BAIXA: ESTAS CEBOLAS FAZEM-ME CHORAR

 Começou na Praça do Comércio mais uma “feira das Cebolas”. Este certame irá decorrer desde, hoje, 21 até 28 de Agosto. É uma realização do Departamento da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra e do grupo folclórico “Os camponeses de Vila Nova”, de Cernache. Esta alegoria pretende recriar uma tradição de muitos séculos –lembramos que era aqui, nesta praça velha, que eram comercializados os produtos agrícolas provenientes do Baixo-Mondego. Era conhecida por Feira de São Bartolomeu.

 Se por um lado os longos braços (baraços) de cebolas conferem uma autenticidade rural à cidade, muito apreciado pelos turistas que nos visitam, por outro, constato que continua a ser uma feira pobre e desprezada. É como se o Departamento da Cultura se limitasse a cumprir a tradição e nada mais. Já no ano passado, no tempo do anterior vereador Mário Nunes, malhei aqui neste factor de abandono. Não se pode conceber que durante uma semana estas vendedeiras estejam para ali a torrar ao Sol, sem que se façam acompanhar por outros vendedores de artesanato, velharias, etc. Porque não fazer desta festa alegórica ao campo uma grande feira de profissões antigas em desaparecimento? Se a autarquia não tem ideias, porque razão não pede ajuda a privados, a quem aqui mora ou exerce a sua profissão? O que aborrece deveras é assistir-se, ano após ano, a mais mediocridade do mesmo péssimo. Muda-se o elenco do governo local mas tudo continua na mesma. É como se o Departamento da Cultura fosse autista. Não ouve, não vê, não comenta.

Atente-se nas fotografias que publico em cima: atente-se nos horrorosos barracões de madeira. Admite-se um atentado destes junto a monumentos românicos do século XII, como é o caso da Igreja de São Tiago? Admite-se porque é a autarquia de Coimbra a realizar. Se fosse outra qualquer instituição, certamente, não seria licenciado. Com todo o respeito pelo esforço dos camponeses de Vila Nova, numa frase só: esta feira é uma vergonha.

 Há cerca de três meses estive em Oliveira de Azeméis numa feira de rua, de uma semana, organizada pela autarquia e todos os grupos folclóricos da região. Foi um espectáculo rever o vendedor de banha da cobra –ainda existe um em Coimbra-, o teatro de rua, os Robertos, constituído por figuras animadas, o latoeiro a trabalhar, o sapateiro, o barrista, a cigana a ler a sina e tantas, tantas, profissões desaparecidas que ali estavam representadas. Naquele Domingo em que fui, estavam presentes milhares de pessoas.

Mais ainda, em relação a esta feira das cebolas: a feira de velharias é sempre, impreterivelmente, ao quarto Sábado de cada mês. Como este certame das cebolas vai de 21 a 28 de Agosto, acontece que o espaço destinado às velharias fica amputado. Todos os anos é a mesma coisa. Porque razão não é realizada esta alegoria duas semanas antes, de modo a não coincidir com a Feira de Velharias?

 Perguntará o leitor, se já nos anos anteriores tento chamar a atenção para um facto visível até pelo cego Eduardo –que costuma estar a pedir uma moeda aqui na Rua Eduardo Coelho-, afinal, porque continuo a malhar em ferro frio? Numa frase única: PORQUE SOU TOLO!