(FOTO DO DIÁRIO DE COIMBRA)
Olá, olá, então como vão os meus amigos, bem? Hum…essa tez morena…esteve ontem na praia, não foi? Talvez na Figueira da Foz? Mas, mesmo assim, apesar desse aspecto saudável, vejo nos seus olhos, sem brilho, está preocupado, não está? Desculpe lá, não tenho nada com isso, mas vendo esse olhar baço, que mais parece a pintura do meu popó, não posso evitar a interrogação. Deixe-me adivinhar…sente-se espezinhado…maltratado…é isso, não é? Você sente-se como um membro de uma qualquer casta inferior da Índia…é assim? UMA PESSOA SENTE-SE TRISTE E DESANIMADA…
A gente sente-se irritada. É uma raiva surda que nos queima por dentro. Sente-se parte de um problema que nos atrofia. Parece que é a nossa má sorte que está a contagiar isto tudo, não é? Bolas, nada dá certo nas últimas três décadas. Começou logo nas obras da ponte-açude. Aquilo foi um buraco negro do tamanho do Universo. Coitadinhos dos peixinhos, que desde 1980 nunca mais voltaram a ser os mesmos. Infelizes das lampreias, dos robalos e outros peixes que agora não lembro. Para piorar, agora andam a construir uma escada –chamam-lhe uma escada de peixe. Isto admite-se? Primeiro obrigam-nos a desovar em frente ao Choupal. Lá nasceram, lá envelheceram, e agora, sem qualquer respeito pela idade, obrigam-nos a passar uma escada? Isto está certo? Acho que não. Aproveitam-se da pouca união existente na classe piscícola para fazer pouco deles. Tivessem eles um sindicato e um líder como o Mário Nogueira, a ver se isto acontecia. E UMA PESSOA SENTE-SE TRISTE E DESANIMADA…
A seguir, foi a ponte Europa –vá lá…valha-nos Deus, viram logo que este nome era sinónimo de falência colectiva, e lá passaram para um nome de esperança: “Rainha Santa”. Mas bolas, só acertaram no nome. E um edifício não se pode ficar pelo baptismo. Aquilo foi um buraco financeiro do tamanho da boca do mundo…da Francelina, aquela rapariga que faz serviço Social, na Rua Adelino Veiga…não sei se estou a ser claro…se calhar não. E UMA PESSOA SENTE-SE TRISTE E DESANIMADA…
Depois foi o Pediátrico…o hospital lá em cima. Foi meter água até dizer chega. Começaram pelos lençóis, diziam que eram freáticos –não sei se eram ou não! A seguir veio a cama, parece que não estava bem feita. Claro que o povo, na sua sabedoria, avisava: “quem não faz boa cama…”. Mas a água continuava a inundar o futuro do futuro hospital das crianças, e, segundo rezam as más-línguas, aquilo vai continuar a ser inundado como um chuveiro esburacado. E UMA PESSOA SENTE-SE TRISTE E DESANIMADA…
Depois disto tentaram dar-nos um metro de superfície para nos entreter. Mandaram casas abaixo; mandaram ao chão sonhos erguidos de tantos nascidos naqueles casebres de memória; mandaram erguer os carris da linha da Lousã, prometeram-nos mundos e fundos, e agora, depois de toda esta novela ser filmada e pronta a ser passada no ecrã, mandam-nos abaixo o cinema e a esperança de alguma vez podermos visionar a fita. Que raio de realizadores são estes? E UMA PESSOA SENTE-SE TRISTE E DESANIMADA…
Há quatro dias descobriram que um pilar do IC2, cujo ferro armado deveria estar casado e feliz com a argamassa, seguindo o exemplo de quase todos os homens portugueses, tinha acabado de dar uns sopapos na ligadura. Estava infeliz e já não se ligava com o mesmo ardor de antigamente. É certo que o ferro lá permanece firme e hirto, mas a vontade de se embrulhar com o cimento é que já não é a mesma. Talvez seja a libido que anda um bocado em baixo, sei lá! Foi um escândalo na cidade. Eu seja ceguinho, se me lembra de uma coisa assim. Só para vos dar um exemplo bacoco como eu, e infeliz como o caraças –fartei-me de procurar outro, mas não encontrei-, foi o mesmo que se descobrir que a irmã Lúcia –peço muita desculpa, eu avisei- que ao fim de setenta anos no Carmelo, afinal não era tão santa quanto se supunha. Um escândalo na cidade. “Vejam bem o raio do pilar –se fosse feminino talvez não desse este alvoroço todo- a pôr os cornos à argamassa!”, diz o povo por aqui de boca-em-boca.
É lógico, perante uma escandaleira destas, o que fez a “Estradas de Portugal”? Antes que a coisa desse em orgia “pilática”, isto é, antes que os restantes pilares se envolvessem todos à uma e fé em deus, levantou a mão omnipotente, que manda mais que o presidente da autarquia, do governador Civil e do Governo, e disse: “alto e pára o baile!”. Como quem diz, aqui não passa mais ninguém. Na cidade mando eu! Se querem atravessar alguma coisa, passem por cima dos cornos do vosso pai. Isto sem ofensa, por amor de Deus! Não leve isto tão a peito, limito-me a escrever o que o grande “brother” das “Estradas de Portugal” deveria ter pensado…não sei…acho eu…sei lá!
A seguir, veio a REFER, que quando viu esta pouca vergonha, tudo a mamar uns nos outros –salvo seja-, dentro do seu incomensurável poder de omnipresença, levantou também um carril –já tinha muita experiência de meses na linha da Lousã- e, naquela voz de chiadeira, assim de ferro contra ferro, proclamou: “alto! Por aqui, perante esta rebaldaria, comboios para a Estação-Nova nunca mais. Vão a pé e é se quiserem. E não me chateiem muito, caso contrário, nem na Estação-Velha há paragem p'ra ninguém!”.
E é claro, um conimbricense simples como nós, assim um bocado para o “trouxa”, olha para isto, não diz nada, mas, exclamando bolas!, pensa para si mesmo que é preciso ter mesmo azar. UMA PESSOA SENTE-SE ABATIDA E DESANIMADA…
3 comentários:
Também me parece. É que são muitas coisas a correrem malzinho, não é? Pois é.
Ai está a resposta dos SMTUC:
http://campeaoprovincias.com/pt/index.php?option=com_content&view=article&id=8120:smtuc-alteram-percursos&catid=14:actualidade&Itemid=130
E TAMBEM PODE CONFERIR AQUI:
http://independentepelafregueia.blogspot.com/2010/07/smtuc-alteram-percursos.html
Pois é Paula, isto é Karma. Só pode ser mesmo. A cidade está amaldiçoada. Se ainda ao menos arranjássemos uma feiticeira boa que nos tirasse desta aflição, mas nada...
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