(IMAGEM DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)
Ontem, no decorrer da reunião do executivo camarário, foi denunciado, por Carlos Cidade, vereador do PS, (mais) um desvio nos Serviços Municipalizados de transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) de 600 euros. Lembro que, segundo a imprensa, os SMTUC estão a ser investigados pela Polícia Judiciária por um “desvio” de 200 mil euros das receitas do concerto da banda irlandesa U2, em Outubro de 2010. Ao que se consta, tal estratagema já virá de 2003 e que teria começado como o concerto dos Roling Stones, aquando da inauguração do Estádio Cidade de Coimbra.
Hoje o Diário de Coimbra noticia que o funcionário alegado autor material do furto dos 600 euros foi encontrado morto em casa por suicídio.
Ao trazer à colação o nome do vereador Carlos Cidade pretendo responsabilizá-lo pelo feito tresloucado deste homem, empregado nos Serviços Municipalizados? Não senhor! A cada um a sua imputação. O vereador ao denunciar fez o que tinha a fazer e no âmbito da sua competência municipal. Nada a apontar. Foi para isso que foi eleito.
Então, nesse caso, porque escrevo? Interrogará o leitor. Talvez para chamar a atenção que casos como este cada vez mais irão surgir e, como tal, terão de ser tratados com cada vez mais sensibilidade.
Sem entrar em grandes tiradas filosóficas, todo o homem, tal como noutras acções, é um potentado e eventual ladrão. Tudo depende da necessidade –que origina a causa-, da circunstância –que leva ao efeito- e da ocasião –que facilita o acto. Precisamente por a acção de furtar, matar, cobiçar e adulterar, ser imanente ao ser humano é que é sancionado pela moral, através de leis divinas, e pelo direito positivo no seu todo.
Quem nunca furtou, num qualquer momento da sua existência, que atire a primeira pedra.
Não estou a tentar desculpabilizar o acto, o que quero dizer é que, nos tempos correntes, estou em crer que cada vez mais irão surgir pequenos furtos como estes e é aqui que é preciso as grandes empresas, como os SMTUC, deverão tratar o assunto com todo o melindre. Porque não se pode confundir a árvore com a floresta. Ou seja, especulando, este homem furtou 600 euros –quem sabe num momento de tentação para resolver um grave problema de finanças que o atrofiava-, pela vergonha, pelo estigma social, pela depressão que já o minava, certamente deu a vida para não encarar a esposa, o filho, os vizinhos. E os que “desviaram” –sim desviar, porque aqui, ironicamente, até substituímos a palavra- 200 mil euros? Estão a ser investigados, já sabemos, mas serão condenados? Provavelmente serão, embora muita água vá correr ainda debaixo da ponte. Mas sarcasticamente, porque haverá muitos envolvidos e todos concorrerão para a ocultação dos factos, serão mais depressa perdoados. E é aqui que é preciso pensar: estes 600 euros valerão o peso de uma vida?
2 comentários:
Não vou nem posso me alongar muito sobre este assunto por questões profissionais.
Quero iniciar este meu artigo afirmando categoricamente que o Carlos Cidade simplesmente cumpriu o seu dever de Vereador e a Comunicação Social desempenhou o seu papel que é de trazer a publico estas noticias, mas não se deve esquecer que estas questões devem ser tratadas com muito cuidado.
Se ambos os casos de desvio de dinheiro estão interligados ou não o tempo o dirá ou não!
Em relação ao caso dos 600 euros, aposto que existe por este Portugal fora muitos casos de 600 euros ou de menor montante, a crise que tanto apregoam e que é real leva a estes actos de desespero, ninguém poderá dizer que desta água não beberei.
Se por ventura desviou os 600 euros foi por necessidade financeira, é neste pressuposto que quero acreditar. Se meteu termo á vida por vergonha do que fez, já que segundo a comunicação social ele assumiu que o tinha feito, demonstra que tinha sentido de responsabilidade e só cometeu tal acto por puro desespero.
É com tristeza que escrevo que situações destas infelizmente vão acontecer de forma quase diária, uma grande percentagem das famílias portuguesas já não conseguem pagar as suas despesas mensais. Pergunto eu, será que só as famílias são as culpadas por fazerem uma vida que não está ao seu alcance?
Será que os Bancos não são responsáveis também pela forma que incentivavam ao crédito?
Será que os Governos não são responsáveis também pelas políticas e gastos astronómicos no afundamento de Portugal?
Será que o corte nos vencimentos e a extinção do abono de família a muitos portugueses não contribui para situações destas?
Ninguém é responsável por tudo isto?
Só o desgraçado do pequeno trabalhador é que tem de pagar a factura nem que seja com a sua própria vida em acto de desespero?
Quero deixar aqui os meus mais sinceros sentimentos a toda a família, embora eu não conheça a pessoas em causa sou amigo de alguns familiares.
É bo que o sr Carlos Cidade denuncie tb os seua colegas de partido que já desviaram bem mais.
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