quarta-feira, 21 de julho de 2010

EDITORIAL: ESTA IGNOMÍNIA QUE ATROFIA




 Por aqui, pela cidade, em conversas de café, nas poucas janelas ocupadas da Baixa, todos falam desta pouca-vergonha em que se transformou o Metro Ligeiro de Superfície.
Desde 1996, desde a celebração da escritura pública da empresa, que andamos neste engodo. Com as administrações, desde essa data, a ganharem balúrdios; desde indemnizações pagas a pessoas que foram transferidas para a periferia e outras, segundo se consta, que a empresa está pagar rendas; comerciantes que, sobre a ameaça de expropriação assinaram acordos, e hoje estão na miséria. Em nome de um meio de transporte que, na viabilidade, se sabia duvidoso do ponto de vista financeiro, tudo se fez.
Em nome desta ilusão mirífica, a Baixa da cidade, como andorinha num beiral, tem estado suspensa à espera de quem prometeu vir mas não aparece. Por causa deste projecto foi adiada a construção de um grande empreendimento, com cinemas, para o espaço da antiga Triunfo. Alguns particulares, em contrário, à espera do metro, fizeram apostas empresariais que hoje, pelos vistos, saíram furadas e lhes irão custar a alma cortada em fanicos.
Para terminar este folhetim de mau gosto –se é que alguma vez teria começado seriamente-, em Janeiro último, começaram a arrancar os carris de uma linha centenária, que ligava a linha do Norte até à Lousã. Por este facto foram transferidos dezenas de funcionários da CP –material circulante- e da REFER –carris, linhas e apoio- para vários pontos do país.
Para substituir o transporte ferroviário foram colocados autocarros a ligarem Coimbra até à Lousã. Para além de ser uma alternativa muito mais cansativa para os passageiros, pelas curvas e contracurvas da estrada da Beira, este transporte fica muito mais caro do que o comboio. Quem pagará o remanescente? Naturalmente nós todos, através do erário público.
Há semanas o Governo anunciou que não sabe se há verbas para começar, recomeçar, continuar, concluir, este projecto falhado.
A pergunta que mais nos aflora é: “ será o Estado uma entidade séria?”. Que exemplo pode ser prestado aos cidadãos quando assistimos a uma coisa destas? E aqui, para o caso não importa se estávamos a favor ou contra este meio de transporte. O que interessa é que os governos, enquanto braços executivos de um Estado, não podem brincar assim com a vida dos seus cidadãos. É demasiado sério para se poder pensar que alguma vez poderia acontecer um desaire destes.
E agora, que faz a cidade para reagir contra esta afronta? Pouco, muito pouco. Tudo se limita a cerca de 8000 assinaturas numa petição pública que amanhã será entregue na Assembleia da República para permitir o debate parlamentar. E consegiu-se este número de assinaturas porque o Diário de Coimbra (DC), pegando na ideia de um cidadão de nome Bruno Ferreira, chamando o problema a si, colocou três funcionários na rua a recolherem nomes, e todos os dias, no jornal, malhou forte e feio nos resquícios de cidadania que devem existir dentro de cada um de nós. Se assim não fosse, aposto, seriam pouco mais do que centenas a subscreverem o protesto.
Porque é que esta cidade é assim, interrogamos todos? Eu sei lá! É no mínimo esquisita. As pessoas, como se tivessem rabos-de-palha, como se fugissem de fantasmas, não se querem envolver –eu não fiz muito, limitei-me a entregar uma folha com assinaturas que tinha recebido encastrada no jornal de assinatura. Pois, acreditem, algumas pessoas a quem rogava o nome verbalizaram que não assinavam. É certo que lá terão as suas razões e até serão livres para o não fazer, mas, nesta recusa, há algo que transcende a minha compreensão.
Outra interrogação: havendo vários jornais da cidade, porque razão só o DC se interessou por esta questão de cidadania? Se houvesse um pingo de bairrismo nos directores destes meios de informação não deveriam ter-se associado a este movimento? Porque não o fizeram? A meu ver, são as guerrinhas de inveja que existem entre eles e que os impede de verem mais do que um centímetro para além das suas redacções.
Mais ainda: porque razão todas as instituições de carácter associativo/cultural/empresarial da cidade não se manifestaram até agora contra esta ignomínia que a cidade está a passar? Não deveriam tomar uma posição pública em nome da urbe que lhes enche o regaço com medalhas no dia da cidade? No meu entender, não tomam porque têm rabos-de-palha, são subsidio-dependentes, e sobretudo, porque à sua frente, a gerir os seus destinos, têm gente -que nem para burros de carga servem- sem coragem, sem brio nem capacidade para ocupar os lugares que desempenham.
Mais ainda: porque razão a classe política com assento parlamentar na assembleia municipal, perante um ultraje destes, não colocam de fora as suas diferenças e se envolvem todos, dando as mãos, contra este lesa-património da cidade? A meu ver, porque estão mais interessados em aparecer individualmente, captando votos, do que lutar pelos interesses comuns da polis. O que fazem é olhar para os movimentos uns dos outros, como se se vigiassem mutuamente.
E o executivo da cidade, perante este grave “escorreganço” do Governo, que ainda por cima é de cor partidária contrária, não deveria aproveitar para brilhar, capitalizando as simpatias da população, e convidando os cidadãos a mobilizarem-se de forma a aparecerem em bloco, como muralha, em defesa da honra vilipendiada? Porque se acomoda? Porque razão mal se ouve os lamentos do governo camarário local? A meu ver, porque, embora sejam da oposição, há demasiados interesses entrelaçados e envolvidos neste projecto falhado do metro. Se fizerem muitas ondas a conveniência pode entrar em choque e dar faísca.
Puta que pariu esta cidade! Ou melhor, quem faz parte dela. A cidade, objectivamente, não tem culpa!

3 comentários:

Anónimo disse...

Não podia estar mais de acordo,Luís!É tão revoltante a apatia e o conformismo de entidades,associações e cidadãos da cidade,que faz com que pessoas que amam a cidade tenham desabafos como o Luís.Quando o amigo acaba uma crónica de opinião com «puta que pariu a cidade»,algo vai mal.E não me parece que esteja senil.
De realçar que nem a ACIC nem a câmara ajudaram ou participaram na petição.Tanta pressa para fechar lojas e despejar comerciantes,empurrando-os para fora da baixa,para investimentos em grandes superficies,para estar tudo como á alguns anos atrás.Comerciantes houve que foram espoliados,é esta a palavra indicada.Tenho a impressão que nem daqui a 10 anos iremos andar de Metro.Por último,na altura vi o projecto para a antiga Triunfo e o teatro para a estação nova,e achei uma boa ideia e de bom gosto.
Marco

LUSITANO disse...

Caros
Amigos,
Há tantos anos, quantos aqueles que se tem falado no projecto do chamado "Metro do Mondego", que eu tenho contestado e combatido a ideia, errada, de um meio de transporte desse género para Coimbra.
Sendo um defensor do meio transporte ferroviário, não posso, em nome dessa defesa, de me deixar de insurgir contra um projecto que não tem pés nem cabeça.
Querer transformar uma linha regional com um número relativamente baixo de passageiros numa linha de Metro, só de gente, que, ou é interesseira, ou é louca.
Em primeiro lugar, o ramal da Lousã, salvo erro com pouco mais 40Kms., é uma linha secundária, sem grande viabilidade de crescimento, salvaguaradando apenas os primeiros 5 ou 6 kms fora de Coimbra, que alargaria a sua área suburbana, para além dessa zona, restariam mais de 30 kms sem viabilidade de rentabilizar esse empreendimento, logo, será, não um investimento, mas antes um poço de despesas.
Se compararmos com o Metro do Porto, abrangendo uma população, no mínimo, 5 a 6 vezes superior à população servida pelo (ex)futuro Metro do Mondego, vimos, mesmo assim, que essa empresa está tecnicamente falida, não fossem os dinheiros para lá colocados pelo Estado e hoje estaria encerrada, apesar disso, tem dívidas elevadíssimas.
Essa rede tem cerca de 70 kms, mais ou menos, Coimbra com a linha urbana projectada ficaria com perto de 50 Kms, qual o segredo para a rentabilizar então tão grande percurso para servir uma população tão modesta em número???
É pois, de assacar culpas àqueles que vos tem prometido o Céu e a Terra, se Coimbra já teve em tempos um serviço de eléctricos, que foi desmantelado porque segunda as desculpas da época, era ineficiente e pouco concorrencial, daí, te-se optado pelos trollei carros, que penso, também já estarem desactivados, como se podeia então passar para uma obra dessas???
Será, que os conimbricenses não tem capacidade de análise, para perceberem, que, com o país endividado como está, há muito que não tem capacidades para essas "brincadeiras"???
E não estejam preocupados com o TGV, que também irá pelo mesmo caminho.
Nós nem temos dinheiro para o Metro, nem para o meio-Metro nem se calhar, para o Centímetro!!!
Refilem e batam o pé a quem vos prometeu essas quimeras, isto, se tiverem estofo para tanto.
Cumprimentos.

LUSITANO

Jorge Neves disse...

Como diz um colega meu, o melhor e transformar a baixa num espelho de agua e transferi-la para a Solum