sábado, 6 de fevereiro de 2010
EDITORIAL: PARA ONDE CAMINHAMOS?
Ao visionar as fotografias e ler o texto de Jorge Neves, dizendo que a cinquenta metros da loja do cidadão, na Baixa de Coimbra, vivem, ou sobrevivem, cerca de sete dezenas de pessoas em condições miseráveis, dever-nos-ia deixar a pensar. Diz mais: que no total, em dados de 2008, serão várias centenas, divididos por toxicodependentes, prostitutas e sem-abrigo. Para além das antigas instalações da Triunfo, estas pessoas, ocupam também a antiga fábrica Ideal, ao lado da Auto-Industrial.
Não vou debruçar-me na questão de saúde pública, o Jorge já o referenciou com acutilância. Antes, se tiver disponibilidade mental para isso, acompanhe-me numa introspecção. Passados quase 65 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, em que, atrás de uma ideologia, foram dizimados mais de treze milhões de pessoas, vale a pena pensar: para onde caminhamos?
Segundo os últimos dados conhecidos, em Portugal, teremos 20 por cento de pobres –o número europeu que serve de referência para definir a pobreza equivale a um vencimento mínimo mensal de 406 euros.
Por parte dos políticos que nos governam, o que mais ouvimos falar é nos casos mediáticos “Face Oculta”, “Freeport”, “Lei das Finanças Regionais”, a “Corrupção e o enriquecimento ilícito”.
Por parte do povo, como se não houvesse preocupações maiores, é o casamento homossexual e o Referendo, e agora o caso Mário Crespo. E enquanto estes dois pólos da sociedade se entretêm a discutirem quem tem razão ou não, à nossa porta vão morrendo pessoas. Hoje, o Diário de Coimbra, anuncia que morreu mais um homem por overdose –são já onze nas últimas semanas. O que levará tantas pessoas ao consumo de drogas? Alguém se preocupa com isso?
Alguém questiona a falta de felicidade nos rostos de quem passa? O que espera os nossos filhos? Como vão realizar os seus sonhos? Como podem aspirar a um lar e terem filhos? E nós, a geração nascida nas décadas de 1959/1960? O que nos espera? Há cerca de duas horas estive a conversar com um comerciante, nascido numa destas décadas, que de lágrimas nos olhos, me dizia que estava simplesmente frustrado, desanimado com a forma como era tratado pelo Estado. Estava farto de ser um número que apenas servia para pagar impostos e nada mais. Ia vender tudo. Estava simplesmente deprimido. Psicologicamente, estava um caco. Dizia-me ele, “fomos uma geração das mais sacrificadas de sempre, andámos descalços, passámos fome, trabalhámos para os nossos pais, realizámos os nossos sonhos apostando nos nossos filhos, para que eles fossem o que nós não fomos, e agora, nesta depressão económica que vivemos, estamos na iminência de acabar na rua a pedir esmola. Estou profundamente decepcionado com este meu país” –e as lágrimas correm-lhe pela cara abaixo.
Com este sentimento de aversão à nossa Pátria, ao berço em que nascemos, com esta desilusão, como é possível andar para a frente? Podemos até vir com larachas filosóficas do tipo “temos que andar em frente, não podemos desanimar”. Não podemos é o tanas –e faço um grande manguito!
Alguma coisa tem de ser feito por esta sociedade, que, dia-após-dia, vai minguando e se entregando nos braços do desânimo e da descrença. O Estado, nos executivos governamentais, tem de fazer as pazes com o cidadão comum. Não pode continuar a representar o pai tirano das famílias portuguesas de há meio século atrás. Custe o custar, tem obrigatoriamente de estender as mãos a todos, para que, juntos, ajudemos a reconstruir a terra onde nascemos, crescemos, vivemos e queremos envelhecer com alguma dignidade.
Está-se a comemorar o centenário da República com muita pompa e alguma circunstância. Entendo que, para que a memória não desapareça, é necessário lembrá-la através de festas alegóricas. Porém, não podemos esquecer o balanço e ponderarmos se o actual sistema político nos está a conduzir para o deserto ou para o abismo. Qualquer deles de morte certa. Temos de parar para pensar. Temos, obrigatoriamente, de encontrar uma terceira via...
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4 comentários:
O mundo em que vivemos é regido por leis que nos ultrapassam enquanto seres humanos. Cada dia que passa somos obrigados a trabalhar mais e melhor, tudo por causa da competitividade. Há-de haver uma altura em que o ser humano não poderá progredir mais. Penso, aliás, que esse limite já está a ser alcançado, a ver pelos problemas de saúde (física e mental) que cada vez mais pessoas sofrem. Acho que estamos a chegar a um ponto em que temos de deixar a competitividade falar mais baixo e dar o lugar à justiça social. Nós não somos robots. Somos seres humanos, com grandes limitações e com emoções... O nosso estilo de vida é levado como se vivessemos para sempre! E nós não vivemos para sempre...
Um abraço,
Nuno.
Excelente artigo amigo Luis,espero que o marasmo em que nos encontramos, não nos leve ao abismo, já não falta muito.
Caro Sr.Luis, será que na nossa cidade não ocorre nada positivo?No seu blog só leio criticas e reparos. E colaboradores só o «camarada» Jorge?
Cumprimentos, Marco
Caro Marco, segundo sei o blogue está a disposição de todos, eu bem gostava de postar algo de possitivo, bem procuro mas não encontro, se tem conhecimento de algo bom ou de possitivo, força so tem de enviar para o blogue.
Abraço
PS: A critica construtiva é boa e já agora não escrevo só coisas más e faço reparos, simplesmente me limito a turnar publico o estado em que vai Portugal e mais especificamente a cidade de Coimbra.
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