sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

BAIXA: FALECEU A MINHA VIZINHA ELSA





Durante os últimos anos, entre uma troca de cumprimentos diários e uma conversa curta a narrar coisas da vida, foi uma confinante presente a dar substância ao meu largo. Afinal, sem indivíduos, para que servem os lugares que têm por objecto serem habitados? Como se as comunidades fossem jardins, o povo, no seu encanto natural, são as flores silvestres que, na sua diversidade, conferem uma panóplia de cor, de cheiro e de animação. Tal como as plantas, no imenso mistério que a natureza carrega ao não se prever o derradeiro, as pessoas nascem, crescem e morrem. E foi o que aconteceu com a minha convizinha Elsa Maria Ribeiro Fernandes. Com apenas 57 anos, depois de um breve período em doença prolongada, foi chamada a prestar contas. Hoje, depois das cerimónias fúnebres às 15h30, será sepultada no Cemitério de São Martinho do Bispo.
A nossa proximidade estreitou-se quando, em Agosto de 2016, sem o querer, acabei por ser parte integrante num incidente grave, entre vizinhos, que envolveu um seu filho e quase o mandou também para o outro lado. Felizmente, tudo correu pelo melhor.
Embora eu percebesse o definhamento físico da Elsa, por vezes, ela aparentava não se dar conta e parecia querer prolongar a sua existência o mais possível. Quando lhe perguntava como se sentia, respondia-me que “melhorzita, graças a Deus, senhor Luís!”. Uma ou outra vez, em recortes de catarse existencial, talvez mais sorumbática e a adivinhar que o comando da sua vida não estava nas suas mãos, respondia: “quando partir, levo no coração os meus filhos! Em balanço interior, muito próprio de nós mais velhos, estabelecemos sempre um conflito moral e interrogamos: será que fizemos tudo o que devia-mos? Mas, se não fizemos, os nossos filhos também têm obrigação de nos perdoar, não acha, senhor Luís? Amanhã também serão pais, não é assim?"
Em meu nome pessoal e em nome de toda a vizinhança, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames a toda a família da Elsa. Descanse em paz, vizinha!

1 comentário:

Helena disse...

Pois é verdade.... nos últimos 7 anos a Elsa foi... foi uma companhia diária!
Assisti ao degradar da sua condição física de à 2 anos para cá.... desde o primeiro sinal... o primeiro sintoma da doença! Assisti às suas alegrias e às suas tristezas diárias! Assisti ao seu esforço descomunal para se manter "à tona"! Olhava para ela diariamente e perguntava: "Então, Elsa? Como estás?" e eu mesma respondia: "Estou a ver: nem bem nem mal.... Uma me***!" Ela olhava me, com um sorriso triste e respondia: "É isso mesmo... Uma m****!"!
Jamais esquecerei a última vez que a vi e as suas últimas palavras, quando lhe disse mais uma das minhas babuseiras e ela com um sorriso, que desta vez adivinhava ser o seu último sorriso, balbuciou: "Só a Leninha, para me fazer rir!"!
Vou guardar apenas os nossos bons momentos! Os nossos passeios! As nossas atividades! Os nossos sorrisos cumplices! Até um dia, Elsa!