Ricardo
Fernandes Alves, o nosso vizinho que no dia 11 do corrente foi vítima
de esfaqueamento por parte de um morador do mesmo prédio onde
reside, no Largo da Freiria, na Baixa, teve alta hospitalar ontem à
noite e, felizmente, já calcorreia as pedras da calçada desta área
milenar.
Levemente
combalido, como é normal depois de uma convalescença hospitalar,
com as palavras a soltarem-se em turbilhão,
mostou-se muito agradecido a todos quanto, incluindo
os vizinhos, que se esforçaram para que o desenlace da tragédia
fosse o de menor custo, o Ricardo estava feliz por ter ultrapassado o
limbo, a terra de ninguém entre a vida e a morte, e enfatizou que
espera nunca mais passar por experiência igual. Nós também fazemos
votos para que tal não volte a acontecer.
E
O AGRESSOR, COMO É QUE ESTÁ?
Como
já tive ocasião de escrever, Carlos Leonel Gonçalves, o agressor,
está a aguardar o julgamento em prisão preventiva num
estabelecimento prisional numa cidade próxima de Coimbra.
Sem aparentemente denotar
arrependimento, continua a verberar o mesmo depoimento que levou ao
desfecho do incidente criminal. Embora sem estabelecer relação
causa-efeito, confirmou que, de facto, há muito tempo, não tomava
medicação para a esquizofrenia, patologia que sofre desde o final
da adolescência.
UMA
NAVALHA EM CADA ESQUINA?
Repetindo
o que escrevi na descrição da eminente tragédia, que quase foi
fatal ao jovem de vinte anos, Ricardo Alves, quer o agressor, que
reside no Largo da Freira há cerca de três anos, quer o agredido,
que mora no mesmo local há cerca de um ano, sempre foram pessoas
sociáveis, de respeito mútuo, e nunca denotaram aos
confinantes qualquer tensão existe entre ambos.
Sem, de modo nenhum,
querer desvalorizar a gravidade da “tentativa de homicídio”,
porque falei com a assistente social que acompanha Carlos Leonel sei
que este não tomava a medicação há muito tempo. Quando alertado
para o facto argumentava que “já estava bom e não precisava de
ingerir medicamentos que lhe davam cabo do estômago”,
confidenciou-me a técnica de serviço social.
Ora, tendo em conta a
consequência -apesar de tudo, felizmente, com mal menor- do caso
esporádico e pontual, em especulação, poderemos interrogar:
quantas pessoas, na mesma situação, isto é sem medicação
assistida, se arrastam pelo Centro Histórico? Sem pretender ser
alarmista, quem considerar estar a salvo de uma qualquer agressão gratuita pode, por vias de facto, não estar assim tão descansado.
Sabendo nós que a
maioria destas pessoas que recebem o RSI, Rendimento Social de
Inserção, são incapazes de se administrarem e logo no segundo dia,
depois de receberem o subsídio, já estão sem dinheiro, e juntando
o facto de estarem entregues a si mesmo na medicação (que deveriam
tomar e não tomam) não fará sentido ser criada a figura de um
tutor para os acompanhar? Embora se calcule o atrofiamento do
serviço, com demasiados utentes à sua responsabilidade, poderia
perfeitamente ser a assistente social que os acompanham.
A bem de um futuro que,
através da prevenção, se espera melhor, valerá a pena pensar
nisto?
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