sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ESTAMOS VIVOS? MOSTRE! SORRIA!

(IMAGEM DA WEB)



 De repente dei por mim a pensar no “homem do adeus” –José Serra, que faleceu há dias em Lisboa e em que se tornou notado por, na última década, estar diariamente na Rotunda do Saldanha a dizer adeus a quem passava, acenando com a mão. 
Há dias, em São Paulo, Brasil, uma rádio local, lembrou-se, logo de manhã, antevendo grandes filas de trânsito e que os automobilistas estariam tensos, stressados, de apelar para que todos dessem um sorriso à pessoa do lado. E, num gesto simples de criança, desmanchando o rosto hirto, todos corresponderam ao chamamento e todos sorriram.
Há uns anos atrás vi um filme no cinema que, para além de nunca mais esquecer, marcou-me profundamente. Chamava-se e continua a ter o mesmo título: “Favores em cadeia”. Tratava-se de uma história que girava em torno de uma revolução silenciosa. Tudo teria começado com uma ajuda de alguém a outro alguém. Um favor. Quem o recebeu teria ficado tão agradecido que quereria pagar de qualquer maneira. O prestador da ajuda apenas aceitou uma forma de pagamento: que o beneficiário da graça, para ressarcir o favor recebido, ajudasse alguém. E assim se criou uma nova religião. Onde o “re-ligare” não reside no venerar um ente único e supremo, mas no dar colectivo a alguém sem olhar a quem. Como se esta dádiva anónima quisesse significar uma mensagem: “ajuda alguém, serás feliz e, com esse gesto, num movimento de simpatia continuado, estarás a incutir a mesma acção noutro, e assim, apenas com um pequeno sinal de boa-vontade, estarás a tornar o mundo à tua volta melhor!”.
Lembrei-me destes exemplos, mas haverá muitos mais. Hoje, com a subida em flecha do materialismo, aumentando o individualismo, onde o que conta é o ter e pouco o ser, passámos todos a olhar apenas para o nosso umbigo, transformámo-nos em máquinas egocêntricas.
Perdemos aquela mensagem simples deixada pelos nossos pais de passar pelo nosso vizinho e saudá-lo com um vigoroso “bom dia!”. Progressivamente, também fruto de uma revolução feminina e assente numa falaciosa igualdade de facto, quando entre dois seres tão diferentes só poderá haver equidade nos direitos, o homem foi perdendo o hábito de abrir a porta à mulher e deixá-la entrar primeiro.
Aos poucos fomos deixando de sorrir. Enveredámos todos pelo sisudo e introspectivo. Passámos a considerar que se alguém ria, ou era de nós ou era louco. Passámos a estabelecer uma relação directa no alienado que sorri e encontramos numa qualquer rua da cidade. Começámos a inferir que sorrir simplesmente por sorrir era um distúrbio de personalidade. E paulatinamente o ar sério, como máscara que se cola ao rosto, passou a ser o nosso traço habitual de fisionomia.
Deixámos de considerar o outro não como uma extensão de nós mesmos, da nossa humanidade, mas um ente que apenas habita o mesmo espaço terreno. Passámos a olhar para cada um, e a considerá-lo, apenas pelo valor estatutário que ocupa na sociedade. Basta atentar-se nas redes sociais. Se um idiota qualquer, mas que é muito conhecido publicamente, diz um qualquer disparate ou nos instiga a substituir a foto por uma qualquer boneco de banda desenhada, a maioria de nós, como carneirada irracional, seguindo só a importância do "mostrengo", aí vai, seguindo-o até ao inferno, sem se questionar na sua leviandade.
Num narcisismo absoluto, habituámo-nos a ler o que o cidadão anónimo escreve em defesa da cidadania, dos nossos direitos, das nossas obrigações, e nem ao menos um simples comentário, de “gosto” ou “não gosto”. Somos incapazes de escrever ou proferir um agradecimento. Esquecemo-nos, tantas vezes, que é nesse simples gesto que estamos a incutir força para que o cidadão continue. A participação política, entre pessoas na polis, não é apenas o intervir nas relações poder-cidadão. É sobretudo investirmos na relação de proximidade entre pessoas. Se alguém ascendeu ao pódio da notoriedade e foi graças ao seu esforço, ou não –para aqui é irrelevante-, não será por esse facto que deixou ser uma pessoa igual a nós, com os mesmos defeitos e virtudes. Pelo facto de remontar-se a uma determinada posição na vida social, certamente, lá na sua mente, continua lembrar-se da sua vida de menino, do senhor Manuel da mercearia da esquina, que até lhe dava um chupa-chupa. Se é assim, porque procede para o comum dos cidadãos como se fosse um iluminado no meio da vulgaridade?
Posso pedir-lhe um sorriso? Então?! Sorria, alminha de Deus!!

2 comentários:

Sónia da Veiga disse...

:-D

Um sorriso aberto e um aplauso por tão bem escrever acerca da carneirada sisuda que abunda hoje em dia.

E obrigada pelos "gosto" lá na rede social, porque realmente dão força para continuar! :-)

Continue nesta senda que tem o meu incondicional apoio.
E peça muitos sorrisos, que (ainda) são de borla!!!

Anónimo disse...

Além do sorriso, tem direito a um prémio.

http://reinvestir-portugal.blogspot.com/2010/11/premio-dardos.html

Um grande bem-haja e obrigada pela divulgação da campanha do "Comprar Local e Nacional... Reinvestir em Portugal!".