quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A LENA, DO LARGO SARGENTO-MOR, FEZ ANOS





 As cidades são macro-cosmos no seu todo. De grosso modo e globalmente, vistas do céu serão uma mancha onde tudo, mesmo as partículas humanas em movimento, se encaixa fantasticamente. Habitualmente partimos do princípio de que este imbricamento é cada vez mais mecânico. Apregoamos, todos, um individualismo feroz e uma acentuada quebra de solidariedade para com o nosso confinante. Isto é, que cada um reage em função da sua estrita e premente necessidade. Se é certo que comportamento gera comportamento, e só cresce quem partilha, a verdade é que volta e meia somos surpreendidos por manifestações que nos fazem pensar e derrubam os estereótipos mais solidamente alicerçados em cimento e ferro de ideias feitas.
Atente no que vou contar. Ora veja lá se, perante o excepcional quadro de simpatia e boa vizinhança, não estamos em face de um acontecimento extraordinário?! Se enquanto humanos todos somos animais de imitação, quem escreve tem uma obrigação acrescida de divulgar factos isolados que levem outros a fazer o mesmo em mimética.
Como que por mistério divino, o Largo de Sargento-mor apareceu hoje, logo de manhã, todo engalanado com bandeirinhas multicolores. Ao meio-dia o Luís Cortez, o nosso cantautor e instrumentista de serviço diário na animação musical à Baixa, já com o órgão montado no tripé, atirava a primeira nota acompanhada com “Parabéns a você… (…) para a menina Lena uma salva de palmas!”. E a Helena Gomes, a “nossa Lena”, do estabelecimento com o mesmo nome, como é carinhosamente tratada, de lágrimas a saltarem dos seus lindos olhos negros, apanhada de surpresa neste colectivo lago de ternura, recebeu uma rosa das mãos de um dos seus compartes.
Naturalmente que o momento solene exigia umas declarações para o jornalista de ocasião. E a resposta à minha pergunta saiu assim: “sinto-me muito feliz, senhor Luís. Tenho um marido e dois filhos que são o meu tesouro. Pode parecer paradoxal, mas sinto-me confortada com esta crise. É nestes momentos que vemos despertar outros valores que estavam arrumados nas catacumbas do mental silêncio individualista. Muito obrigado! Bem-haja, bons vizinhos do meu coração!”

1 comentário:

Joana Gomes de Freitas disse...

Que linda surpresa fizeram à minha linda mãe :D!!

E que lindas palavras! Obrigada a todos*