BAIXA: AFINAL QUEM É O LOUCO?

 Há cerca de dois meses, mais precisamente no dia 18 de Junho, escrevi aqui uma crónica sobre uma situação de atentado à saúde pública que se estava a passar na Travessa da Rua Velha, e junto à taberna denominada de “Buraquinho”.

 Queixava-se então o gerente da simpática “tasca” que na porta ao lado do seu estabelecimento, dois homens dormiam numa espécie de tugúrio, e, para além disso, ainda faziam as necessidades fisiológicas lá dentro e cá fora, junto à porta do estabelecimento hoteleiro. Disse-me também que o proprietário do edifício não queria saber daquilo para nada, e até já tinha ido à junta de freguesia. Ainda o interroguei: porque é que o senhor, para resolver o seu problema, não compra um cadeado ou agarra nuns tabiques e prega a porta? “Ai, isso não! Sei lá se depois não me vêm cá chatear?”.

 No mesmo dia em que escrevi o texto aqui no blogue enviei uma cópia, em jeito de participação para a autarquia, através do “e-munícipe”.

Aquele espectáculo indecoroso lá continuou sem que ninguém se importasse. Ontem, reparei que tinha umas tábuas pregadas na porta e pensei cá para comigo: “olha, já resolveram a situação do “Buraquinho”. À noitinha uma das minhas fontes destas vielas esconsas confidenciou-me que tinha sido o “Carlitos popó”, que, para além de comprar um cadeado, ainda foi lá à porta e pregou umas travessas.

Hoje, de manhã, encontrei o meu amigo “Carlitos”, e então interroguei-o acerca da travessa do “Buraquinho”. Na sua voz arrastada, que às vezes não se percebe nada, lá me foi dizendo que “aquela vergonha não podia continuar. Ao mesmo tempo, mostrava-me as chaves do embude. Estavam lá dois negros a dormir e era um cheirete desgraçado! Comprei um cadeado, coloquei-o na porta, e, para além disso, tranquei aquilo com umas travessas de madeira. Agora não vão para lá mais!”, confidencia-me o “ícone” vivo mais querido da Baixa, todo ufano.

Que diabo, será que o homem, a que muitos chamam louco, quis dar uma lição a alguém? Afinal quem é o louco?