Pegando num comentário do Jorge Neves, começo por lhe agradecer ter remetido essa informação. É sempre um dado, uma peça, no tabuleiro deste complexo xadrez que é cidade.
A seguir, porque tenho uma ideia bem clara acerca dos resíduos sólidos da cidade, e, naturalmente, respeitando o seu ponto de vista e outros, aproveitando a sua participação, vou expô-la por itens:
1-cada vez mais deve responsabilizar-se quem produz resíduos, no caso aqui, urbanos, de cidade. Contrariamente à filosofia aplicada há décadas, é o “fazedor” de lixo que deve cuidar dos seus próprios excedentes e não os serviços concessionados à autarquia. Ou seja, o princípio está completamente errado. Colectivamente, como se sabe que virão recolher os detritos, os particulares não cuidam de produzir o menos possível. Antes pelo contrário, assente numa quase gratuitidade, produzem cada vez mais. Tal como noutros serviços, o princípio do pagamento através da proporcionalidade deveria ser implementado. Mais à frente explicarei em que consiste;
2-Segundo sei, há coimas para quem abandonar refugos fora de horas, regulamentadas em posturas municipais. O que acontece é que as multas apenas serão aplicadas se se denunciar o autor material do facto, o que muitas vezes se torna quase impossível. Isto é, não faz sentido o denunciante, ao mesmo tempo, fazer papel de investigador. E isto porquê? Porque no acto de despejar lixo na rua fora de horas releva e viola pelo menos dois interesses comuns: o respeito do lesado, onde o lixo lhe é despejado à porta, que vê o seu espaço saudável invadido, e o interesse Colectivo, a cidade, que se vê conspurcada e, nesta mensagem de sujeira que passa para o exterior, afecta todos –há outros conflituantes que não vou enunciá-los. Como disse, são comuns mas hierarquicamente diferentes. Ora, harmonizando os dois, é evidente que o que se deve elevar é o interesse da cidade. E é a favor deste que as autoridades devem actuar;
3- A autarquia de Coimbra, de facto, nunca se preocupou com esta situação. Sempre que há queixas de munícipes, indicando o autor, lá segue a coima, que salvo erro serão 30 euros. Ora o que é urgentemente necessário é sensibilizar todos os cidadãos para não abandonarem detritos na via pública. Mais: começar a aplicar multas através de um serviço de fiscalização da Polícia Municipal (PM). Quem não cumprir leva!
4- É preciso instruir a PM para durante o dia começar a admoestar –numa primeira fase- quem cuspir para o chão, lançar papéis e abandonar as “piriscas” de cigarro. Pode até pensar-se que isto é um excesso de zelo. Pode sim senhor. Mas, quanto a mim, tudo começa neste simples gesto de lançar a beata para o chão. É aqui, neste pensamento, que começa o ADN do problema: “eu posso lançar lixo para o chão, porque alguém virá, depois de mim, limpar. Eu sou um munícipe com DIREITO (de mandar o cigarro para o chão) e o outro, o funcionário da ERSUC, tem OBRIGAÇÃO de limpar o que eu sujo. Talvez, nesta classificação abrutalhada explique muito esta nossa sociedade profundamente hierarquizada e assente em pedestais, altares, plintos, peanhas e outras coisas mais –basta lembrarmo-nos, há cerca de uma semana, do escarcéu que aconteceu em Castro Daire só porque o Ministério da Justiça queria baixar a secretária do Ministério Público para o mesmo nível dos advogados, e considerando ambos partes iguais, em paridade, no processo de defesa. Sobre ameaça de boicote em realizar lá julgamentos, por parte do procurador-adjunto do Porto, o ministro da Justiça foi obrigado a recuar. Este caso é um bom paradigma da sociedade portuguesa, assente em verticais hierarquias –contrariamente à horizontalidade que se julga procurar- e que nos deveria fazer pensar;
6-Gostaria de lembrar que em 1980, quando Ramalho Eanes foi à China, um dos jornalistas portugueses, inserido na comitiva, às tantas, lançou uma “pirisca” para o chão. Pois foi obrigado, sob coacção, por um polícia chinês, que se apercebeu, a curvar-se e a apanhá-la. Este dado curioso está documentado na imprensa portuguesa da época;
7-Nos tempos que correm, de poupança de recursos acelerada, não faz sentido haver recolha de lixo todos os dias na cidade. Dever-se-ia começar por fazer três dias por semana e a médio-prazo, unicamente, dois dias. Quem precisasse de recolha excepcional, fora desta volta anunciada, teria de pagar. É aqui que mostro o princípio do pagamento através da proporcionalidade. Só assim se conseguirá conter esta praga de dejectos em que todos estamos mergulhados. E pior: é esta contribuição proactiva que resulta na irresponsabilidade social, por um lado, e no produzir cada vez mais restos, por outro –discriminando negativamente quem poucos resíduos faz e é cuidadoso com o meio-ambiente.
8- Acredito piamente que num futuro próximo cada um de nós será responsável pelos lixos que produzir. Serão criados desintegradores domésticos para as pequenas sobras domésticas. Provavelmente, daqui a cinco décadas, os nossos descendentes irão rir-se quando lhes contarem que havia nas cidades pessoas a varrerem as ruas e a apanharem os despejos produzidos por cada um.
P.S. -SE AINDA LHE RESTAREM FORÇAS LEIA AQUI.
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