quinta-feira, 22 de julho de 2010

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)




Marco deixou um novo comentário na sua mensagem "PARA ONDE VAI COIMBRA?": 

 Podemos não gostar da forma que a jornalista se refere á nossa cidade (eu não gostei!), mas que tem toda a razão, lá isso tem!
A qualidade dos nossos artistas, companhias de teatro e produtoras é inquestionável. Então porque razão a nível nacional não se fala deles? Ninguém os conhece?
Lembro só uma companhia do interior, de uma vila pequena como Tondela, com iniciativas durante todo ano, que é reconhecida em todo país (merecidamente), refiro-me à ACERT. Tenho a certeza que Tondela tem menos população, menos capacidade financeira, uma C.M. mais pequena, menos comércio e indústria. Não tem uma universidade com centenas de anos, etc., etc., igual à cidade de Coimbra.
Pergunto: o que falha?
Marco.



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NOTA DO REDACTOR:









Obrigado Marco por ser um comentador tão assíduo dos disparates que escrevo aqui.
Passando este agradecimento, até porque o post em causa nem é meu, como se sabe é do jornal Público e foi colocado aqui sob uma boa sugestão sua.
Ultrapassando estas ressalvas, só para enriquecer (penso) o seu comentário tão incisivo, vou também escrever qualquer coisa sobre o assunto.
No meu entender, esta peça do “Ípsilon” traduz completamente a realidade. É evidente que há sempre, pelo menos, duas formas de ver as coisas, e isso terá sempre a ver com o estado de espírito de quem escreve. Se está bem disposto, optimista, poderá sair um trabalho divertido, a tocar o “para além da realidade” que se apreende. Se estiver ensimesmado, apreensivo, pessimista, pode perfeitamente sair uma escrita de enfoque pessimista, ou, se calhar, uma realidade vista “à vista de quem vê”, mas, sobretudo, sob o prisma comparativo de um olhar de quem já viu muito por essas paragens geográficas do país.
Pegando no longo texto do caderno do Público, a meu ver, está lá tudo –é evidente que se poderá sempre pôr a questão: “mas será que isto, o descrito na peça, não é demasiado negro?”. Pode ser, sim –poderia ser matizado de outras cores, mas isso seria se o jornalista estivesse interessado em misturar tons na paleta. Quanto a mim, ainda bem que é deste modo apresentada a cinzento. São estas realidades cruas que nos fazem pensar e evitam que nos continuemos a sentir na utopia ou num estado psicológico a raiar o esquizofrénico. Citando Abílio Hernandes na crónica, “como o fidalgo que não vê a decadência em que mergulhou”.
Como se titula na peça, e muito bem apanhado, “Coimbra é uma cidade que não sabe para onde vai -e que consequentemente não vai a lado nenhum”. Estou completamente de acordo. Basta atentar nos logótipos que emolduraram e classificaram a cidade na entrada da auto-estrada IC1 nos últimos anos: “Cidade Museu”, “Cidade do Conhecimento”, “Cidade da Saúde”. Andou sempre a mudar. Ora este comportamento, de continuamente andar à procura da sua identidade, é próprio de uma comunidade que não se aceita como é. Como disse em cima, toca a esquizofrenia, na mudança contínua de personalidade. Basta olharmos para dentro da própria cidade. O que vemos? Dois movimentos antagónicos. Por um lado, constatamos a sua face parada, de anacronismo, de casco histórico completamente decrépito, abandonado e mal aproveitado na sua relação directa comunidade social/turismo. Por outro, vemos há décadas uma fúria a raiar a desconstrução para construir de novo. Começou talvez na época de 1940, com a destruição da Velha Alta, ordenada por Salazar. A seguir, foi o “apagão” dos velhos eléctricos que tantos estavam ligados à história da cidade. Já depois da viragem do milénio, veja-se a desconstrução/construção do “Estádio Cidade de Coimbra”. Veja-se a demolição no centro da Baixa em nome do Metro –compare-se, por exemplo, no Centro Histórico, as fotos dos anúncios das lojas comerciais, com néons brilhantes de vida e de cor, de há vinte anos para a actualidade. Nesta preocupação desconstrutiva de formatar tudo, hoje, o que apreendemos nas ruas, e nos estabelecimentos, é uma tristeza negra, palpável a olho nu. Quando no estrangeiro se recupera a toda a força os néons, aqui destruíram-se todos.
 Há dias foi anunciado na imprensa que o executivo camarário se prepara para demolir a esplanada da Praça da República. Não é que, quanto a mim, fosse uma grande obra executada por Manuel Machado -anterior presidente da edilidade coimbrã-, no princípio de 1990. Mas, para o bem e para o mal, está lá. Ora, em nome de um estacionamento a construir na praça da República –no meu entendimento, mais que duvidoso, se tivermos em conta o projecto do Metro-, não se pode ir demolir, apenas porque apetece repor outra vez o trânsito a circular em redor da praça. E as pessoas que trabalham e lá ganham o seu pão? E a história da cidade? Ficará mais enriquecida com esta desconstrução? Duvido muito. Há aqui, na urbe, uma profunda falta de respeito por tudo o que se fez no passado. Quando outras cidades da Europa fazem tudo para manter o seu edificado, aqui, para além de não se ajudar a restaurar o existente, pior, ainda se derruba com o camartelo.
 Perguntou como estou hoje psicologicamente ao escrever este comentário? Bem obrigado. Estou assim, assim. Como quem diz, nem estou muito optimista nem pessimista. Talvez antes pelo contrário.

2 comentários:

Jorge Neves disse...

Coimbra não vai, levam-na, e pelos vistos por maus caminhos.

Sónia da Veiga disse...

Honestamente, acho que faz falta a Coimbra uma coisa muito importante: bairrismo!
Não o bairrismo cego a que todos associam a palavra, mas o "amor à cidade" próprio de quem a vive e não de quem vive à sombra da bananeira que são os estudantes e a universidade. Faz falta viver a cidade fora do ano lectivo, fora do roteiro dos estudantes, fora das Latadas, Queimas e afins.
Coimbra tem que ser bela na vivência, não só na despedida!!!