"Deixo aqui o apelo à mãe do Rui, dê a mão ao seu rapaz. Se não puder peça ajuda. Tem um artista em potência na sua prole."
É Sábado à noite. Estou sentado na esplanada do café pastelaria “Flor de Luso”. De ali, naquele meu ponto de observação, sinto-me um ex-guarda-florestal na sua torre de vigia a mirar a paisagem. Com um jornal e um café julgo-me um rei a avistar as suas extensas terras. Reparo que, comparativamente com outros anos e apesar de estarmos no pico turístico de Agosto, há pouco movimento de pessoas a passear na avenida da fonte, “ex libris” desta bonita terra –sempre que vou encher um ou vários garrafões de água, ao ver as 11 bicas a jorrar água continuamente em desperdício, pergunto-me porque não constroem um piscina natural com esta água que está sempre a correr? Outrora este fluxo de água corrente era aproveitado para fazer circular os rodízios dos moinhos e mover as mós de pedra que desfaziam em pó os cereais na zona de Carpinteiros. Hoje, como campas mal cuidadas em cemitério de vã glória, são restos de memórias que o tempo teima em não apagar.
A luz, nesta avenida central, é difusa. Em baixo, no terreiro de festas, junto ao antigo café do Casino, durante os últimos três dias, 13, 14 e 15, está a decorrer uma feira de mel e seus derivados. Cerca de uma dúzia de vendedores tentam justificar o seu tempo ali de plantão. Neste Sábado à noite, na rua, não me apercebi de qualquer alegoria que servisse de catalisador no chamamento de público. Quem fazia as honras da casa nesta estância turística eram a “Flor de Luso" e o restaurante “Lourenços”, com as suas esplanadas quase repletas.
Lá de cima, do meu ponto de observação, reparo num adolescente que, com um boné e óculos “à netinho” e uns auscultadores nos ouvidos, completamente alheio ao que se passa à sua volta, vai tocando viola e cantado enquanto caminha ao longo do passeio. Reparo que este miúdo tem carisma e, sem querer, identifico-me com ele. Apesar de cerca de quatro décadas de diferença, neste quadro está um pouco de mim, da minha infância. Duas horas depois, no “Pipas-bar”, enquanto passa música, volto a encontrá-lo num canto com a viola em riste sobre o peito e a querer acompanhar a melodia que jorra das colunas de som.
No domingo estava um belo dia de Sol. Notava-se mais algum movimento no canal. Como sempre, a “Flor de Luso” e os “Lourenços” estão a trabalhar bem.
À noite, a venda de mel está concorrida. Mais uma vez vou encontrar o aspirante a cantor, desta vez em plena performance, talvez a imaginar a actuar para um grande público, em cima do palco e em frente à pequena feira. Não resisto a meter-me com ele. Chama-se Rui Ferreira, tem 17 anos, e o seu maior sonho é ser músico. “É muito difícil. Isto é um meio pequeno”, diz-me em confidência, e como se eu não soubesse. “A minha mãe é cozinheira no Hotel Éden, diz-me. Deixo aqui o apelo à mãe do Rui, dê a mão ao seu rapaz. Se não puder peça ajuda. Tem um artista em potência na sua prole.
Passado um bocado, actuaram os gaiteiros de Barcouço. Foi um espectáculo pobre, no sentido de que este grupo, que conheço relativamente bem, estará mais vocacionado para arruadas. Ou seja, estava fora da sua praia.
Na segunda-feira, dia 15 e feriado, novamente o Luso foi presenteado com bom tempo. No Céu dois jactos, como a assinalarem o dia santo, cruzam-se e, com rasto branco em Olimpo azul, formam uma cruz. A manhã começa bem. Está calor e a canícula convida-nos para um mergulho. Dirigimo-nos para a piscina municipal. Um papel na porta anuncia que abrirá às 13h00.
Vamos fazer “piscinas” para a esplanada do café ao lado e que detém uma vista de excelência sobre o lago em baixo. Quando a torre sineira da igreja ali tão próximo nos avisa de que são horas de repasto, passamos para a zona de restaurante. Algumas mesas estão ocupadas com casais que, presumivelmente, teriam vindo visitar esta terra abençoada por Deus. Almoçámos um arroz de pato que estava magnífico e o preço, tendo em conta a qualidade do serviço, foi médio –aliás, toda a gastronomia servida por aqui, pelo Luso, é de elevada qualidade.
