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Ora então, ora então…como é que vão esses ossos?...Já sei, vai reclamar que está um calor do “caraças”! Não me venha cá com pungidos lamurientos. Que diabo, há pouco mais de um mês, lamentava-se você, era a chuva, essa maldita “molha-tolos” que não o largava. Há mais tempo para trás, contava-me, que estava um frio que se entranhava nos ossos e não se aguentava. Fosca-se! Por amor da santa, tenha dó! O que é que você quer que Deus faça? Porra, se está frio porque assim, se chove, não se aguenta, se está calor, porque uma pessoa esturra. Pela alminha do seu gatinho, tenha compreensão pela vontade do Criador. Ora ponha-se lá no lugar dele…ponha, ponha! Ai não quer? Não aguentava a pressão…ah, pois! Por isso é que Ele distribuiu as pastas por vários representantes humanos santificados. Mas nem assim há milagre que o contente a si, alma de Deus!
Você passa a vida a “rabugentar”. “Fónix”! Há duas semanas era o PEC e os impostos. A semana passada era o desaire da Selecção Nacional. Esta semana é a canícula. E para a semana? Às tantas, já estou a ver, a sua preocupação futura vai ser o filho do Ronaldo e a investigação da paternidade, se o puto foi feito de uma “berlaitada” tradicional ou se foi em laboratório. É isso, não é? Dai-me paciência de santo para aturar as suas neuroses neurasténicas. Você só anda bem a escarafunchar no lodo social, alma penada. Você já viu que utiliza as notícias como instrumento sedativo? Já pensou nisso? Ai não! Pois eu vi logo! Você faz que pensa mas não pensa! Você engole tudo o que lhe pedem para ingerir. Você já cismou que pode estar a ser usado como marioneta neste teatro nacional? Homem, não faça essa cara! É verdade. A nossa vida é um imenso teatro, onde todos representamos. Claro que, como noutras fitas, existem os artistas principais, que são aqueles que ocupam os melhores lugares –assim como, por exemplo, políticos, directores gerais da administração, gestores-, depois existem os ajudantes destes artistas –sei lá, os secretários, os assessores-, depois os duplos, está a ver quem são? Isso, isso mesmo, são aqueles que fazem os trabalhos mais sujos e, normalmente, passam a autoria para cima de outros. Para além disso ainda há aqueles que são uns “purretas”, que não têm onde caírem mortos, mas fazem-se muito importantes. Normalmente esta cena é muito distribuída e também muito assumida nas peças. É claro que existem sempre tantos papéis consoante a vontade do encenador, mas o que lhe assenta tão bem, como chapéu em cabeça de vento, é o de miserável. Não sei se está a ver aquela personagem do “Deus lhe Pague, da Juraci Camargo, que, embora não tenha necessidade, está à porta de uma igreja sempre a lamuriar e a pedir uma moeda. Claro que bem no fundo goza com a situação, isso eu sei. É assim um duplo papel de defesa: “não me venham cobrar nada, porque eu, que também sou colega de pedincha, estou mais teso que vocês!”. Claro que eu e você sabemos que não é assim. Mas é segredo nosso. Ninguém tem nada a ver com isso!
E há também um papel muito bem desempenhado e muito reconhecido socialmente que é o de “velho do Restelo”, aquele que diz mal de tudo, não acredita em ninguém…está ver não está? Claro que está…e bem!
E aquele da carpideira…que chora por tudo e por nada? Um bom papel. Para o desempenhar é preciso, para além de se ser um bom actor, possuir muita lágrima de crocodilo…não sei se está ver? Portugal, apesar de ser uma selva, não tem aligatores.
E depois, na grande imensidão deste palco, há as máscaras. São aos milhões. Está a ver? São aqueles que, tendo a alma a derreter-se em solidão e tristeza, envergam um sorriso de circunstância. Há também os “ó tempo volta para trás”. Não está ver? São aquelas eternamente meninas que para contrariar a lei da gravidade, teimam em manter as mamas sempre a olhar em frente, quando, coitadinhas das ditas, só querem mesmo olhar para o chão.
Claro que há outros actores, mas fico-me por aqui…
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