O Diário de Notícias de hoje, em primeira página, apresenta o seguinte título: "PSP investiga violência entre ex-deputado e o marido".
Nós, os mais velhos como eu, filhos de um tempo em que só pelo simples facto de alguém nos tomar por homossexuais era aterrador, perante uma "cacha" destas, olhamos, lemos, voltamos a olhar e repetimos o ler. É como se esta notícia ferisse a nossa sensibilidade. É como se o mundo andasse para trás e desse uma volta ao contrário.
Admitamo-lo, esta minha geração de 1950/60, pela força abstrusa, deficiente, da educação da altura -em que o paradigma assentava num hipócrita modelo de macho latino-, hoje, apesar de alguma evolução, ainda não convive bem com a homossexualidade. No entanto, demos a mão à palmatória, devagar, devagarinho, temo-nos tornado mais tolerantes com a diferença de cada um.
Sejamos um pouco inteligentes. Se ser tolerante não é o mesmo que aceitar, é, no entanto, um meio caminho a percorrer para olhar o diferente como um igual a nós. Aparentemente, é tudo muito simples quando afirmamos que ver um casal de homossexuais, homens, abraçados na rua, não nos faz qualquer espécie de questiúncula mental. Porém, todos sabemos que num primeiro olhar, há uma carga elevada de choque e condenação. No segundo olhar, em processo de admissibilidade, chegamos à tolerância, mas, mesmo assim, não deixa de nos prender a atenção. É um pouco como um negro nosso amigo. A diferença está sempre implícita no nosso olhar de amizade. Bem sei que muitos contestarão esta minha análise, mas, a meu ver, é assim mesmo. É lógico que se temos obrigação de caminhar para um outro olhar de, na diferença, vermos apenas um igual para igual, o certo é que no nosso "cartão genético", no "hardwere", está lá gravada esta ideia absurda de considerar o diferente como alguém que não é feito da mesma massa como nós.
Por outro lado ainda, no meu entender, a lei que admitiu os casamentos entre pares do mesmo género esteve muito bem. Ainda que custe a admitir, e se calhar como violadora da vontade de muitos de nós, provavelmente teria sido a única maneira de impor uma moralidade certa -ainda que não aceite pela maioria- através de um meio incerto e imposto pela coercibilidade da lei como instrumento de povoamento cultural.
E comecei a escrever a este texto -que deveria ser pequenino, como pequenino é o meu saber- por causa do título do DN. A meu ver, os meios de informação, para além de informar, acima de tudo, devem formar -no sentido de nos levar a um pensamento positivo e não discriminador, seja de cores, credos, sexos, políticos, ou outra coisa qualquer.
Ora, perante um chamar de atenção para um acto de violência doméstica, aqui, no jornal, o que ressalta é o espectáculo de um casamento entre dois homens. Ainda mais pelo facto de um deles ter sido deputado. Salvo outras opiniões, creio que estamos perante um jornalismo rasteiro, degradante e que, contrariamente ao seu objecto, desinforma os leitores. Talvez valha a pena pensar nisto.
1 comentário:
É muito difícil para as famílias e especialmente para os jovens falar da sua homossexualidade por isso, muitas vezes, este assunto permanece sob forma de segredo.
As famílias, em geral, operam a partir de uma crença de que os filhos são heterossexuais e, portanto, seguirão estilos de vida e experiências heterossexuais: casar, ter filhos, ser pais, avós...
O que acontece àqueles jovens que se sentem diferentes, desde a infância?
O preconceito social que assistimos, nas atitudes dos pais e amigos e comunicação social em relação aos homossexuais, leva os filhos a reprimirem seus impulsos, escondendo sua verdadeira identidade sexual.
Na minha perspectiva as modificações não são fáceis de atingir, porém a mudança de mentalidade serão o caminho a seguir.
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