Meu caro Ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, espero que esta missiva o vá encontrar de boa saúde e na companhia de quem mais gosta. Não sei se já estará mais ambientado aos ares de Lisboa, porque, como sabe e sente, esta terra do Tejo não tem nada a ver com Vancouver, lá pelo Canadá, por terras da América do Norte.
Lemos hoje, com muito júbilo, na comunicação social essa sua intenção de, provavelmente, começar a taxar as entradas de carros nos centros das cidades. Em nome, salvo seja, da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, venho por este meio manifestar-lhe o nosso mais efusivo apoio. Até que enfim temos um ministro com “eles” no sítio, como quem diz, com os neurónios, está de ver.
Há muito tempo, amigo Álvaro –posso tratá-lo assim?- que defendemos esta medida. Até nos admiramos como é que, em nome do princípio do interesse público, não foi levada avante há mais tempo. Então não está de ver que se as pessoas forem obrigadas a andar a pé ficam mais saudáveis e duram mais? E naturalmente o Estado gastará muito menos no endividado Ministério da Saúde. Então isto não é lógico, amigo Álvaro? É certo que nós, a grande superfície comercial, vamos levar com os carros todos e obviamente ficaremos muito pior, mas, isso, também não será coisa que um pequeno subsídio às nossas empresas não possa resolver.
O que o amigo poderá sempre contar é com o nosso incondicional apoio, sobretudo num momento de grave crise nas finanças públicas, como este que estamos a viver. Pelo país faremos tudo. Até, se preciso for, a levar com todo o monóxido de carbono nas nossas instalações.
É incrível, amigo Álvaro, como é que os seus antecessores não viram a eficácia de tal medida. Correcta. Correcta não, correctíssima! Então isso não é lógico? Excluindo o interesse público, então não está de ver que essa sua (nossa) medida tem tudo a ver com o comércio tradicional? Se falamos de tradição, é evidente que o andar a pé está directamente ligado ao comércio de rua. Mas isto não é claro, amigo Álvaro? Nós, associação e o amigo, que já andamos há muitos anos nesta vida e estamos fartos da apanhar pontapés no traseiro, já estamos a contar que esses calaceiros, atrasados no tempo, comerciantes de mercearia antiga, irão barafustar e gritar que até parecem doidinhos, mas o amigo não se deixe abater. O senhor está certo. E em política certeza é sinónimo de convicção. Por isso mesmo não ligue às farpas que, antevemos, esses tradicionalistas do tempo dos comboios –que felizmente o seu Governo tão bem está a contribuir para acabar com esse anacrónico meio de transporte- irão arremessar.
Não se deixe ir abaixo das canelas na sua crença. O amigo Álvaro está carregadinho de razão. Os carros não devem entrar nas cidades –por isso mesmo há mais de uma década que aconselhámos os nossos associados, a grande área comercial, a ficar nas entradas e arrabaldes dos grandes aglomerados citadinos. A cidade é para se circular a pé. É isso mesmo, amigo Álvaro.
Um grande abraço, meu caro e fraterno amigo.
(Presumivelmente, em nome da APED)
P.S. –Se por acaso esses gajos do comércio tradicional fizerem muito “basqueiro”, não ceda. Estes camelos nem vêem que é para seu bem e para a sua saúde. Quanto muito, e se a tal se vir obrigado, abra uma excepção para circulação de cavalos nos aglomerados das cidades, assim como a Polícia Montada lá no Canadá.
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