segunda-feira, 26 de julho de 2010

BOM DIA PESSOAL...


(IMAGEM DA WEB)









 Ói! Então…então…como é que estão, bem? Pelo seu rosto, de tez bronzeada, que até parece o Anacleto, aquele santomense que mora ali no beco do “chega-te a mim que estou carente” –não sei se está a ver onde é-, tudo indica que o amigo está aí para as curvas.
Já sei que ontem esteve na “Expofacic”, em Cantanhede, a abanar o capacete ao som dos “Xutos & Pontapés”. E fez você muito bem! Homessa. O que é preciso é gozar a vida. Aquilo é que é uma feira, “c’um caraças”! A gente até fica apardalado…é ou não é?
Porra, até me apetecia desancar nesta cultura que se semeia e cresce bem à nossa frente, que é de se propalar, em jeito de rendição, a tudo o que é grande. Mas, perante este sucesso, deste mega-projecto de mostra empresarial, como é que posso continuar? Se calhar vale mais estar quieto. Não acha? Não sei se você já percebeu onde quero chegar…se calhar não. Ah, pois não! Se nem eu sei para onde vou, como é que você pode saber?
Pronto, mas mesmo aos arremessos, aos trambolhões, como um gajo bêbado que, pelos farrapos ininteligíveis, não se percebe nada do que diz, vou continuando. É assim, uma pessoa vê aqui a CIC, Feira Industrial e Comercial de Coimbra, que se realizou há menos de um mês aqui na cidade, olha para aquela amostra de feira, aqui em Coimbra, e diz: “fosca-se para isto! É muito pequenina! Se, aqui, no “choupalinho”, tivesse uma capelinha, a substituir o piano em pedra do Vasco Berardo, pareceria a romaria do Santo Amaro. Dever-se-ia acabar com isto. Esta coisa só serve para gastar dinheiro”.
Logo a seguir, por um acaso que não lembra ao diabo, o carrinho em que nos fazemos transportar, aquele que já tem mais de dez anos, que chia mais que a porta centenária da menina Ermelinda, aquela velhota que é virgem e que, pelo menos uma vez na vida, antes de “bater a bota”, adorava fazer um chinfrim assim, mas qual quê?, já ninguém olha para ela. Antigamente ainda havia alguma esperança no carteiro –assim a estender os lençóis num romance do Pablo Neruda-, agora com estas modernices todas e mudanças de costumes –já ninguém escreve nada à mão, é tudo por computador, com contas para pagar, só o senhor da luz, da água, do telefone, é que se lembra de nos cumprimentar calorosamente-, uma pessoa tem de morrer imaculada como Nossa Senhora.
 Ai!, mas porque é que eu recordei aqui a menina Ermelinda, que mora na rua do “vai-te embora”, não sei se está ver quem é, se calhar não. Que coisa! Porque seria? Eu seja ceguinho se me lembra alguma coisa. Bom, mas isso também não interessa nada…
Ah…já me lembro outra vez! Estava eu então a dizer que o carrito em que se viajava, e que andamos com ele nas palmas das mãos a pedir a todos os santos que não avarie, de repente, pumba! Pariu no meio da estrada. Uma pessoa liga para o mecânico de família, aquele que nos últimos dez anos, em nome do estado social de insuficiência financeira, passou a olhar por nós –porque deixou de haver dinheiro para ir ao stand da marca do automóvel-, e, do outro lado, ele responde que, em nome do Santo Parâmetro que nos promete proteger a todos, foi obrigado a encerrar o “estaminé”, porque, segundo os novos critérios da Comunidade Europeia, o atelier de mecânica que sempre serviu toda a vida para ele alimentar a família, agora, já não serve. E uma pessoa, assim com cara de burgesso, solta uma imprecação, parecendo ouvir a voz cá dentro a martelar, assim como naqueles pesadelos confusos, e sente-se arrefecer como se fosse tocado por um vento glaciar que magoa o rosto e causa arrepios.
 Dá uma volta pela cidade medieval, entra numa qualquer rua estreia, o que mais o rodeia é o silêncio, embora temperado com algum mistério, e, como espelho a reflectir a nossa alma, naquela pincelada de infância, procura nos quadros de paisagem aquele pequeno estabelecimento, que ainda a semana passada lá estava a desafiar o destino, e o que encontra é uma moldura de vidro forrada a jornais.
Continua a caminhar, pelo empedrado da calçada e repara que falta qualquer coisa nesta outrora visão idílica que tanto povoa a sua memória. Talvez faltem sons, odores, um cão a ganir, um gato a miar, sei lá! Mesmo assim, ainda ouve, aqui e ali, uma lengalenga de um cego a rogar “uma moedinha por amor de Deus, Senhor”.
Olha à volta e, em soma de activo e passivo, em balanço existencial, pensa que tudo o que é pequeno está a desaparecer em proveito do grande, do enorme, do mastodonte. Por momentos, em viagem temporal, vai cair na História do Mundo, lembra-se que tudo começou assim, com os grandes monstros pré-históricos e um dia, sabe-se lá o que aconteceu, um dilúvio justiceiro veio equilibrar as coisas, e a Terra tornou-se mais equitativa e justa para todos.
Ai!...Mas porque é que eu comecei a escrever este texto? Não faço a mínima ideia. E você saberá? Compreendeu alguma coisa disto? Claro que não! Quem é que entende?...

2 comentários:

Jorge Neves disse...

A CMC e ACIC, DEVEM METER OS OLHOS EM CANTANHEDE.

Anónimo disse...

Compreendi Luís,compreendi que o amigo anda cada vez mais desiludido.Costuma-se dizer que as conversas são como as cerejas,e eu acrescento que com os textos,artigos e crónicas é o mesmo.Começa-se com um tema ou assunto,fala-se(escreve-se) noutro,e acaba-se com outro ainda,todos diferentes mas com a mesma desilusão e tristeza.
Estou totalmente de acordo consigo quando compara as feiras comerciais de Coimbra e Cantanhede,ou seja,não tem comparação.É incompreensível que uma pequena cidade como Cantanhede tenha mais vida comercial e industrial que a capital de distrito,a cidade do conhecimento que forma quadros superiores de qualidade.Mas que não consegue,depois de formados,que fiquem na cidade.Cantanhede está de parabéns,a autarquia consegue captar investimentos para o concelho de nivel elevado e qualidade superior.Tem um parque industrial com condições apeteciveis para as empresas.Veja-se o Biocant.Olhe-se o campo de Golf e o complexo de ténis.Até uma empresa de congelados(Frisaba) trocou coimbra(esteve em Eiras durante anos) por Cantanhede.Porquê?Os preços praticados pela Camâra Municipal são menos de metade!!
Marco