E transpomos a porta de entrada para a piscina municipal e paredes-meias com este restaurante. Depois de pagar 2,50 euros, à minha pergunta sobre a razão porque, contrariamente a outros anos, agora, só abrir depois do almoço, a simpática funcionária respondeu que é por causa da crise. “Temos pouco pessoal”, retorquiu.
Enquanto percorríamos a distância por entre corredores até aos vestiários comecei a notar algum abandono das instalações. De meia-dúzia de “palibans”, quatro estão com notória ferrugem. Um deles estará mesmo incapaz para consumo. Por cima destes, dos seis chuveiros, só quatro estarão funcionáveis. Em dois, inoperacionais, faltam-lhes os crivos.
Ao sair destas, em direcção até à zona de mergulho, no chão, o receptáculo de um necessário tapete estava vazio. Logo a seguir, o lava-pés, uma pequena porção de água que intermedeia estas duas áreas, estava seco.
Juntamente com a minha mulher, instalámo-nos numa mesa, de entre várias, em frente à piscina. Atrás de nós, trocando impressões, alto e bom som, um casal de meia-idade com pronúncia francesa, reclamava contra a condição em que se encontrava toda a área de lazer e apontava vários guarda-sóis em mau estado. Ainda me chamou mais a atenção para vários equipamentos que deveriam estar em melhores condições, desde um chuveiro que não funcionava até um Jacob do lixo.
Se estes equipamentos pertencessem a um privado poderiam estar em funcionamento? A crise anda no ar, mas não pode servir para desculpar todos os actos de desleixo. Será assim que a Câmara Municipal da Mealhada pugna pelo interesse turístico do Luso?
(TEXTO LEVADO AO CONHECIMENTO DA CÂMARA MUNICIPAL DA MEALHADA, ATRAVÉS DO E-MAIL gabpresidencia@cm-mealhada.pt)
(TEXTO LEVADO AO CONHECIMENTO DA CÂMARA MUNICIPAL DA MEALHADA, ATRAVÉS DO E-MAIL gabpresidencia@cm-mealhada.pt)
3 comentários:
Parabens Luis pelos bons momentos no centro de Luso. E é também muito boa a tua INSPECÇÃÒ às piscinas. Oxalá te leiam lá pela CMM e pela Junta de Freguesia. E no Luso não havia uma JUNTA DE TURISMO? Alguma destas entidades locais é que deveria gerir a tal piscina (porquê funcionários da Câmara?)...
Obrigado, Adelo -desculpa tratar-te assim, em boa verdade não sei quem és-, como informação, digo-te que mandei o texto para o jornal Mealhada Moderna. Portanto, se for publicado, chegará onde deve. Para além disso, a minha intenção ao enviar para o teu blogue -tal como o "Amo-te Luso"- era que vocês publicassem este texto em primeira página, para que os vossos leitores pudessem ler.
Abraço, amigo, e obrigado.
Olá amigo o meu nome é Júlio Parente sou de Seia. faço parte de um grupo de amigos das duas rodas, chamado Roda Punho da povoa nova, no dia catorze de setembro fizemos um passeio a mira no regresso paramos no luso, e encontramos o Rui que tocou umas musicas para nós e reparei na sua cara um pouco triste ao cantar que não lhe davam grande atenção. ao terminar a sua musica ninguém bateu palmas resolvi bater eu palmas e dizer aos meus amigos para bater também tirei um sorriso da cara do rui que valeu pelo dia inteiro. repara que tinha a sua viola estragada já um pouco velhota. eu junta mente com os meus amigos estamos a organizar uma ida ao luso para oferecemos uma viola nova ao Rui é claro que descobri o Rui através do seu blogger. agradecia muito que entra-se em contacto comigo para fazermos esta oferta ao Rui.
Pode contacte-me para o meu telemovel:965843144 ou pelo mail:julioparente@hotmail.com.
O meu muito obrigado
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