quinta-feira, 24 de agosto de 2017

BAIXA: MEDIDAS DESPENALIZADORAS E A FAVOR DA REVITALIZAÇÃO (9)

(Fotos de arquivo)




Tendo em conta a continuada situação de empobrecimento e desalento que as actividades comerciais tradicionais da Baixa de Coimbra atravessam, diariamente e até às próximas eleições autárquicas de 01 de Outubro, vou sugerindo medidas que, se houvesse vontade política, poderiam servir para atenuar a queda e o encerramento de mais espaços mercantis.
Estou a escrever p'ro boneco? É o mais certo!


Aplicar de uma vez por todas o Regulamento Municipal sobre a Venda Ambulante


Se não houvesse tantos outros exemplos pelo país fora, a venda ambulante na Baixa de Coimbra poderia ser considerada o paradigma de um Estado falhado na falta de respeito para com os cidadãos por falta de aplicação de normas sociais aprovadas e que conduzem à sã convivência e desenvolvem a paz social. Num arrastar no tempo, com alterações regulamentares numa espécie de baralhar e dar de novo para tudo continuar igual, se não fosse trágico e insultuoso para quem trabalha nesta actividade por necessidade de sobrevivência, dava vontade de rir a bandeiras desfraldadas.
Mas avancemos para explicar melhor:

UM POUCO DE HISTÓRIA

Vamos recuar até ao final da década de 1990. Na Praça do Comércio, retirando o pintor Anildo Mota, que foi para outras paragens, hoje são sensivelmente os mesmos vendedores que por lá se mantêm. Já no antigo Bota-abaixo –área degradada que servia essencialmente para paragem de veículos que tinham por destino a Baixa- cerca de uma dezena de vendedores ciganos, agrupados em pequenas bancas decrépitas e miseráveis, faziam ali o seu negócio. Em 1998, Manuel Machado, então presidente da Câmara Municipal de Coimbra, em hasta pública, alienou parte do espaço à firma Bragaparques por, salvo erro, cerca de um milhão de contos. Com grande celeuma, a transacção realizou-se e nos nos dias que decorrem, naquele local, nos pisos inferiores e superiores, estão implantados um grande parque de estacionamento e a Loja do Cidadão.

UM CHUTO NOS CIGANOS

Em face da venda do terreno para a empresa de Braga, por volta de 2000, os vendedores ciganos que estavam licenciados foram colocados no Largo da Maracha, a cerca de meia centena de metros do antigo poiso e junto aos estabelecimentos de comércio. A sua instalação era tão desadequada e sem dignidade para todos que, pela anarquia e afronta, motivou várias queixas na autarquia por parte de comerciantes. Em 2001, nas eleições autárquicas, Manuel Machado, do PS, perdeu a autarquia para Carlos Encarnação, do PSD –este ganhou a edilidade em coligação com outros partidos e fazia parte do seu programa regular a venda ambulante. Encarnação tinha por vice-presidente Pina Prata, que à altura era, “ex-aequo”, também presidente da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra. Com declarações do então homem forte da ACIC assim “é agora que vamos acabar com este cancro que nos envergonha a todos”, por volta de 2003 foi apresentado um novo Regulamento para a Venda Ambulante. De certo modo era uma medida avulsa que, unicamente, tinha por objecto agradar aos comerciantes das lojas que não viam com bons olhos a venda bruta no Largo da Maracha. O prescrito era tão tão inovador, tão vanguardista, que, por exemplo, estabelecia que nenhum vendeiro sem poiso certo poderia estar a oferecer os seus produtos a menos de cinquenta metros de uma loja instalada e a cem de uma igreja. A intenção era claramente mandar os vendedores ciganos para o fundo do Parque Manuel Braga. Como é óbvio este absurdo teve a total oposição dos ditos. Mais uma vez para remediar com retalhos das vidas destas pessoas, com o argumento de se calcetar a Rua da Louça e o Largo da Maracha, “empurraram-se” para o espaço apertado junto ao antigo Armazém Amizade, na esperança de que, como aquele canto era junto dos contentores de lixo e mal-cheiroso, acabassem por desaparecer. Mas o tiro saiu pela culatra a quem o disparou. Estes vendedores, que em analogia são como os gatos e têm mais de sete vidas, de um recanto desprezado, com o pregão “é só cinco euros, menina! Compre! Compre!” acabaram por marcar a sua fronteira e revitalizar toda a área envolvente. E por lá se mantêm ainda hoje.

PROMESSAS E MAIS PROMESSAS AO QUILO

Sem nunca ser implementado o Regulamento para a Venda ambulante, a longo de doze anos de vigência social-democrata, volta e meia, lá vinha anunciado nos jornais de que desta vez é que era, ou seja, finalmente a venda ambulante iria ser novamente regulamentada e cumprida. Em Novembro de 2008, o Diário as Beiras anunciava em título: "PSP e (autarquia) põem ordem na venda ambulante do Bota-abaixo”. Enquanto os comerciantes instalados sorriam destes avanços para inglês ver, os visados pelas medidas encolhiam os ombros.
Neste meio tempo, numa insensibilidade sem limites, a violar os princípios da segurança e a desenvolver o vínculo precário, os vendedores da Praça do Comércio estão desde 2003 a revalidar as suas licenças de três em três meses. Será este relacionamento, entre edilidade e um qualquer licenciado, sério e admissível? Antes das eleições, em Outubro de 2012, pelo executivo liderado por Barbosa de Melo, da Coligação por Coimbra, foi anunciado que iriam ser instalados novos quiosques na Praça do Comércio. Até hoje tudo continua na mesma como a lesma. Do novo projecto nada de novo.

O PS É DIFERENTE... MAS IGUALZINHO

Em 22 de Junho de 2015, no executivo camarário, foi analisado um novo Regulamento Municipal das Feiras, Venda Ambulante e da Restauração ou Bebidas Não Sedentárias. Já passaram dois anos e, para não variar, tudo continua igualzinho.
É agora, depois das eleições em Outubro, que se vai acabar com esta vergonha que escandaliza e contribui para a degradação da Baixa?
Pode ser que sim! Talvez com a ajuda da padroeira da cidade, a Rainha Santa Isabel, e coadjuvada pelos Pastorinhos. Sem grande fé, como quer Santa Isabel, quer os santos Pastorinhos precisam de mostrar serviço, pode ser que a coisa avance. Vamos aguardar.


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