A FEIRA INTERNACIONAL DE ARTESANATO DA PRAÇA VELHA, VISTA PELO "OLHO DE LINCE"

 São 10H30. A azáfama é enorme na Praça do Comércio, no compor das barraquinhas de comes-e-bebes, que, hoje e amanhã, vão dar um novo colorido e movimento à Baixa: é a Feira de Artesanato e Sabores Tradicionais, realizada pela junta de freguesia de São Bartolomeu, com o apoio da Câmara Municipal de Coimbra e pela Empresa Municipal de Turismo.

 O homem que desliza por entre os artesãos, como mestre-de-obras a saracotear pelo meio do empreendimento, é o Carlos Clemente, o presidente da junta. Está feliz. Está como gosta de estar: rodeado de gente e sempre a lavrar na terra esquecida da Baixa da cidade. Não tem mãos a medir. Não sabe para onde se há-de virar. Vários jornalistas estão à espera. É o jornalista do "Diário de Coimbra", é o do "Diário as Beiras", são todos os jornais nacionais. Da vizinha Espanha, em fila de espera, está o “El País”; de França o “Le monde; da Alemanha o "Rhein Zeitung"; da Itália o "Corriere Della Sera"; de Inglaterra veio o "The Times"; de terras do tio Sam veio o "The New York Times", e até o Vaticano mandou um correspondente do "L’Osservatore Romano".

Quando vi aquela plêiade de jornalistas todos juntos, disse cá com os meus botões: “ó “Olho de Lince”, estás mesmo lixado. Perante tantas estrelas, o teu amigo Clemente, que também dá tudo para brilhar, hoje não te passa cartão”. Estava eu assim a pensar, quando de repente se ouve assim um barulho…(zzzuuummm)…parecia aquele arrastão na praia da Caparica…há dois anos…não sei se se lembram? E então o que era? Olhe, eu seja ceguinho, que até me custa descrever. Então não era o Clemente assim à frente, quase em corrida, como se tivesse o turbo ligado –não sei se estão a ver?-, e os jornalistas todos, agarrados ao casaco do homem, que pareciam tolinhos, a puxarem o presidente da junta com toda a força. Mas, qual quê? Quem é que o parava? Quando comecei a ver aquilo, aquela massa de gente a vir na minha direcção, comecei a sentir as pernas a tremerem todas, que parecia uma cana no canavial tocada pelo vento. Na minha cabeça, as palavras martelavam mais que o bombo do Serafim gaiteiro: “ai, nossa Senhora dos Aflitos!”. O problema é que, vá-se lá saber porquê –deve ser o sintoma do medo-, fiquei pregado ao chão como se tivesse grude, assim como a estátua do Joaquim António Aguiar, ali na Portagem, não sei se estão a ver. Foi então que o “torpedo” Clemente, com aquela tropa macaca toda atrás, estaca ao pé de mim e, com aquele vozeirão de trovão, assim naqueles dias de inverno maldisposto, abre os braços, assim no género do Cristo-Rei, no Corcovado, e exclama: “estás bom ó “Olho de Lince”…dá cá um abraço…pá!”. Pela alminha do Santo Onofre, que preciso muito da sua boa aventurança, que fiquei de cara à banda. Ora toma lá! Só queria que vissem os enviados especiais internacionais todos de queixo no chão. Então, prosseguiu o Clemente: “ó “Olho”, se não te importares, falo contigo mais tarde. Agora vou dar uma entrevista ali ó Carlos Gaspar…aquele gajo da Rádio Regional do Centro. A seguir, já sabes, é para ti. Temos de privilegiar a informação caseira…é ou não é? Esse maralhal lá da “estranja” que aguentem os cavalos! Sabes que daqui a pouco vem aí o Encarnação inaugurar a feira internacional da Baixa, a vereadora do pelouro da Cultura, a Maria José, e cá do meu partido, sabes como é, virá o Carlos Cidade, o Álvaro Seco e o António Vilhena. Agora, em primeira-mão vou-te contar uma “cacha”…toma bem atenção “Olho de Lince”, sabes que até o Henrique, o governador Civil, vai mandar um representante? Ah, pois! Brincamos ó quê? A minha feira internacional é mais importante que a CIC…é ou não é? Bom…quer dizer, se eu estivesse à frente daquilo –tu conheces-me, pá!- até os plátanos do “choupalinho” dançavam a minha música!

Se não falarmos hoje, dou-te a entrevista amanhã. Não te esqueças que amanhã, aqui na praça, temos cá “forró” durante todo o dia. E à noite, às 23 horas, temos cá a Eneida Marta, aquela rapariga de Cabo Verde, que tem uma voz de ouro e deixa a milhas a Cesária Évora…ah pois! Comigo é assim! Tu já me conheces, pá!...