terça-feira, 17 de agosto de 2010

A DESTRUIÇÃO DE UM ESTACIONAMENTO, VISTO PELO "OLHO DE LINCE"




 Andava eu ontem em Penacova a cobrir o grande incêndio –que isto por aqui, pela cidade, na “silly season”, não se passa nada, olha se não fosse estas magno fogueiras como é que um jornalista com a minha craveira internacional vivia no verão? Este meu serviço era um biscate para o “The New York Times”. Foi então quando tocou o meu bip –já vos disse que tive de recorrer a este meio de comunicação por falta de “guito” para o telemóvel.
Enchi o peito de ar e, devagarinho, comecei a expeli-lo pelas narinas. Não sei se estão a ver, assim numa performance de grande agastamento. Em pensamento de grande introspecção, convoquei os meus heterónimos, e, com eles todos de prevenção, interiormente exclamei: “porra!, lá vem a nódoa do director do blogue chatear-me. Não me paga há mais de um ano. Sou obrigado a recorrer a uns trabalhinhos como “freelancer” para os grandes jornais internacionais, para ver se ganho “algum”, e agora, às tantas para um “serviceco” que não vale um pífaro, vou ter de abandonar o que estou a fazer”. Por acaso as minhas outras personalidades mentais, talvez com pena de mim, não se manifestaram. E é claro, comecei a arrumar a câmara de fotografar, desliguei o satélite, e voltei a pensar, agora na companhia dos meus cabelos do peito: ”bem, até não faz mal, ó “Olho de Lince”, isto por aqui, o incêndio em Penacova, praticamente está dominado, já está em fase de rescaldo, vais lá fazer o jeito ao gajo. E mais: sempre vais ver a Rosete, o amor da tua vida, aquele amor platónico que te há-de acompanhar até ao resto dos teus dias”.
 Enquanto descia a estrada velha de Penacova, em curva conta curva, junto ao Mondego, pensava com pesar e grande preocupação, agora, que estamos a caminhar para o fim do verão, o que irá acontecer a duas classes profissionais tão activas: os bombeiros e os pirómanos. Os primeiros, por este andar, não há nada para arder, e o que é que vão fazer? Vai tudo para o desemprego, é? Tem de se fazer alguma coisa. E os segundos, os pirómanos, coitadinhos, sempre tão esforçados, a trabalharem de noite e de dia. Então, agora acaba o verão e vão também para o desemprego? Não pode ser. Isto é uma injustiça. Acho que o Governo deve fazer alguma coisa por estas duas estóicas classes profissionais. E, pensando bem, nem é muito difícil. Anda-se para aí a criar parques verdes em tudo o que é sítio, é uma moda, está de ver. Ora, já se sabe que é preciso equilíbrio na natureza, é ou não é? Então, junto aos parques verdes, criava-se um “queimódromo”. Assim, durante todo o ano, mesmo no inverno, os bombeiros e os pirómanos, estavam sempre activos. Mas isto não é lógico? É preciso ser ministro para ser um “pensólogo” como eu? Fosca-se!, às vezes, de tanto pensar até chego a dispensar tanta matéria pensada. Não sei se estou a ser claro?
Olha, já estou na redacção do “Questões Nacionais”. Já estou a entrar. Já estou a ver as trombas do director Luís Fernandes. A minha Rosetezinha é que não a vejo. Onde é que estará? Às tantas estará escondida dentro do armário do trombeiro. Não é a primeira vez que os apanho enroscados num “flagra”. Bom, mas deixemos estes maus pensamentos.
-Bom dia senhor director, como está –cumprimento, estendendo a mão, em sinal de paz. Claro que não esqueço que o malfeitor anda a comer a minha Rosete.
-Bom dia…bom dia –responde-me rispidamente, aliás, já estou habituado a este humor sublime-, chamei-o pelo seguinte: ontem recebemos, cá na redacção, uma carta de um reputado comerciante da Baixa, o senhor João Baga, a comunicar que a Universidade se prepara para dar um corte no estacionamento gratuito da outra margem.
Ora, se a memória não me falha, você, há um ano atrás entrevistou o arrumador de carros…não foi?
-Foi sim chefe…o José Costa. Chamei-lhe o “Guardião da Margem Esquerda”…
-Pois…eu sei, não precisa de estar para aí com tantas explicações…paleio é para a praia! Então, vá lá, à outra margem, e verifique o que é que se está passar –e faz sinal com a mão, assim tipo abanador, como se me estivesse a enxotar.
