Esta
madrugada, a hora indeterminada, deflagrou um grande incêndio no
prédio do antigo Armazém Amizade, frente para o Largo das Olarias
(junto à Loja do Cidadão) e lateral para a Rua da Moeda. Felizmente, o acidente ou incidente, já que ainda não se apuraram as causas, não provocou feridos. Com o
interior completamente destruído, a construção ficou apenas
reduzidas às paredes estruturais.
Durante
mais de trinta anos e até final de 1990, o edifício, composto por
rés-do-chão, primeiro-andar e sótão, esteve consignado à venda de artigos plásticos, brinquedos,
bijutarias, louças e outros produtos para o lar. Por esta altura de
2000 a empresa entrou em insolvência e o edifício, ficando
abandonado, sem electricidade, veio a ser ocupado como arrecadação pelos
vendedores de etnia cigana. Era ali que eram guardadas as roupas e
artigos de sapataria vendidos diariamente no terreiro em frente ao
imóvel abandonado. No último 04 de Julho, Dia da Cidade, num baralhar e dar de novo para tudo ficar igual, para não variar, com a
justificação do decurso das obras da futura Avenida Central, a
Câmara Municipal, mais uma vez, e condenando a esperança perdida destas pessoas, “chutou” os vendedores
ambulantes para o Largo da Maracha, a meia centena de metros. A
edificação do antigo Armazém Amizade continuou a servir de espaço
de apoio.
“FOGO
POSTO”, DISSE ELA
Cerca
das 11h00, já em fase de rescaldo e com o tempo de chuva amiudada a
ajudar a normalizar as coisas, com alguns carros de contra-incêndios
e muitos bombeiros à volta, uma das comerciantes ciganas, sozinha,
a sofrer em silêncio e com as lágrimas a escorrer pelo rosto bem
tratado, olhava as colunas de fumo que se elevavam para o céu e
mostravam cruamente o desastre que se abateu na sua prole. Com uma
frase, os meus sinceros lamentos, vizinha, pela
tragédia que caiu sobre o vosso negócio, procurei contemporizar
e estabelecer uma pequena conversa. Como se precisasse de desabafar,
retorquiu: “Foi fogo posto! Embora tenhamos aí algumas pessoas
que ajudam a arrumar a tenda todos os dias, só nós, os vendedores,
é que tínhamos a chave de ingresso ao armazém. Tanto é assim que
os bombeiros encontraram o cadeado fechado. Porque fizeram isto?
Andam sempre a criar conflito connosco como se fôssemos
invasores. Nós ocupávamos o depósito com permissão da senhora, a
proprietária, e, porque já estava estabelecido, até
íamos sair daqui proximamente. Para além disso, para vendermos na
rua pagamos. Ainda agora recebi uma comunicação da autarquia para
pagar 55 euros. Houve colegas que perderam tudo! Por que nos fizeram
isto, senhor? Deus é grande e vai castigar quem reduziu a pó o
nosso ganha-pão diário.”
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