Ontem,
incorporado no Jornal das 8, sob assinatura de Ana Leal, a TVI passou
duas reportagens que, de grosso modo, podiam representar o bem e o
mal em matéria de independência e responsabilidade televisiva
perante os telespectadores.
Num
maniqueísmo político
saliente, com
a bondade
a
poder
ser representada no espírito da
peça sobre a Câmara Municipal de Loures, de presidência comunista,
e onde se mostrou, com provas, que o genro de Jerónimo de Sousa,
secretário-geral do Partido Comunista Português, fez ajustes
directos com aquela autarquia. Com a possibilidade do contraditório
poder ser exercido por parte dos intervenientes, nenhum deles fez do
seu exercício um direito. Por isto mesmo, nada a apontar ao canal de
Queluz de Baixo.
Já
no que toca ao lado material representado pelo perverso e mau,
pode-se trazer
à colação a segunda reportagem sobre a sinistra personagem Manuel
Maria Carrilho, ex-ministro do magistério de António Guterres, em
finais dos anos de 1990.
Na
minha modesta
opinião,
ontem pela segunda vez, assistiu-se ao pior que um canal de difusão
pública pode emitir em horário nobre. Seja um desmiolado
bandido e crápula sentenciado e condenado ou o mais nobel cidadão
sem qualquer processo judicial a decorrer contra si, em tempo algum,
qualquer
órgão de comunicação social, escrito ou falado, tem o direito de
exibir imagens como as que foram mostradas acerca de Carrilho.
Os
fins, que era mostrar que os juízes, ao não considerarem os
herdeiros
do
ex-político como vítimas de violência doméstica,
não julgaram bem, não
podem justificar os meios. Até porque, se a intenção do programa
era que
a
desproteção
das crianças continua
a ser óbvia, com as imagens repetidas até à exaustão, os filhos
do casal Manuel Carrilho-Bárbara Guimarães, depois de ontem ficaram
ainda mais fragilizadas.
Por
outro lado, sabendo-se que Carrilho fora já condenado a quatro anos
de pena suspensa e já transitara em julgado, a TVI ao
mostrar imagens desse
processo judicial, e apresentar o ex-ministro da cultura como vilão,
arvorando-se em tribunal popular, está a incriminá-lo segunda vez pela mesma matéria de facto.
Tendo em conta que ninguém pode ser julgado mais do que uma vez pelo
mesmo crime, com este absurdo, estamos perante um incidente lesivo de
humanidade a que, pela ética e moral, estamos todos obrigados.
Por
outro lado ainda, foi dito na peça que um dos julgamentos - mais
um -
foi anulado e vai ser
repetido. Logo, levando em conta a proximidade do pleito, com este
mau trabalho jornalístico, a TVI está a influenciar todos, o
público em geral, o Ministério Público e os juízes que irão
avaliar os factos na barra.
Por
outro lado ainda mais, sabendo-se
que vai ter consequências e originar mais um processo, não
fez qualquer sentido – a não ser enterrar ainda mais o verdugo –
mostrar
uma participação feita na PSP pelo filho mais velho contra o pai.
Se
estes argumentos que apresento não convencem, no mínimo, era bom
que o canal privado entendesse que não se bate em quem está no chão.
O
que
é que se passa consigo, competente
e séria Ana
Leal? Perdeu a cabeça? Em nome de um populismo justiceiro, bacoco e
anacrónico, onde
a manipulação espreita a cada imagem, quer
destruir a toda a força a relação de confiança, equilibrada
e harmoniosa, existente entre o
público e a reportagem de investigação das televisões?
Se
permite, sem lhe querer dar lições de ética e profissionalismo,
pense bem! Em nome de todos nós!
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