-Calma, chefe, há um problema!
-Quê? Problema? Que problema? –e faz assim uma cara de meter medo ao susto.
-é que estou sem dinheiro para atestar o “mini”…
-Dinheiro? Que dinheiro? –interroga “o pasconço”, com cara de Nostradamus.
-“Carcanhol, “pilim”, níqueis…está a ver o que é chefe? -ao mesmo tempo esfrego o indicador no polegar. O senhor director esquece-se que já não recebo ordenado há mais de um ano?
-Ora, ora, ora…”Olho de Lince”, isto agora não é para aqui chamado. Vá lá fazer a reportagem que depois falamos…
Pronto, mais uma vez, tive de recorrer ao meu Silvano –é o meu jerico, penso que já conhecem- e…toc…toc… lá fomos para a margem esquerda do Mondego.
Quando o José Costa, o único arrumador profissional da cidade, me viu, só queria que vissem, com aquele corpanzil, que mais parece um tanque de guerra, a caminhar em direcção a mim, até fiquei sem fôlego. “Queres ver que me vai dar um abraço? Que ainda me parte alguma costela?”, interrogava eu os meus botões já em grande aflição.
-Olha o “olho de Lince”…o meu amigo! Dá cá um abraço, pá!, exclama o “Zé” Costa naquele vozeirão de espanta a concorrência do seu espaço.
-Estás bom, ó Costa! Respondi, assim um pouco a fugir, já a pensar nas minhas costelas, coitadinhas, que se preparavam para levar um aperto maior que o Cavaco a promulgar as uniões de facto contra a sua vontade.
-Então o que te traz por cá, ó “Olho de Lince”?
-Ó “Zé”, escreveram lá para a redacção que a Universidade se prepara para reclassificar toda esta área de estacionamento, aqui junto ao Estádio Universitário, é verdade?
-Pois é, pá! Olha ali aquelas máquinas –e aponta o comprido dedo que parece uma cana de pesca. Andam a abrir buracos para colocarem “pilaretes”. Precisamente para impedir o estacionamento gratuito…
-É pá, Ó Costa, mas isso é mau para ti, para a Baixa…
-Ah, pois é! É muito mau para os dois. Isto é, para mim e para a Baixa. É que ainda não te disse, parece-me que vão retirar os carros todos deste grande espaço aqui à frente –e aponta novamente a cana de pesca em forma de dedo.
Já viste, actualmente consigo aqui colocar cerca de 500/600 viaturas, que estacionam gratuitamente. Se fizerem o que me disseram, só haverá lugar para cerca de 50.
Eu vou viver de quê? Já estou aqui há 30 anos! E a Baixa? As pessoas, da cidade e turistas, estacionam aqui para não pagar…vão para onde?
Porque é que, quem manda, não entende que é preciso haver equilíbrio? Isto é, dentro da cidade é necessário que se pague o estacionamento, para se poder regular a paragem anárquica, mas, fora dela –como é o caso- é muito precisa a gratuitidade.
Porque é que esta gente, que regula a cidade, só vê dinheiro à frente e não entende estas questões práticas, “Olho de Lince”?






4 comentários:

Jorge Neves disse...

Estamos a ser desgovernados em Portugal e neste caso concreto em Coimbra por pessoas sem qualquer equilibrio, por isso nunca podem ser equilibradas.Expulsem os habitantes e os turistas,Aveiro e Leiria agradeçem.

Jorge Neves disse...

Sem duvida que uma das principais "drogas" dos politicos é o dinheiro, o povo que se lixe para não dizer outra coisa.

Sónia da Veiga disse...

Ora aqui está uma prova que a inteligência não anda de mão dada com os canudos!!!

Dá-lhes para cada uma...
E sempre na´"silly season", como diz o "Olho de Lince", que é para não haver muita contestação... :(

C'um caneco!
Bem sei que os SMTUCs deveriam ser mais usados a bem do ambiente e mesmo da carteira do pessoal, mas será esta a melhor via para dinamizar o uso de transportes colectivos?!?

Anónimo disse...

Já era altura de esse estacionamento ser ordenado.
Até podiam construir ali um silo automóvel, com preços acessiveis e descontos para quem usasse os autocarros para circular no centro. Quantos menos carros entrarem no centro da cidade, melhor. O centro é bem servido de transportes, por isso não há desculpa para levarem o carro para a confusão.