A propósito de um comentário de Jorge Neves, “Amigo Luís eu sou dos que digo e escrevo que sou "coimbrinha", e sobre um pequeno trecho que escrevi, vou expressar aqui sobre o que entendo ser, então, um “coimbrinha”. Gostaria de salientar, e como ressalva, que tudo o que irei plasmar será sempre no campo subjectivo e portanto –e ainda bem- sujeito a críticas. Para equilibrar, depois de escrever este texto irei pesquisar na Internet tudo o que diga respeito a este assunto.
Vou começar pela minha própria experiência. Quando tinha 10 anos, em 1966, vim trabalhar para Coimbra, para o desaparecido e saudoso Café Mandarim. Então um dos primeiros conselhos que recebi do senhor Mendes –que era o chefe do balcão da pastelaria, o proprietário era o senhor Antunes-, foi: “sempre que te dirigires a algum homem de capa e batina, ou que use gravata, emprega sempre o vocativo “senhor doutor” –saliento que as estudantes eram em menor número, mas o tratamento era alargado a este género feminino. Então acontecia uma coisa interessante: poucos eram os que repudiavam o tratamento. Embora houvesse quem o denegasse.
Penso que por aqui já dá para ver o que será então um “coimbrinha”. Ou seja, habitualmente será um trabalhador –portanto um “futrica, em antítese a estudante universitário, ou licenciado-, ou alguém que mesmo não sendo sabe que usando este apodo ganha imediatamente uma relação de proximidade. Gostaria também de dar relevo a um facto curioso: nesta relação de trato bilateral haverá um acertamento tácito de mentira entre os dois, o que cumprimenta e o que aceita o tratamento sem ser licenciado. O irónico, se posso escrever assim, é que ambos sabem que estão a colaborar numa fraude, mas nenhum se descose. O primeiro, habitualmente alguém que pretende do outro algo, sabe –e sente- que, para além do quebrar barreiras de proximidade, com este tratamento diferenciado e de favor, terá imediatamente uma abertura que não teria se não fizesse assim. Isto é, estamos perante uma falsa humildade, cujo objecto é, partindo de uma posição inferior e sabendo que todo o humano é sensível à vaidade, atingir uma posição majorada de domínio –ou pelo menos de equiparação- sobre o outro. Ou, noutro aspecto, se entendermos esta relação na psicologia de massas, “lato senso”, estaremos simplesmente num quadro de domínio social. Por outras palavras, o dominador, o “senhor doutor”, tem um prazer dobrado ao aceitar o servilismo do outro como fraqueza. No meu entender passa-se o mesmo na caridade calculista –contrária à caridade de frouxidão de que falava Nietzsche- de dar uma moeda a um pobre. Nesta relação entre remediado e pedinte, por parte do primeiro, há um sentimento imanente de repulsa e, provavelmente, até sadismo sobre o segundo. Claro que, não esquecer, há na relação entre “coimbrinha” e o falso doutor um aceitar comum da mentira, porque ambos beneficiam dela. O primeiro, porque rapidamente ultrapassa a barreira da intimidade e o segundo, porque, na vaidade, o seu ego eleva-se até ao infinito.
Ora, penso que chegados aqui, então, já poderemos classificar o “coimbrinha”. Mas antes de lá chegar gostaria de dizer que no léxico e aforismo coimbrão este “personagem” não tem um entendimento geral de unanimidade. Para uns é um ser repelente, aquele que dobra a espinha para tudo e todos. Um ser calculista que não interessa a ninguém. Um indivíduo cuja opinião é sempre igual à do seu interlocutor: se ele for comunista, o “coimbrinha” será vermelho de convicção; se for nacionalista, ele adora Salazar sem pestanejar -"um santo de homem, tão incompreendido por todos", dirá.
Para outros, e gostaria de dizer que são imensos, talvez em maioria, o “coimbrinha” é um indivíduo que vem de fora, da aldeia do interior, beiras ou serra, sobe a corda a pulso, ama mais a cidade do que verdadeiramente quem cá nasceu e será aquele que, tal como cavaleiro em defesa da sua dama, se preciso for, por ela se baterá até ao último suspiro.
Destas premissas qual será verdadeiramente a que encaixa no “coimbrinha”? Isso não sei. O que me parece elementar é que é uma pessoa inteligente, diria até esperta, no sentido popular, aquele que se agarra a qualquer meio para atingir o seu objectivo. E em síntese: será que não somos e temos todos um pouco de “coimbrinha”?
TEXTOS NA WEB SOBRE O MESMO ASSUNTO:
4 comentários:
Eu sou “coimbrinha”!
Ser conimbricense é ser de Coimbra, ser “coimbrinha” na minha maneira de o sentir e expressar é ser da baixinha, sim da baixinha e não da baixa que para mim são coisas totalmente diferentes.
O “coimbrinha” é todo aquele que nasceu, cresceu nas ruas estreitas e becos da baixinha, que fazia corridas de latichas em frente à Igreja São Tiago, que jogava futebol com e sem bola na Praça Velha (o “coimbrinha” diz Praça Velha e não Praça do Comércio), jogava às escondidas no Largo do Romal e ao bafa nas escadas laterias da Igreja São Bartolomeu e que gosta do União de Coimbra.
Eu respeito todas as definições de “coimbrinha”, se é que na verdade existe alguma definição válida.
Costumo dizer aos meus amigos que sou “filho da baixa” com residência na baixinha e só não digo que sou “filho da baixinha” porque os meus pais registaram-me na Freguesia da Sé Nova.
Em remate final um “coimbrinha” é alguém que ama Coimbra, que luta por Coimbra, que dá o “corpo às balas”, que se define como “filho da baixa”.
Portanto podemos deduzir pela explicação tão detalhada, que um "coimbrinha" é aquilo que em Lisboa se apelida de engraxador, lambe-botas, ou lambe-cus e alguns gostam de escrevinhar, mas sem aquele brio que deveria ser apanágio de quem gosta de meter a mão na pena.
Saber utilizar um editor de texto e colocar os hífenes - sabe-se lá porquê" - é diferente de -sabe -se lá porquê- ou ainda de sabe- se lá porquê.
Que puta de salgalhada, balhamedeus".
Nascido e criado em Coimbra, cidade onde vivo, constituí família e exerço a minha atividade profissional (e depois de ter andado por muito lado), não me considero um "coimbrinha", designação que considero até pejorativa... E isto devido, exatamente, à descrição fiel do "coimbrinha" constante deste seu texto, a que se poderiam juntar muitas outras características nada abonatórias...
Muitas vezes vejo concidadãos de valor, já residentes noutras paragens, assumirem-se como sendo "coimbrinhas", quase o fazendo como um "Mea culpa" por terem aceitado esses títulos e mordomias aquando ainda nada tinham feito por os merecerem...
não inventem
A diferença surge no meio acadécmico, coimbrinha eram os nascidos em coimnbra, que se distinguia dos coimbrões, os que adotaram coimbra como sua, mas que vinham de fora de coimbra.
saudações académicas!
Enviar um comentário