segunda-feira, 13 de outubro de 2014

UM TEXTO QUE É OBRIGATÓRIO LER




(Texto repescado do Facebook e escrito por Fátima Santos, comerciante na Baixa de Coimbra –os subtítulos e o arranjo estilístico são, abusivamente, meus)


“UM POUCO SOBRE MIM

A quem se dignar perder alguns minutos neste texto escrito por mim, que visa única e exclusivamente consciencializar o público em geral, sendo que, aos meus olhos, se trata apenas de um desabafo.
Como alguns já sabem, abri uma loja (a meu ver) muito bonita onde a decoração foi muito cuidada e ao mais ínfimo pormenor e onde todos os detalhes foram elaborados, por mim, com muito carinho.
Trata-se de uma loja multimarcas com confecção e calçado de criança, conceito único na cidade de Coimbra, que apesar de arriscado e dispendioso pois em termos de stock requer uma grande existência, acreditei que tinha tudo para dar certo apesar da crise económica que estamos a atravessar.
Então ... falando um pouco de mim, nunca tive heranças comerciais sendo que o meu projecto começou de raiz –projecto este que já andava a aguardar pela altura certa.  Ao longo de 30 anos estive sempre ligada ao comércio/vendas. Decidi então, um dia, não continuar a acalentar um "SONHO ", pois os sonhos são simplesmente irreais e só existem no nosso subconsciente onde podemos dar largas à nossa imaginação. Não! Foi um desejo que, a meu ver, tinha viabilidade, pernas para andar, e atendendo ao desenrolar dos acontecimentos decidi que estava na altura certa para avançar.
Com ajudas monetárias, mais um pé-de-meia guardado religiosamente e apoios psicológicos por parte dos amigos em todos os entraves para a abertura do dito espaço, lá consegui realizar o meu desejo, a minha vontade e, com toda a força, acreditei que tinha chegado onde queria fazendo o que mais gostava.

O SONHO DEU À LUZ

O dia 1 de Novembro de 2013 foi um dos dias mais felizes da minha vida e, juntamente com a família e os amigos, registei aquela data como um dos marcos mais importante da minha existência.
Aproxima-se a data do 1.º aniversário da loja. O tempo desta efeméride deveria ser para mim um período de alegria, mas não. Não está a ser. Está a ser muito difícil! E o balanço que posso fazer é que todo o esforço foi em vão. A população não tem poder de compra; a desertificação das ruas da Baixa de Coimbra devido à falta de estacionamento, queixas frequentes dos clientes para justificar as idas aos centros comerciais, e a abertura de um portão da Estação do Caminho-de-ferro, ao lado do Mini Preço e que ocasionou que os passageiros deixassem de passar pela entrada principal da Estação Nova de Coimbra, originando assim a morte de quase todos os comerciantes da R. Adelino Veiga. Esta, parece uma rua fantasma e consequentemente e a passos largos as restantes artérias e largos como da Praça do Comércio e em direcção à Rua Eduardo Coelho. Sei que já lá vão uns anos, mas é sempre bom falar que, na minha opinião, terem fechado o trânsito na Rua Visconde da Luz também contribuiu para a desertificação na Baixa.
E, para agravar todo este panorama, não poderia deixar de referir o facto de todas as entidades responsáveis pela organização de eventos, incompreensivelmente, estes sejam só realizados na R. FERREIRA BORGES. Apelam aos comerciantes: NOITES BRANCAS, HORÁRIO ALARGADO, MONTRAS TEMÁTICAS, ILUMINAÇÃO PÓS-LABORAL. Mas, afinal, tudo isto traz benefícios a quem???

UM NOVO SARCÓFAGO PARA A BAIXA

Brevemente irá abrir um espaço de grandes dimensões na Baixa de Coimbra. Trará benefícios a alguém? Com toda a certeza que transportará prejuízo para alguns, como pequenas mercearias de rua, peixarias e talhos e etc., e beneficio? Vai trazer mais população para a Baixa? Será esta a solução? Pesando os prós e os contras, será que valerá a pena a morte de mais alguns pequenos empresários do comércio tradicional nesta zona velha? Estamos num mundo cada vez mais egocêntrico. Cada um por si e salve-se quem puder! A abertura deste espaço vai criar mais postos de trabalho, é bom! Em contrapartida vai constituir a sentença de morte de meia dúzia de negociantes da Baixa. Mas, é claro, isso não é relevante. São só números e fazem-nos crer que, em termos matemáticos, a criação de postos de trabalho é muito superior aos que vão ser aniquilados.

PARA ONDE CAMINHAMOS?

JÁ CHEGA! Estamos a morrer aos poucos. Perdemos o que investimos, perdemos o que temos, perdemos qualidade de vida, perdemos harmonia familiar, perdemos a possibilidade de dar o melhor aos nossos filhos, perdemos a paciência, a tolerância. Para aguentar a situação, durante o dia, para resistir, e durante noite, para dormir, andamos sob o efeito de comprimidos Xanax para nos esquecermos da luta do dia seguinte.
Chega a uma altura em que até equacionamos a hipótese de perder o pouco que já nos resta em prol de uma loja aberta, para clientes que preferem fazer as suas compras nos centros comerciais. Investimos em técnicas de marketing, cartões-cliente com vales desconto, reduções promocionais todas as semanas, mas, mas, o que se pode fazer mais? Já não adianta inovar. É um desalento.
A cada dia que nasce pensamos: “hoje vai ser diferente”. “Pensamento positivo”. Temos que afastar todas as cargas negativas que acumulamos no dia anterior. Mas porra, sejamos realistas. Andamos a enganar-nos, a nós próprios, iludidos e esperançados, dando e recebendo palavras de alento aos vizinhos quando, nós mesmos, necessitamos mais ainda. Somos mentirosos compulsivos, para nós e para os outros. Moribundos, zombies, à espera que chegue o Juízo Final. Entretanto finge-se que está tudo bem, ostenta-se o que não nos pertence e assim caminhamos para a sepultura que cavámos.
Os Elefantes Africanos também têm um sentido que quando chega a hora da morte dirigem-se todos para o mesmo local para morrer, o que os leva a fazê-lo não se sabe, é por instinto. Tal como eles, sabemos que o fim está próximo não há volta a dar, poderíamos travar essa " viagem sem retorno " mas, mesmo assim, insistimos em caminhar para lá como se esse fosse o único caminho.
A quem se dignou de ler o meu texto até ao fim desde já agradeço o tempo despendido. A quem tiver capacidade e autoridade para mudar o que está mal, de modo a revitalizar de novo a Baixa de Coimbra, que o faça rapidamente e antes que seja tarde de mais!”

Fátima Santos
(Comerciante estabelecida com a loja “Tico e Teco”, na Rua Eduardo Coelho, em Coimbra)

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