quinta-feira, 12 de agosto de 2010

UMA RESSACA DE UM ASSALTO





 Hoje, de manhã, cerca das 9H00, fui comprar o Público ao quiosque da senhora Helena –que o Diário de Coimbra, talvez a prometer amêndoas, trocou o nome por Ana, quando, na Terça-feira, noticiou mais um assalto que esta comerciante tinha sofrido na noite anterior. Estranhei não estar atrás do balcão. Há vários anos que me habituei a ver esta mulher, talhada a escopro e com muito esforço pessoal no rosto, diariamente, sempre no seu posto de trabalho. Hoje não estava, e porquê? Interroguei o marido, o senhor Artur. “Anda muito cansada. Está arrasada. Não consegue dormir depois do último assalto de Segunda-feira passada”. Comprei o jornal e vim à minha vida.
Cruzei-me com a senhora Helena no Largo das Olarias, em frente à Loja do Cidadão. Meio espavorida, ia em passo de corrida. “Então…então? O que é que se passa consigo?”, trunquei-lhe o passo. Reparei no pouco brilho dos seus olhos e nas profundas olheiras. “Olhe, desde Segunda-feira que não consigo “pregar-olho”. Algumas vezes, como não consigo dormir, levanto-me, sozinha, venho por aí abaixo, e vou colocar-me dentro da porta do quiosque. Você sabe lá a ressaca que isto dá? Basta eu “passar pelas brasas” dez minutos e já estou a sonhar, em pesadelo, que me estão a assaltar. Já viu? Isto é o meu ganha-pão. Você conhece a minha história, dos meus irmãos e a da minha mãe. Sabe bem o que passámos para conquistar a pulso o nosso lugar na sociedade. E agora está a ver o que está acontecer! Já viu ao que chegámos? Desde essa data, todos os dias, tenho de transportar o tabaco para casa. Isto é uma canseira. Isto, esta insegurança, esta vida, mata-me…”

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