sexta-feira, 18 de setembro de 2015

OS NOSSOS HOMENS DESISTEM DA VIDA

(Imagem da Web)



Há dois dias mais um homem na cidade, comerciante por acaso, colocou termo à vida. Nos últimos dois anos, várias pessoas que conhecia, alguns amigos, entre eles alguns profissionais do comércio, suicidaram-se. O que é que está acontecer aos nossos homens? Porque decidem acabar com a vida? Tem a ver com doenças que enfraquecem a sua vontade de viver? Será pela crise económica que atravessamos? Talvez valesse a pena especular sobre o assunto.
Do ponto de vista histórico, o suicídio, sobretudo nas sociedades ocidentais, sempre foi estigmatizado –ou melhor, ocultado. Nos dias que correm, embora haja já por parte da ciência médica e psicológica uma maior atenção para o assunto, ainda se procura esconder a razão da morte. Tanto quanto julgo saber, nas exéquias fúnebres a igreja tradicional, católica, durante séculos, recusou o acompanhamento religioso. Mesmo depois da proibição dos enterramentos em igrejas, na Europa, finais do século XVII e princípio de XVIII, quando se criaram os cemitérios, as vítimas de suicídio não eram enterradas próximo das ocasionadas por morte natural –em Portugal, a inauguração do primeiro espaço público dedicado ao culto dos mortos ocorreu em Dezembro de 1839, no Porto, depois  da construção do Cemitério do Pardo do Repouso.
Hoje, na tentativa de reduzir o fenómeno, já se noticia na imprensa e os próprios relatórios médicos, na certidão de óbito, estão obrigados a referir o suicídio. Naturalmente, a igreja alterou o procedimento e já não distingue uns de outros. Ainda há uma semana o Bastonário da Ordem dos Psicólogos apelava à população para estar atenta aos sinais de alerta do suicídio, para poder ajudar quem está em risco.
As causas serão várias e, obviamente, que deixarei o tema para quem sabe. No entanto sempre se pode especular que, por um lado, a vida stressante que levamos em busca obsessiva pelo ter e bem-estar, por outro, a falta de convicções, o desligamento da religião, a sacralização, e a falta de fé do homem hodierno enquanto suportes, fios condutores, para um amanhã imprevisível, levaram a um vazio espiritual, sensação de não-existência, e, até aí, tampão de complementaridade para a desilusão e a incompletude perene.
Sabe-se que algumas pessoas são mais ou menos vulneráveis a acontecimentos de trauma, Outras podem ser mais facilmente tocadas como, por exemplo, o comportamento de imitação seguido por alguém muito chegado –quem não se lembra, em Pereira do Campo, há poucos anos,  quando um rapaz de cerca de 20 anos se atirou para baixo do comboio e, um ano depois, com a mãe a segui-lhe o exemplo? Com uma nefasta coincidência incrível: o maquinista da composição que atropelou o filho viria a ser também o carrasco da progenitora.
Mas, afinal, que motivações podem despoletar o suicídio? O que pode levar alguém a desencadear o seu próprio final? Segundo Guido, aqui, os factores são de ordem psicopatológico, pessoal, psicológico e social. E podem ser enumerados assim:

Psicopatológicas:
1. Depressão endógena, esquizofrenia, alcoolismo, dependência de drogas e distúrbios de personalidade.
2. Modelos suicidas: familiares, pares sociais, histórias de ficção e/ou notícias veiculadas pelos media.
3. Comportamentos suicidas prévios.
4. Ameaça ou ideação suicida com plano elaborado.
5. Distúrbios alimentares (bulimia).
Pessoais:
1. Ter entre 15 e 24 anos ou mais de 45.
2. Morte do cônjuge ou de amigos íntimos.
3. Presença de doenças de prognóstico reservado (HIV, cancro, etc.).
4. Hospitalizações frequentes, psiquiátricas ou não.
5. Família desagregada: por separação, divórcio ou viuvez.
Psicológicas:
1. Ausência de projetos de vida.
2. Desesperança contínua e acentuada.
3. Culpabilidade elevada por atos praticados em experiências passadas.
4. Perdas precoces de figuras significativas (pais, irmãos, cônjuge, filhos).
5. Ausência de crenças religiosas.
Sociais:
1. Habitar em meio urbano.
2. Desemprego.
3. Migração.
4. Acesso fácil a agentes letais, tais como armas de fogo ou pesticidas.
5. Estar preso.



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