Nesta casa nasceu o poeta Eugénio de Castro, em 1869. Por acaso não me lembro, mas a fazer fé na placa colada ao edifício deve ser mesmo verdade.
Também é verdade que no Sábado, vindo das alturas, lá de cima do edifício, caiu um grande bocado de tijolo e só por sorte não atingiu alguém. Pelo menos, a crer nas declarações da funcionária do estabelecimento de pronto-a-vestir, deve ter sido também verdade. O que já não consegui saber foi para que servem aquelas grades com umas fitas dos bombeiros no chão da calçada. Isso, por muito que indagasse, ninguém me soube responder. Serão para meter medo ao susto? Será para envergonhar o dono do prédio. Será para, simplesmente, em símbolo, mostrar o estado miserável e decrépito de todo o edificado, em resultado de políticas de arrendamento absurdas continuadas desde o tempo do início da I República e em que está o Centro Histórico?
Sei lá! Se calhar é apenas para mostrar a desconsideração e a indignidade perante um grande poeta como foi Eugénio de Andrade. Deve ser simplesmente o continuar do desprezo por tudo o que seja velho. Não é coisa que o poeta, em vida, já não estivesse habituado. Pelo menos a fazer fé na sua poesia:A fim, oculto amor, de coroar-te,
de adornar tuas tranças luminosas,
uma coroa teci de brancas rosas,
e fui pelo mundo afora, a procurar-te.
Sem nunca te encontrar, crendo avistar-te
nas moças que encontrava, donairosas,
fui-as beijando e fui-lhes dando rosas
da coroa feita com amor e arte.
Trago, de caminhar, os membros lassos,
acutilam-me os ventos e as geadas,
já não sei o que são noites serenas…
Sinto que vais chegar, ouço-te os passos,
mas ai! nas minhas mãos ensangüentadas
uma coroa de espinhos trago apenas!
(EUGÉNIO DE CASTRO)
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