quarta-feira, 23 de setembro de 2015

QUE PAÍS É ESTE? QUE ELEIÇÕES SÃO ESTAS?





Antes de ontem, na Alemanha, o Presidente da República afirmou “que, em comparação com campanhas anteriores, esta campanha eleitoral para as legislativas está a correr de forma mais informativa”. Se o Chefe de Estado, o mais alto magistrado da Nação, o diz é porque é verdade! E quem sou eu para o desmentir? Pois! Acontece que, apesar de um mero cidadão, vou mesmo argumentar contra a completa falácia com que Aníbal Cavaco Silva parece querer convencer-nos. Aliás, é preocupante a forma e a substância como uma inverdade, desta envergadura, é apresentada assim aos portugueses e cuja consequência se sente na actualidade e se adivinha para o futuro. Mas vamos ao contraditório:
Não se pode compreender o tratamento discriminatório a que os pequenos partidos estão sujeitos pela imprensa em geral mas sobretudo pelas televisões. Que os canais privados, na sua lógica egoísta, procurem o seu interesse e até se estejam a marimbar para o debate e o esclarecimento popular até se entende, mas que um canal público pago por todos nós, no caso a RTP, alinhe pelo mesmo diapasão é simplesmente inconcebível. Qualquer cidadão, que preze a cidadania e defenda a igualdade de oportunidades, deveria revelar-se contra este procedimento iníquo, desajustado e atentatório, que fere de morte e investe contra a própria democracia. Não é de admirar que o rotativismo, entre os dois maiores partidos, PSD e PS, continue com as mesmas caras e a mesma política e conduza Portugal para um resultado pré-anunciado.
Esta noite passada, o debate entre os representantes do “Livre/Tempo de Avançar” e o “PEV, os Verdes”, respectivamente, Ana Drago e Francisco Lopes, foi para o ar na SIC Notícias quando passavam vinte e seis minutos da uma hora da manhã. Consegue dar-se uma explicação cabal para se remeterem estes candidatos para este horário? Na introdução do debate a própria Ana Drago deixou bem claro que “a comunicação social é uma guardiã do que já existe”.
A própria imprensa escrita, em papel, sem critério de razoabilidade, alinha pela mesma bitola. Para exemplo, vejamos a descrição de campanha feita pelo jornal “Diário de Notícias” nesta última segunda-feira. A Coligação “PAF, Para a Frente Portugal”, com Passos Coelho à frente, teve direito a uma página e dois quintos de outra –e mais à frente, na mesma edição, mais uma página quase inteira com Paulo Portas em destaque. Ao “PS, Partido Socialista”, com António Costa, foram concedidos três quintos de uma página. A “CDU, Coligação Unitária”, com Jerónimo de Sousa, teve uma página. Ao Bloco de Esquerda, com Catarina Martins, foi-lhe atribuída uma página. Ao “Agir”, de Joana Amaral Dias, que agrega o “MAS, Movimento Alternativa Socialista”, e o “PTP, Partido Trabalhista Português”, e que, pelo que parece, foi uma boa decisão mostrar a barriguinha, foi oferecida uma página. Já o “PDR, Partido Democrático Republicano”, com Marinho Pinto, teve menos de dois quintos de espaço de leitura. Os partidos “Livre/Tempo de Avançar” e o “Nós, Cidadãos” tiveram um cantinho e foram arrumados na coluna de Marinho e Pinto. A talhe de foice, lembremos também o episódio no programa de Ricardo Araújo Pereira, na TVI, em que foi mostrado o rosto de Marinho num bacio e a ser borrifado com urina. A meu ver, o que se lamenta nem será tanto o facto da imagem do ex-bastonário da Ordem dos Advogados, no programa de riso, ser presumivelmente denegrido num acto atentatório à sua dignidade. O problema reside no facto de, juntamente com os outros partidos –que foram mostrados com a sigla- só ele ter aparecido com a sua fotografia. Ou seja, se em cada penico estivesse a representação de todos os líderes já não chocaria tanto. O que mexe connosco é o duvidoso critério de (des)igualdade. E, especulando, poderemos interrogar a razão do actual eurodeputado ter sido destratado. Foi, penso, porque é o líder de uma pequena formação política. Quero dizer que, nesta acção a raiar o mau gosto e a ponderar se não haverá servilismo perante os grandes partidos, se projecta uma certa escola básica, bacoca e tacanha, em que o desrespeito por quem é pequeno assentou praça há muito tempo.
Depois da minha argumentação -feliz ou infeliz, depende de quem ler- pergunto ao senhor Presidente da República se sentirá assim tanto orgulho pelo que está acontecer nesta campanha para as eleições legislativas? Onde está a parte informativa? Ainda que não concorde comigo, lamento dizer-lhe: uma vergonha nacional! Repito, uma vergonha que não deveria acontecer num país já com alguma experiência democrática!

Sem comentários: