segunda-feira, 15 de março de 2010

A TREMOCEIRA





Adelaide é uma velhinha,
mãos cruzadas no parapeito,
espera que a morte, coitadinha,
a trate com mais respeito,
do que esta vida mesquinha,
que esquece o seu direito;
Já não dorme para sonhar,
o sonho é coisa de ricaço,
só quer mesmo poder andar,
receber, às vezes, um abraço,
conseguir se vestir, apertar,
o lenço, para não dar cansaço;
Reza todos os dias ao Criador
que não lhe falte com alento,
se puder, um pouco de amor,
já agora, na reforma, um aumento,
não esqueça, se faz favor,
que esta vida é um tormento;
Comprem lá uns tremocinhos,
amendoins, pevides, tanto faz,
peguem lá nos pacotinhos,
esqueçam o banco lá atrás,
é um oceano de peixinhos,
pouco contribui para a paz;
Adelaide sorri muito pouco,
a vida foi osso duro de roer,
como se destino fosse louco,
e lhe negasse o amanhecer,
um velho tolo de mouco,
no crepúsculo do anoitecer.

1 comentário:

Anónimo disse...

Atenção que a Srª Adelaide não é nenhuma coitadinha.
Possui filha, genro e netos que a acompanham, vivendo todos na Rua Corpo de Deus.
Estou certo que não é a necessidade que obriga a este estado de coisas.
É uma senhora muito simpática e gosta deste tipo de vida.