terça-feira, 23 de agosto de 2016

“ANAVALHADO” NO LARGO DA FREIRIA JÁ TEVE ALTA HOSPITALAR






Ricardo Fernandes Alves, o nosso vizinho que no dia 11 do corrente foi vítima de esfaqueamento por parte de um morador do mesmo prédio onde reside, no Largo da Freiria, na Baixa, teve alta hospitalar ontem à noite e, felizmente, já calcorreia as pedras da calçada desta área milenar.
Levemente combalido, como é normal depois de uma convalescença hospitalar, com as palavras a soltarem-se em turbilhão, mostou-se muito agradecido a todos quanto, incluindo os vizinhos, que se esforçaram para que o desenlace da tragédia fosse o de menor custo, o Ricardo estava feliz por ter ultrapassado o limbo, a terra de ninguém entre a vida e a morte, e enfatizou que espera nunca mais passar por experiência igual. Nós também fazemos votos para que tal não volte a acontecer.

E O AGRESSOR, COMO É QUE ESTÁ?

Como já tive ocasião de escrever, Carlos Leonel Gonçalves, o agressor, está a aguardar o julgamento em prisão preventiva num estabelecimento prisional numa cidade próxima de Coimbra.
Sem aparentemente denotar arrependimento, continua a verberar o mesmo depoimento que levou ao desfecho do incidente criminal. Embora sem estabelecer relação causa-efeito, confirmou que, de facto, há muito tempo, não tomava medicação para a esquizofrenia, patologia que sofre desde o final da adolescência.

UMA NAVALHA EM CADA ESQUINA?

Repetindo o que escrevi na descrição da eminente tragédia, que quase foi fatal ao jovem de vinte anos, Ricardo Alves, quer o agressor, que reside no Largo da Freira há cerca de três anos, quer o agredido, que mora no mesmo local há cerca de um ano, sempre foram pessoas sociáveis, de respeito mútuo, e nunca denotaram aos confinantes qualquer tensão existe entre ambos.
Sem, de modo nenhum, querer desvalorizar a gravidade da “tentativa de homicídio”, porque falei com a assistente social que acompanha Carlos Leonel sei que este não tomava a medicação há muito tempo. Quando alertado para o facto argumentava que “já estava bom e não precisava de ingerir medicamentos que lhe davam cabo do estômago”, confidenciou-me a técnica de serviço social.
Ora, tendo em conta a consequência -apesar de tudo, felizmente, com mal menor- do caso esporádico e pontual, em especulação, poderemos interrogar: quantas pessoas, na mesma situação, isto é sem medicação assistida, se arrastam pelo Centro Histórico? Sem pretender ser alarmista, quem considerar estar a salvo de uma qualquer agressão gratuita pode, por vias de facto, não estar assim tão descansado.
Sabendo nós que a maioria destas pessoas que recebem o RSI, Rendimento Social de Inserção, são incapazes de se administrarem e logo no segundo dia, depois de receberem o subsídio, já estão sem dinheiro, e juntando o facto de estarem entregues a si mesmo na medicação (que deveriam tomar e não tomam) não fará sentido ser criada a figura de um tutor para os acompanhar? Embora se calcule o atrofiamento do serviço, com demasiados utentes à sua responsabilidade, poderia perfeitamente ser a assistente social que os acompanham.
A bem de um futuro que, através da prevenção, se espera melhor, valerá a pena pensar nisto?

Sem comentários: