favor, como se estivesse a colocar o voto na urna, aquando das eleições, não sei se estão a ver.
-Preciso que você vá fazer uma reportagem sobre os parques de estacionamento periféricos, aqui à volta da cidade. Vai à Estação-Velha, vem por aí adiante, vê o que se passa, ali ao lado do rio Mondego, dá a volta, manda uma “pestanada” ali junto ao Parque Verde, passa pela Ponte Rainha Santa…por aí adiante. Compreendeu o que eu disse?
-Claro, chefe, não sou estúpido! Lá burro, pode chamar-me, lá isso sou! A trabalhar aqui sem receber há mais de um ano, só posso mesmo ser mais jumento que o meu Silvano…
-Vá lá…vá lá! Deixe-se de merdas, que de conversa fiada estou eu farto! –interrompe o “mastronço”, ao mesmo tempo que faz aquele gesto tão meu conhecido de abanar a mão, assim a enxotar-me. Estão ver? Ai o cabrão! Não lhe dar uma dor de barriga ou um ataque de lombrigas que tivesse de andar a correr três meses para a retrete.
E lá fui eu. Apanhei o meu Silvano no largo da Portagem, toc…toc…,não sem antes agradecer ao Joaquim António de Aguiar –mas o filho da puta também não me respondeu, deveria ter aprendido pelos mesmos livros do Fernandes, ou este é que aprendeu por aquele, sei lá!
Estamos –eu e a minha pileca- então no parque de estacionamento de Coimbra B. De um total de, talvez, 500 lugares, estão lá apenas cerca de quatro dezenas de viaturas.
Continuamos andar em direcção à Estação Nova, caminhando ao lado do rio, reparo que junto ao Açude, onde não se paga, os lugares estão bem compostos, isto é, quase todos ocupados. Tiro mais umas fotos e, …toc…toc…, verifico que, à medida que me aproximo da gare, os lugares que são controlados por parquímetros estão muito vazios.
Continuamos, ali em frente ao antigo cinema Tivoli, vejo que não há lugares vagos. Dois ou três marmanjos mal encarados, que estão para ali a caçar umas moedas, discutem por causa da demarcação territorial. Não sei se estarão a pensar em adquirir algum submarino, sei lá!
Continuámos, eu e o meu jerico, em direcção ao Parque Verde. Deixei-o pastar um bocado e fui ver como paravam as modas lá no estacionamento a pagar. Poucos carros se atreveram a transpor a cancela temporizada e paga a euros de ouro.
Peguei outra vez nas rédeas do meu Silvano –embora não fosse muito fácil, então não é que a besta se enamorou do urso lá do parque? Fosca-se! Tive de me pôr em sentido, e, junto à sua grande orelha, gritei: “olha lá, ó Silvano, estás-te a passar ó quê? Estás a dar em maricas, é? Não vês que é um urso? –claro que entendi o pobre burro, é natural que tenha apetites sexuais, é ou não é? Pensei logo ali, com os meus botões: “tenho de levar o Silvano à Escola Agrícola, que fica ali para os lados de Bencanta, não sei se estão a ver!?
Continuando, agora atravessámos a Ponte Rainha Santa e fomos dar ao antigo parque da Ecovia, ali à entrada das Lages. Num parque bonito, arborizado, com demarcações no alcatrão, onde caberão cerca de duzentas viaturas, estarão apenas talvez trinta.
Continuamos, agora em direcção ao Estádio Universitário. Junto deste, com a continuação das obras, onde estão a ser colocados “pilaretes”, e onde o espaço diminuiu, não há um único lugar vago. O José Costa, o arrumador, bem faz por ter todas as viaturas bem arrumadinhas, mas não consegue milagres. Duas auto-caravanas, em vão, dão duas voltas ao quarteirão. Não há lugares vagos. Volto atrás e olho para o imenso espaço do “choupalinho”, onde se faz a CIC. Atento no chão de terra-batida. Interrogo-me da razão daquele espaço longo não estar a ser ocupado com viaturas, nem que fosse até à altura de ser reclassificado.
Continuamos, e, na avenida marginal, junto ao rio, verifico que está tudo cheio.
Seguimos em frente, e, ao fundo da longa avenida, junto aos serviços municipalizados, está um pequeno parque semi-cheio para os funcionários. É então que o meu Silvano, numa espécie de piloto automático, se encaminha para uma grande área de silvado, onde há cerca de uma década foi uma pista de “bicross”. Perante aquela imensidão, que, até lhe ser dado outro destino, dava um grande parque de estacionamento, fiquei de boca-aberta. Então não é que o meu asnático começou a zurrar que parecia a sirena dos bombeiros? Até pensei que lhe tinha dado um traque. Olhava para mim, assim com aqueles olhos semi-cerrados de asinino, como se me interrogasse: “PATRÃO, AFINAL QUEM É O BURRO?”...

2 comentários:

Sónia da Veiga disse...

;)

Comento mais tarde, que agora o tempo escasseia, mas adorei!!!

LUIS FERNANDES disse...

Obrigada, princesa. O meu Silvano está para aqui a zurrar que parece uma besta...embora eu não fale "burrinhês", suponho que está a mandar um beijinho lá para os seus animais. Ai o raio da pileca, que se mete com todos...fosca-se!