segunda-feira, 9 de agosto de 2010

VALHA-NOS SANTA HELENA...





 Esta noite, o quiosque da dona Helena, na Rua dos Oleiros foi mais uma vez assaltado. Desde Dezembro de 2008, contando com este esventramento, é a quarta intrusão.
“Levaram Revistas, dvd’s, vários perfumes, chicletes e chocolates. Olhe, ainda não contabilizei bem mas, certamente, andará à volta de 2000 euros. Repare que ainda estou a recompor-me de um outro assalto que sofri no passado dia 13 de Julho, do mês passado”, diz-me coma voz meio embargada pela dor.
A senhora Helena é uma lutadora, daquelas que, mesmo no chão, se preciso for, até à exaustão, mordem o adversário. Quem a conhece bem sabe que é preciso muito para estar em “baixo”, mas hoje, noto, está infeliz. Apesar disso, sempre me vai adiantando que, “perante uma adversidade, eu não sinto imediatamente o golpe. Fico assim meio para o anestesiado. Só lá para noite, depois de ir para a cama, e dormir duas ou três horas, lá para as três da manhã, acordo e começam as interrogações: “porquê?...Porquê? …Porque é que isto me está acontecer?”.
Prossegue a comerciante de venda de jornais e revistas, “é triste, sabe?, às vezes apetece-me ir ao café e não vou para não gastar, e, de repente, pumba, uma pessoa leva um “chimbaléu” destes. Como é que uma pessoa aguenta? Diga-me lá? As minhas despesas mensais são de 837 euros. Nem mais nem menos. Ora, a vender jornais, que dão tão pouco…o que ainda me vale é a cobrança da EDP…mas mesmos assim? Acha que vale a pena?”. Interroga-me em retórica.
E como encara o futuro? Questiono, assim numa daquelas perguntas mais estúpidas que pode haver. “O futuro?”, - ensaia um sorriso meio amarelo. “O senhor acha que, na actual conjuntura de insegurança que vivemos, poderemos pensar no futuro? Olhe, vamos andando até que Deus queira”.
Foi chamada a PSP, que tomou conta da ocorrência. “Vá lá que desta vez o agente até foi simpático e compreensivo comigo. Eles têm que entender que uma pessoa, quando chega aqui de manhã e encontra um cenário destes, fica fora de si. Há cerca de três semanas, em 13 de Julho, quando sofri outro assalto, o agente de segurança pública que veio tomar conta da ocorrência, falou-me com duas pedras na mão. Parecia que eu é que era o criminoso. Estava a ver que ainda me levava presa”.

2 comentários:

Jorge Neves disse...

É TRISTE MAS É A REALIDADE DA BAIXA. ATÉ ME ADMIRO, PELA "CLIENTELA" DO FUNDO DA RUA, NÃO ACONTECER MAIS VEZES.TODOS NOS SABEMOS E AS AUTORIDADES COMPETENTES TAMBEM

LUIS FERNANDES disse...

Obrigado, Jorge, por ter comentado.
Abraço.